Emissão Renascença | Ouvir Online

São 150 quilómetros em romaria, a cavalo ou de charrete

22 abr, 2015 • Rosário Silva

Chova ou faça sol, com mais ou menos poeira não há nada que demova os romeiros pelos caminhos de terra entre Moita e Viana do Alentejo.

São 150 quilómetros em romaria, a cavalo ou de charrete
Na casa dos Lutas, a romaria há muito que está a ser preparada. A família junta-se esta quarta-feira às centenas de romeiros, de vários pontos do país e até do estrangeiro, que participam na 15ª edição da Romaria a Cavalo, este ano, apadrinhada pelo actor João Catarré.

“O frenesim começa ao virar do ano”, conta a mãe Cármen, ao telefone com a Renascença desde Portel, onde reside. A família, faz agora cinco anos, decidiu-se por esta actividade para poder estar toda reunida. Pai, mãe e três filhos. A mais pequena ainda não vai mas é já uma entusiasta dos cavalos. A mais velha, Maria, começou a participar com 13 anos. O Luís, o do meio, porque estuda em Serpa num curso ligado a esta área, este ano não consegue compatibilizar horários.

A cavalo ou de charrete, são 150 quilómetros por caminhos de terra batida, pela antiga canada real, mais conhecida por Estrada dos Espanhóis. E por onde passam, todos os “patrões que tenham herdades com portões fechados são obrigados a abri-los para passarmos e em cada localidade, primeiro entra a santa e só depois os cavaleiros”, explica Cármen.

Por esta altura já está tudo encaminhado. “Como dormimos em tendas temos que levar roupas, toalhas e comida. Só nas localidades onde pernoitamos é que dá para tomar banho”. Ao marido cabe “amanhar a camioneta”, que leva os cavalos na viagem e os pertences até à Moita. Este ano a família leva apenas dois cavalos, um para “puxar” a maratona” (charrete) onde vai seguir o casal e outro para a filha Maria.

“Em Fevereiro começamos a treinar os cavalos para quando chegar esta altura já terem aquele músculo e estarem preparados para o caminho. Eu costumo dizer, a gente diverte-se e eles vão trabalhar”, declara.

Há quem vá pela fé mas também pelo convívio. “É meio por meio”, diz Cármen que elege o convívio e as amizades que se estabelecem, por esses dias, como o melhor da romaria. “Em todos os sítios à dança, bailes, festa. São quatro dias de férias que uma pessoa tira e para quem, como nós, gosta de cavalos, é um mundo à parte”, assegura.

O ano passado, de acordo com a organização participaram cerca de cinco centenas de cavaleiros, uma presença que cresce de ano para ano.

“Há gente dos 8 aos 80 e é muito divertido” garante a matriarca.

Uma tradição entre o religioso e o profano
A romaria retoma uma tradição antiga, quando os lavradores da Moita se deslocavam ao Santuário de N.ª Sr.ª D’Aires para benzer os animais e pedir boas colheitas. No entanto, e apesar do carácter religioso, nos dias de hoje, assume uma vertente mais lúdica que privilegia o convívio.

Para receber os muitos visitantes que se deslocam a Viana do Alentejo durante o fim-de-semana, a Câmara Municipal preparou um programa cultural com destaque para o espetáculo "Equestrian Emotions" a apresentar pelo Centro Hípico Herdade da Mata, marcado para dia 25 de Abril, às 22h00, no Picadeiro instalado junto ao Santuário de N.ª Sr.ª D'Aires.

No domingo, a partir das 12h30, no mesmo espaço haverá “Spanish Soul”, cante alentejano e a apresentação pela Classe de Dança da Associação Equestre de Viana do Alentejo do espetáculo “La Inspiración”.

Antes, há uma procissão entre Viana do Alentejo e o Santuário, com as imagens de Nossa Senhora da Boa Viagem e Nossa Senhora D’Aires, seguindo-se às 11h00 uma missa campal.

A romaria a Cavalo é promovida por uma comissão organizadora constituída pelas câmaras da Moita e Viana do Alentejo, Associação dos Romeiros da Tradição Moitense e Associação Equestre de Viana do Alentejo.