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Miguel Guilherme tem cá... "um bocadinho de receio" de comparações com António Silva

30 jul, 2015 • Cristina Nascimento

“O Pátio das Cantigas” em nova versão estreia esta quinta-feira. É o primeiro de três clássicos do cinema português que Leonel Vieira decidiu realizar. A Renascença falou com Miguel Guilherme, o actor que dá corpo, neste novo tempo, ao droguista Evaristo.

Miguel Guilherme tem cá... "um bocadinho de receio" de comparações com António Silva

Com novas caras e vozes, a cores e com uma roupagem moderna. “O Pátio das Cantigas” volta às salas de cinema, 73 anos depois. Este clássico do cinema português é o primeiro de três recuperados pelo realizador Leonel Vieira, cineasta que também rodou “Zona J” e “Ballet Rose”.

Depois de “O Pátio das Cantigas”, será a vez de “A Canção de Lisboa” e “O Leão da Estrela”.

No novo “O Pátio das Cantigas”, o droguista Evaristo, imortalizado por António Silva, na película original, é protagonizado pelo actor Miguel Guilherme, que, em entrevista à Renascença, confessa que nunca imaginara poder fazer um papel "em adaptações dos filmes que o António Silva fez". O actor confessa, até, sentir "um bocadinho de receio de as pessoas irem comparar" a sua interpretação de "Evaristo" com a do actor que celebrizou a personagem.

Elogiando os autores do guião, Miguel Guilherme defende que o novo "Pátio" não tem um público-alvo, porque é para todos. "Foi feito para quem o quiser ver", explica.

Vamos assistir a um "Pátio das Cantigas" igual ao original, mas a cores ou há uma forte adaptação aos dias de hoje?
Nem uma coisa nem outra. Acho melhor as pessoas verem o filme. Um “remake” no sentido igualzinho não é, não valeria a pena, só sairíamos a perder. Há uma espécie de adaptação do filme com um guião novo, adaptado aos dias de hoje, mas não carregamos nisso. O que é muito interessante no filme é a vida de bairro. Tanto no filme de 1942 como neste, nota-se muito a vida de um bairro popular ou, pelo menos, aquilo que se ficciona ou que nós temos como imaginação sobre o que é a vida de um bairro popular. É evidente que não é vida como ela é, mas é aquilo que nós imaginamos que possa ser.

O Miguel faz de Evaristo, personagem mítica da história do cinema português. Foi uma grande responsabilidade vestir esta pele?
Responsabilidade, propriamente, não. Quanto muito, o que eu posso é ter um bocadinho de receio de as pessoas irem comparar. Eu adorei fazer o papel, nunca tive medo de qualquer comparação, até porque gosto imenso de António Silva. Quando eu tinha oito anos, o António Silva e o Ribeirinho foram as pessoas que primeiro me fizeram rir em português. Lembro-me desses dias como se fosse hoje e nunca imaginei, como actor, poder fazer os papéis em adaptações dos filmes que o António Silva fez. A minha única preocupação foi ler o guião, para perceber se eram guiões dignos desse nome e, de facto, gostei imenso. Quero cumprimentar os escritores dos guiões porque, geralmente, são pessoas a quem ninguém liga muito, mas de facto, aquelas palavras e citações que nós dizemos são inventadas por pessoas e os três guiões são fantásticos, são muito engraçados.

Como foi o ambiente nas filmagens?
O ambiente não era todos os dias igual, mas há uma coisa que passa muito no filme, que é a boa onda com que todos nós filmámos. Não quer dizer que não houvesse dias com mais stress, outros com menos stress, em que não fossem postas questões, mas nós divertimo-nos e sempre a trabalhar para que as pessoas que vejam o filme achem que vale a pena vê-lo.

O filme foi feito a pensar em quem? Nos que conhecem o original ou nas audiências mais novas que, porventura, não conhecem esta fase do cinema português?
Nunca pensei muito sobre isso. Eu penso é em fazer o meu papel. Eu acho que é feito para toda a gente. Não há esse "target" tão elaborado ou tão cientifico. Acho que o filme foi feito para quem o quiser ir ver.