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Mil milhões de pessoas saíram da pobreza extrema

07 jul, 2015 • Liliana Monteiro

Objectivos do Milénio lançaram "o movimento antipobreza mais bem sucedido da história", diz relatório da ONU. Mas nem tudo foram progressos nos últimos 15 anos.

Mais de mil milhões de pessoas saíram da pobreza extrema desde o início do século XXI, avança o relatório das Nações Unidas sobre os objectivos de desenvolvimento para o Milénio.

O documento conclui que o mundo está perante “o movimento antipobreza mais bem sucedido da história”, mas ainda há muito caminho pela frente e os desafios são enormes.

Os oito objectivos traçados no ano 2000 foram desenvolvidos ao longo dos últimos 15 anos. 189 nações firmaram as metas, entre elas, o combate à extrema pobreza e às desigualdades de género.

1. Erradicar a pobreza extrema e a fome
Se em 1990 havia 1,9 mil milhões de pessoas em pobreza extrema, hoje em dia estamos a falar de um universo na casa dos 836 milhões, uma realidade que entrou em declínio acentuado nas ultimas duas décadas. Diminuiu o número de pessoas subnutridas nas regiões mais subdesenvolvidas do planeta e triplicou o número de pessoas a viver com mais de quatro euros por dia.

2. Ensino básico universal à educação
No início do século XXI, havia 100 milhões de crianças que não iam à escola. Em 2015 esse número foi reduzido para 57 milhões. Foi na África Subsariana que se alcançaram os melhores e maiores resultados nesta matéria. Nos últimos 15 anos aumentou em 20% o número de crianças em ambiente escolar. O nível de literacia entre os jovens dos 15 aos 24 anos aumentou em cerca de 91%, diminuindo também o fosso entre homens e mulheres.

3. A igualdade entre os sexos e a valorização das mulheres
Actualmente, há mais mulheres na escola, tanto no ensino primário, secundário ou superior. Se em 1990 existiam apenas 74 raparigas na escola primária por cada 100 rapazes, hoje existem 103 membros do sexo feminino por cada 100 do sexo masculino. A mulher alargou também o universo profissional. Hoje em dia desenvolve actividades pagas e noutros sectores que não apenas a agricultura. As mulheres ganharam também terreno nos parlamentos em 90% dos 174 países. Nos últimos 20 anos duplicou o número de mulheres na política. Mesmo assim, em cada cinco políticos apenas uma é mulher.

4. Diminuição da mortalidade infantil
O relatório da ONU regista uma quebra da mortalidade infantil. Se em 1990 ocorreram 12,7 milhões de mortes em crianças com menos de cinco anos, em 2015 os números rondam os seis milhões de vitimas. O aumento da vacinação contra o sarampo permitiu prevenir cerca de 16 milhões de mortes infantis, entre 2000 e 2013. Nesta altura, cerca de 84% das crianças um pouco por todo o mundo receberam pelo menos uma dose desta vacina.

5. Melhorar a saúde materna
Com os objectivos do Milénio cada vez mais mulheres têm acesso a assistência e tratamentos durante e depois da gravidez. A taxa de mortalidade das mães caiu para metade em todo o mundo. Actualmente, destaca o relatório, três em cada quatro partos são assistidos por profissionais de saúde especialistas na área.

6. Combate a doenças como a sida e malária
Os infectados com o vírus HIV no mundo caíram de 3,5 milhões de pessoas para 2,1 milhões. Há cerca de um ano, muitos milhões de infectados estavam a receber terapia anti-retroviral. Também o alargamento dos tratamentos e prevenção da malária e da tuberculose ajudaram à queda da mortalidade por causa destas doenças.

7. Acesso sustentável à água potável e ao saneamento básico
Um total de 91% da população global consegue ter acesso à água em 2015 e 2,1 mil milhões de habitantes têm acesso a melhores condições sanitárias. O número de pessoas a viver em bairros de lata caiu de 39 para 29% no último ano.

8. Garantir o desenvolvimento
No último ano a Dinamarca, Luxemburgo, Noruega, Suécia e Reino Unido continuavam no top das ajudas aos países subdesenvolvidos. Entre 2000 e 2014, as ajudas aumentaram de 73 mil milhões de euros para 121 mil milhões de euros. Em 2015, 95% da população mundial tem acesso a rede de telecomunicações. Os subscritores de números de telemóvel cresceram nos últimos 15 anos de 738 milhões para sete mil milhões de utilizadores.



Conflitos causam milhões de refugiados em todo o mundo. Foto: ONU

Um mundo de problemas
Apesar dos progressos, as mulheres enfrentam ainda discriminação, desigualdade laboral e ganham, em média, menos 24% que os homens.

Também ainda existe um grande fosso entre ricos e pobres. Os conflitos são responsáveis por grande parte dos problemas sociais. Até ao fim do último ano, os conflitos forçaram 60 milhões de pessoas a abandonar as suas casas. Todos os dias cerca de 42 mil pessoas procuram protecção e abrigo.

No último ano, metade dos refugiados sob responsabilidade das Nações Unidas eram crianças. 800 milhões de pessoas continuam a viver em extrema pobreza, vitimas do ódio e de conflitos.

Há 160 milhões de crianças, com idades abaixo dos cinco anos, com peso inadequado para a idade. Estão subnutridas.

Actualmente, 57 milhões de crianças, em idade escolar, não frequentam o ensino primário.

As mudanças climáticas também têm tido sérias consequências, que fazem sofrer ainda mais as populações em pobreza extrema.

As emissões de carbono aumentaram 50% desde 1990 e mudaram muitos ecossistemas. Um total de 5,2 milhões de hectares de floresta foram perdidos em 2010, uma área correspondente à Costa Rica. O excesso de exploração marinha, apanha de peixe, tem aberto caminho à aproximação da extinção de muitas espécies.

A nova agenda de desenvolvimento sustentável para depois de 2015, com novos objectivos, deve ser adoptada em Setembro, na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque.