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Países sunitas apertam o cerco aos rebeldes no Iémen

27 mar, 2015 • Filipe d’Avillez

São cada vez mais os países árabes que se comprometem a participar numa coligação para intervir no Iémen, mas uma invasão poderá ser bastante mais complexa do que parece.  

Países sunitas apertam o cerco aos rebeldes no Iémen
A coligação árabe sunita liderada pela Arábia Saudita, que pretende contrapor o avanço dos rebeldes houthis no Iémen, recebeu esta sexta-feira um reforço de peso, com Marrocos a comprometer-se a enviar soldados.

Também o Paquistão, que não sendo um país árabe é uma superpotência do mundo islâmico e esmagadoramente sunita, alertou que qualquer ameaça à sua aliada Arábia Saudita será alvo de uma resposta “firme”.

Aumenta assim de força a coligação, anunciada pela Arábia Saudita e que deve ser formalizada até ao final do mês de Março, em Sharm el-Sheikh, no Egipto, onde decorre um encontro da Liga Árabe nos dias 28 e 29.

Até ao momento, para além da Arábia Saudita e do governo internacionalmente reconhecido do Iémen, Marrocos, Sudão, Kuwait, os Emirados Árabes Unidos, Qatar, Bahrein, Egipto e Jordânia já se juntaram à coligação. Estes países têm em comum o facto de serem sunitas, com a excepção do Bahrein, cuja população é de maioria xiita, mas governada por uma elite sunita minoritária.

A coligação opõe-se à insurreição houthi no Iémen, sendo que os houthis são xiitas e terão o apoio do Irão, a maior potência xiita do Médio Oriente.

Actualmente no Iémen travam-se combates entre os houthis, aliados a algumas facções do exército e tribos sunitas, aliadas à facção do exército que se manteve leal ao presidente Hadi. O próprio Presidente abandonou o país na quinta-feira, rumo à Arábia Saudita, de onde seguirá para Sharm el-Sheikh, representando o seu governo na cimeira da Liga Árabe.

Elementos de grupos terroristas alimentam combates
Mas a situação no país não se limita ao confronto entre estes dois blocos. Há ainda o ramo local da Al-Qaeda, muito bem organizada e alguns elementos leais ao Estado Islâmico. Ambos os grupos terroristas, apesar de sunitas, lutam tanto contra os houthis como contra o governo central.

Até ao momento a coligação apenas bombardeou posições dos houthis no Iémen, causando alguns danos materiais e humanos, mas a ideia passa por aprovar a formação de uma força militar conjunta para intervir no país. Apesar da aparente desproporção de meios militares e humanos, de dez estados soberanos contra um grupo rebelde que representa cerca de 30% da população do país, a verdade é que uma invasão terrestre poderá ser muito mais difícil do que aparenta, uma vez que a realidade geográfica e social do país o tornam extremamente inóspito.

Os houthis já avisaram que quem invadir terá que pagar um alto preço e existe o risco de uma intervenção se tornar o equivalente para a coligação árabe do Afeganistão para a coligação ocidental no pós-11 de Setembro e, anos antes, para os soviéticos.

Entretanto o Irão já criticou duramente os bombardeamentos aéreos e qualquer ameaça de intervenção terrestre. Não é natural que Teerão se envolva directamente no conflito, sobretudo porque não existem fronteiras terrestres nem com o Irão nem com qualquer dos seus regimes satélite, mas os iranianos devem observar o confronto com o maior interesse, procurando criar condições para os houthis dificultarem ao máximo a vida aos invasores.

Por outro lado, caso a intervenção sunita seja um sucesso e decorra com a brevidade esperada – um governante iemenita fiel ao regime aponta para “poucos dias” – então poderá estar lançado um modelo para intervenção noutros palcos, incluindo contra o Estado Islâmico, mas também na Síria, por exemplo.