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Morais Sarmento critica carga policial que viu no Marquês. E a "barbárie" em Guimarães

19 mai, 2015

O antigo ministro relata o que viu na festa do título do Benfica. E não poupa críticas à polícia e adjectivos aos que desencadearam os incidentes. Vera Jardim pede prevenção para evitar novos confrontos.

Morais Sarmento critica carga policial que viu no Marquês. E a "barbárie" em Guimarães
O antigo ministro relata o que viu na festa do título do Benfica. E não poupa críticas à polícia e adjectivos aos que desencadearam os incidentes. Vera Jardim pede prevenção para evitar novos confrontos.
Nuno Morais Sarmento assume-se como uma testemunha ocular dos incidentes da festa do título do Benfica do Marquês de Pombal. Assistiu a tudo a partir de um plano superior, num hotel situado em plena praça do Marquês de Pombal. No programa Falar Claro, da Renascença, o ex-ministro condena a carga policial sobre os adeptos e o comportamento “pouco simpático” das forças de segurança.

“Um grupo de selvagens ou índios – não lhes podemos chamar adeptos – terão aparentemente agredido, arremessado garrafas e pedras não sei bem para quem. Teremos que ver se assim foi, onde e como foi. Mas o que me custa é que, para actuar sobre essa situação, a polícia tenha varrido metade superior da praça do Marquês de Pombal onde estavam 100 mil ou 200 mil pessoas”, descreve o social-democrata que não encontra justificação para o que aconteceu. ”Só se intervém daquela forma em último caso. Não me parece que o que quer que tenha acontecido justificasse aquilo.”

O advogado e conhecido militante do PSD diz ter ficado muito preocupado com o destino de muitos adeptos presentes na zona.

“Fazia aflição a quem estava a assistir de onde nós assistíamos, a multidão a subir em passo de corrida em alguns pontos a Avenida Fontes Pereira de Melo. E eu só pensava nas famílias que ali foram e eu vi muitas”, confessa no debate semanal com Vera Jardim na Renascença.

“Não estou para ser tratado como criminoso”
O antigo ministro abandonou o local logo que aconteceu a carga policial e lamenta a forma como os agentes trataram quem, calmamente, só queria ir para casa.

“Fui para casa, encontrando sucessivos cordões policiais onde a polícia não estava a ser simpática. Estamos a falar de pessoas que vinham, como eu, a tentar sair dali calmamente. Não sei o que se generalizou na polícia. Estamos a falar de polícias que estão a um quilómetro, quase, do Marquês e que estavam como se estivessem a ver passar criminosos. Eu não sou criminoso de coisa nenhuma. Por ir à festa do título do Benfica, não me sinto em falta com ninguém. Não estou para ser tratado como a polícia estava a tratar as pessoas. Não se aceita isto, já fora do Marquês, até porque não houve grande reacção. Tirando meia dúzia de patetas que ficaram lá a mandar pedras, as pessoas dispersaram”, relata o antigo ministro da Presidência.
 
Vera Jardim defende “medidas preventivas”
Se Morais Sarmento ajuizou os incidentes pelo que viu no local, o socialista Vera Jardim baseou-se nas imagens televisivas. O antigo ministro da Justiça espera pelas conclusões do inquérito para ter uma “panorâmica completa” e fazer o seu juízo.

O antigo governante defende que é preciso actuar de maneira a que situações como a de domingo à noite não se repitam.

“Temo que nós, não tomando nenhumas medidas preventivas em relação a tudo isto, sejamos um dia surpreendidos por uma coisa muito grave. Não houve feridos muito graves, muito menos mortos, mas o que se passou, sobretudo, no Marquês de Pombal em Lisboa, com uma multidão muito grande, poderia ter causado muitas vítimas. Sabemos que quando há grandes multidões qualquer incidente pode causar não só feridos, mas vítimas mortais”, sublinha Vera Jardim, no programa Falar Claro.
 
“Duvido que aqueles miúdos alguma vez se esqueçam de ver o pai e o avô a levar bastonadas”
Outro incidente a manchar a festa do título do Benfica aconteceu em Guimarães, onde um adepto foi detido de forma violenta diante dos filhos por um graduado da polícia.

Morais Sarmento condena o que diz ser uma “actuação absolutamente desproporcionada” e violenta por parte da polícia, para mais na presença de duas crianças.

“Não conheço as razões, talvez existam, mas aquilo a que assistimos na televisão é uma barbárie, um excesso de violência, uma actuação absolutamente desproporcionada. Há ali um oficial da polícia que está a derrubar, a bater num adepto. E quando vem uma pessoa de idade agride-o duas vezes. Estão [ali] três gerações. Eu não sei o que é que aquela família pode ter feito. Até pode ter insultado ou cuspido, mas não justifica aquilo. [Quando muito] A detenção, mas para isso vêm mais polícias. Detém, mas não agride. Duvido que aqueles dois miúdos se esqueçam, alguma vez, de ver o pai e o avô no chão a levar bastonadas. Para mim, isto é a negação das razões que me levam a gostar e a ir ao  futebol”, lamenta Morais Sarmento.