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Tribunal de Contas

Privatizações da EDP e REN não "acautelaram interesses estratégicos" do Estado

29 jun, 2015

Relatório revela que, apesar de o decreto de privatização e o acordo de venda e de parceria conterem referências à salvaguarda do interesse nacional, não foi prevista qualquer cláusula de penalização no caso de incumprimento.

O Tribunal de Contas diz que, no caso das privatizações da EDP e da REN, o Governo não tomou medidas legislativas "que acautelassem os interesses estratégicos do Estado Português após a conclusão do processo de privatização".

No relatório de auditoria dos processos de (re)privatização do sector eléctrico, o Tribunal de Contas frisa que, não obstante o decreto de privatização da EDP e da REN e o acordo de venda e de parceria estratégica conterem referências à salvaguarda do interesse nacional, "não foi prevista qualquer cláusula de penalização para o seu incumprimento".

A auditoria constata que "a postura do Estado Português" se revelou "menos adequada quando comparada com a de alguns dos países europeus que protegem claramente os seus activos estratégicos".

A instituição dá mesmo exemplos: "Alguns destes países asseguram aqueles activos através da fixação de limites na aquisição de activos estratégicos por entidades estrangeiras que não integrem o espaço europeu (Alemanha, Áustria e a Finlândia), o reforço ou controlo do Estado através de poderes especiais 'golden shares' (Bélgica, França, Polónia e a Itália) e/ou a detenção da maior parte do capital (Lituânia e Islândia)".

Em sede de contraditório das entidades envolvidas, o Tribunal de Contas refere que "a salvaguarda dos activos estratégicos foi assegurada através de diplomas legais de cada um dos processos e pelo 'framework agreement'", assinado entre o Estado, as empresas e os novos accionistas chineses.

No entanto, o tribunal sublinha que "caso aqueles instrumentos fossem suficientes não seria necessário a aprovação de um regime específico".

Negócios cumpriram objectivos
Apesar desta crítica, a instituição sublinha que as privatizações em análise atingiram o objectivo previsto no memorando assinado com a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) que era o de reduzir a dívida pública e que "foi atingido com a afectação total da receita líquida das operações à amortização da dívida pública".

O tribunal indica que a venda directa da EDP, relativo à 8ª fase e conclusão da 7ª, e da REN, correspondente à 2ª fase, "geraram uma receita líquida global de 2.768 milhões de euros", mas os auditores indicam que a receita prevista para estes processos não foi autonomizada no memorando, "pelo que não é possível comparar os valores realizados face aos valores previstos, no sentido de identificar e quantificar eventuais desvios financeiros".

Conflito de interesses
O Tribunal de Contas condenou a forma como a Parpública deixou que o Banco Espírito Santo Investimento (BESI) fosse, no caso das privatizações da EDP e da REN, avaliador do Estado e, posteriormente, consultor dos chineses da CTG e State Grid.

O tribunal constata assim que a Parpública "não tomou as devidas precauções para evitar conflitos de interesse, o que não é consentâneo nem com a experiência da empresa que, há muito, procede à contratação de assessorias no âmbito dos processos de privatização, nem com os procedimentos instituídos a este nível e que se revelaram insuficientes".