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Tsipras: “Ninguém pode rejeitar a vontade do povo"

05 jul, 2015

Os 9,8 milhões de gregos inscritos nas listas eleitorais podem votar em mais de 19 mil assembleias de voto em todo o país. Primeiros resultados sabem-se às 19h00 de Lisboa.

Tsipras: “Ninguém pode rejeitar a vontade do povo"

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, já votou no referendo em Atenas. Tsipras colocou a escolha nas mãos dos eleitores e reafirmou que a Grécia quer continuar na União Europeia. “O povo grego tem a escolha, muitos podem rejeitar a vontade de um governo, mas ninguém pode rejeitar a vontade do povo", afirmou.

"Ninguém pode ignorar a mensagem de determinação de um povo que toma o seu destino em mãos", declarou.

O chefe de governo, que convocou o referendo depois da ruptura das negociações com os credores e fez campanha pelo "não", defendeu ainda que a ida às urnas é uma resposta contra o "medo". "Abrimos o caminho para que outras nações europeias o sigam, hoje a democracia vence o medo", acrescentou, realçando ainda que o referendo é "uma festa de democracia" e "pela dignidade".

Antonis Samaras, líder da Nova Democracia, o partido da oposição, também já votou e deixou o apelo ao voto “sim” no referendo.

O presidente grego Prokópis Pavlópoulos, também votou e  fez declarações. Diz que hoje é o dia em que as pessoas são chamadas a pronunciar-se sobre o interesse nacional e lembrou que o caminho difícil no dia seguinte deve ser  feito juntos. O presidente não fez qualquer apelo ao voto, mas sim à participação no referendo.

Esta é uma consulta popular para decidir o futuro da Grécia, e provavelmente, a permanência na Zona Euro. 10 milhões de eleitores são chamados a colocar uma cruz a decidir “sim” ou “não” à pergunta que é colocada pelo governo: "Temos de aceitar o projecto de acordo que foi apresentado pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional no Eurogrupo de dia 25 de Junho?”.

As urnas vão fechar às 19h00 locais, quando forem 17h00 em Lisboa. 

Gregos vão decidir se aceitam um acordo que já não existe
O referendo serve para os gregos decidirem se aceitam o programa apresentado pelos credores internacionais (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu) há mais de uma semana. Contudo, esse programa já não existe, dado que a Grécia falhou o pagamento de 1,55 mil milhões de euros ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a meio da semana passada.

O Governo grego surpreendeu toda a gente na noite de 26 de Junho, ao anunciar um referendo durante as negociações, e ficou assim arredado de receber, pelo menos para já, cerca de 12 mil milhões de euros que estavam a ser negociados com os parceiros europeus até Novembro, e mais de 3,5 mil milhões de euros vindos do FMI.

O Governo Syriza liderado por Alexis Tsipras, bem como a direita nacionalista ANEL e os neonazis do Aurora Dourada, defendem que a resposta à pergunta sobre se aceita o programa de ajuda externa que estava em cima da mesa deve ser o “não”, argumentando que um novo mandato do povo grego dará mais força negocial a partir de segunda-feira, quando a troika se sentar novamente à mesa com as autoridades gregas.

Do lado europeu, a interpretação é contrária: um “não” significa, na verdade, um não à Zona Euro e à Europa, dado que a Grécia não tem condições para continuar a usar a moeda única sem assistência financeira dos parceiros.

Do outro lado da barricada estão os partidos da oposição (Nova Democracia, de direita, o Pasok e o To Potami, ambos de centro-esquerda), que apostam num “sim” como forma de garantir a ajuda financeira que a Grécia desesperadamente precisa para manter o país a funcionar.

Se for este o veredicto dos gregos, há uma grande probabilidade de o Governo se demitir, sendo que o ministro das Finanças já disse explicitamente que o faria, bem como o primeiro-ministro, embora de forma menos directa.

Além da derrota nas urnas, os governantes gregos teriam também de enfrentar a desconfiança dos líderes europeus, agastados com as críticas públicas de "chantagem" feitas pelos gregos.

Os 9,8 milhões de gregos inscritos nas listas eleitorais podem votar em mais de 19 mil assembleias de voto em todo o país, não havendo nem voto por correspondência nem possibilidade de os emigrantes o fazerem nos seus países de trabalho.

O Governo, para estimular a adesão à votação, aboliu o pagamento de portagens e serão praticados descontos sobre o preço dos voos domésticos e das viagens de autocarro e comboio.

De acordo com o Ministério do Interior, o custo do referendo não deverá ultrapassar os 25 milhões de euros, metade do custo das eleições de Janeiro que levaram o Syriza ao poder, e os primeiros resultados com algum grau de fiabilidade deverão aparecer por volta das 21h00 locais, menos duas em Lisboa (19h00).