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Tributo a Amália com obra de Vhils e disco

03 jul, 2015 • Maria João Costa

A nova geração do fado juntou-se em disco tributo a Amália Rodrigues, com direcção artística de Rúben Alves. Vhils assina a capa.

Em pedra branca, rosa e preta faz-se a obra “Calçada”, idealizada por Alexandre Farto, o artista também conhecido como Vhils, que presta homenagem à fadista Amália Rodrigues. A escultura com o rosto da fadista foi feita pelas mãos dos calceteiros da autarquia de Lisboa. No coração de Alfama onde foi inaugurada esta quinta-feira todos saíram à rua para assistir a esta homenagem.

Benilde Silva tem 74 anos, vive há 55 anos na Rua dos Cegos, que fica ao lado da obra de Vhils. Para esta habitante de Alfama, que diz ter todos os discos de Amália Rodrigues, a fadista continua a ser a “melhor de Portugal” porque “tinha uma voz muito sã e era uma pessoa muito popular” e, conclui, “era uma pessoa do Povo”.

É essa “pessoa do povo” que o presidente da junta de freguesia de Santa Maria Maior quer homenagear e na apresentação da obra de Vhils propôs que a praça que cruza as ruas do Cego, a Calçada do Menino Deus e a Rua de São Tomé ganhe o nome de "Praça Amália". Ao desafio, o autarca de Lisboa Fernando Medina prometeu pensar no assunto.

O rosto da fadista feito em calçada portuguesa projectada numa parede não só perpetua esta homenagem a Amália, mas servirá também de capa ao disco de tributo à fadista, que sairá a 10 de Julho com o selo da Universal. Por trás de tudo isto está Rúben Alves – o realizador do filme multipremiado “A Gaiola Dourada”. O cineasta é o director artístico do disco “Amália – as vozes do fado” que reúne nomes como Carminho, Ana Moura, Camané, António Zambujo, Gisela João, Ricardo Ribeiro e Celeste Rodrigues.

A irmã de Amália sente-se honrada por esta homenagem e em particular pelo disco tributo onde canta o fado “Faz-me pena”, um tema que Amália nunca chegou a gravar e que Celesta agora grava tendo ao seu lado o bisneto Gaspar Varela na guitarra portuguesa. À Renascença, Celeste Rodrigues explica que este fado “é uma espécie de despedida que ela não gravou, mas cantou uma vez num espectáculo”.

O disco, que reúne também as participações internacionais do brasileiro Caetano Veloso, a cabo-verdiana Mayra Andrade, o angolano Bonga e o espanhol Javier Limón, junta a mais nova geração do fado. Gisela João explica que se sente lisonjeada por estar “no meio de um grupo de talentos incríveis”. Ela que recorda o dia em que Amália morreu, se vestiu de luto e quis vir de Barcelos a Lisboa para o funeral, interpreta no disco o tema “Medo” e faz um dueto com Camané no fado “Meu limão de amargura (Meu amor, meu amor)".

Já Ricardo Ribeiro, outro dos nomes da nova geração do fado, aceitou o desafio de Rúben Alves e gravou o fado “Grito” nos estúdios da Valentim de Carvalho onde Amália gravava. Sentado em Alfama explica à Renascença que cantar este fado “foi um risco muito grande” e chegou a ter medo. Para Ricardo Ribeiro, “Grito é um dos temas mais intensos que Amália tem”. Ultrapassada a gravação, o fadista continua a afirmar que “Grito só pode ser cantado por ela”.

Para Rúben Alves, que está, numa parceria com o Museu do Fado, a realizar um documentário sobre a canção que levou a chancela de qualidade da UNESCO como património imaterial da humanidade, este disco reúne “a nova geração do fado e a Celeste Rodrigues é a 'cereja em cima do bolo'. Os duetos vêm pela lusofonia. Estas pessoas todas juntam-se à volta da Amália mas também pela portugalidade”.