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BCP e BPI juntos? 12 perguntas e 12 respostas

04 mar, 2015 • João Carlos Malta

O que propõe Isabel dos Santos? Quais seriam as consequências desta operação? Haveria despedimentos e encerramento de balcões? Saiba tudo.

BCP e BPI juntos? 12 perguntas e 12 respostas

O ano de 2015 ainda mal arrancou, mas já deu para perceber que os próximos meses vão mudar a face à banca nacional. O tiro de partida foi dado pelos espanhóis do CaixaBank com uma proposta para assumir o controlo do BPI. Na segunda-feira, foi a vez do contra-ataque de Isabel dos Santos que propõe a fusão entre BCP e BPI e criar assim o maior banco privado em Portugal, Angola, Moçambique e ter uma posição de relevo na Polónia.

Pelo meio, há o Novo Banco, que emergiu dos destroços do BES e no qual o BPI já disse que está formalmente interessado.

Mas, tal como o presidente do CaixaBank anunciou esta terça-feira, "o jogo ainda agora começou". As dúvidas são muitas.

O possível redesenho do xadrez do sistema financeiro nacional em 12 perguntas e respostas.

O que propõe Isabel dos Santos?
A filha do Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, é a segunda maior accionista do BPI e, através da empresa Santoro (segundo maior accionista do banco liderado por Fernando Ulrich), deu o pontapé de saída nas conversações entre o BPI e o BCP com vista a uma fusão.

O objectivo de Isabel dos Santos será o de travar a OPA (oferta pública de aquisição) em curso ao BPI com uma proposta que seja mais atractiva para os accionistas.

Uma fonte ligada ao sistema financeiro, que pede para não ser identificada por ter negócios com os dois bancos, diz acreditar, em declarações à Renascença, que Isabel dos Santos está a usar esta estratégia para aumentar o preço oferecido pelos espanhóis do CaixaBank na oferta inicial lançada há poucos dias.

O preço por acção oferecido pelos espanhóis na OPA foi argumento para esta operação?
Sim. Esta terça-feira o porta-voz da empresária angolana, em carta enviada à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM ), reconheceu que a desilusão face ao valor proposta pelos espanhóis. "Gostaríamos de reafirmar o entendimento da Santoro [empresa de Isabel dos Santos] que a oferta do CaixaBank não reflecte correctamente o valor da instituição, por si só, nem o seu potencial de crescimento e não partilha com os accionistas do BPI o adequado valor das anunciadas sinergias", diz Mário Silva.

Segundo a angolana, os 1,329 euros que os catalães do CaixaBank oferecem não representam as sinergias obtidas com a compra do BPI.

Quais seriam as consequências desta operação?
A criação de um superbanco. Seria a maior instituição financeira privada em termos de activos em Portugal. Juntos, BCP e BPI valeriam 119 mil milhões de euros, 20% acima do que vale a Caixa (100 mil milhões de euros).

Em termos consolidados, no que ao crédito diz respeito, daria origem ao maior banco português com 155,3 mil milhões de euros. Em depósitos só seria suplantado pela Caixa.

Isabel dos Santos rotulou a iniciativa com um slogan: "Estamos a devolver o sentimento da ambição ao sistema financeiro português". O banco poderia ser líder nos mercados português, angolano e moçambicano e ter uma posição importante na Polónia.

Quem seriam os maiores accionistas do futuro banco?
Os accionistas angolanos. Juntos ficariam com 21% do capital, que resulta da ponderação das participações da Sonangol no BCP e de Isabel dos Santos no BPI.

Quem tem de aprovar esta operação?
O Governo, a Comissão Europeia e os accionistas. O "sim" das duas instâncias políticas advém de o banco liderado por Nuno Amado ainda beneficiar de uma ajuda de Estado no valor de três mil milhões de euros.

Mas, independentemente do apoio político, serão os accionistas a validar ou recusar a operação. Segundo os estatutos do BCP e do BPI, é obrigatório que 75% dos accionistas representados em assembleia-geral dêem luz verde ao negócio.

Se na OPA ao BPI os espanhóis precisam do apoio de Isabel dos Santos para concretizar a operação, na fusão agora proposta o CaixaBank teria de dar o aval.

Haveria despedimentos e encerramento de balcões?
Esse é o maior receio de alguns analistas, que consideram o cenário provável. Actualmente, os dois bancos somam 13.730 funcionários, ainda assim menos 1.128 do que no ano anterior. Somados os dois bancos têm 1.344 balcões.

Aliás, Isabel dos Santos já disse que um dos objectivos da fusão seria libertar "valor muito significativo através de captação de sinergias, quer no desenvolvimento de negócio, quer na optimização da capacidade instalada em Portugal, Angola e Moçambique, com minimização de custos sociais e económicos".
 
Qual seria a capitalização bolsista?
Seria criada a quarta maior cotada da bolsa nacional com um valor de 6.500 milhões de euros.

É a primeira vez que se pensa em unir BCP e BPI?
Esta é a terceira vez que a fusão entre BPI e BCP aparece como uma probabilidade. A primeira foi em 2006, quando o BCP lançou uma OPA sobre o banco liderado por Fernando Ulrich. Nove anos depois deverá haver uma nova proposta para fundir as duas instituições.

Há nove anos, no lançamento da OPA sobre o BPI, o BCP ofereceu 5,70 euros por acção, o que representou na altura um prémio de 19% face à cotação de então. Um valor muito superior aos 1,329 euros agora oferecidos pelo CaixaBank.
 
O que diz a gestão do BCP?
Em comunicado ao regulador do mercado de capitais, o BCP defende que, "havendo interesse do Banco BPI, a comissão executiva do BCP manifesta a sua disponibilidade para analisar a referida operação, com respeito pelo circunstancialismo regulamentar aplicável".

E o Governo?
Mantém uma postura vigilante, sem se pronunciar até esta altura.

A independência da gestão do BPI está em causa?
Sim e não. Isabel dos Santos deixa a possibilidade no ar: "Temos as maiores reservas à adopção de qualquer projecto que, não salvaguardando a independência de gestão do Banco BPI, implique a sua consolidação numa estrutura internacional, ainda que ibérica, como se pretende fazer com a anunciada oferta pública de aquisição".

Os espanhós rejeitam a teoria. "Não posso deixar de repetir uma mensagem de confiança na actual gestão do BPI. Queremos que no futuro continue assim, com o apoio do CaixaBank no desenvolvimento de sinergias. Mas com identidade própria e acções separadas na bolsa Euronext de Lisboa", afirmou o administrador executivo do banco espanhol, Gonzalo Gortazar.

Como é que esta operação afectará a venda do Novo Banco?
A OPA dos espanhóis do CaixaBank ao BPI deixaria a instituição bem posicionada para atacar a compra do Novo Banco. Mas se for a proposta de Isabel dos Santos for avante deixaria cair a hipótese do ex-BES, concentrando as energias nos mercados onde o BPI e o BCP já têm interesses.