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Socialista admite governo minoritário. Em coligação, prefere CDS a bloco central

03 mar, 2015 • José Pedro Frazão

Vera Jardim não vê benefícios numa coligação PS-PSD e lembra que os socialistas já governaram em minoria e até com o CDS. No Falar Claro, o centrista Diogo Feio disse que a coligação de centro-direita é, para já, matéria de "sigilo partidário".

Socialista admite governo minoritário. Em coligação, prefere CDS a bloco central
O antigo ministro socialista não vê benefícios numa coligação entre PS e PSD no poder e lembra que o PS já governou em minoria e até com o CDS. Em debate com Vera Jardim no Falar Claro, o centrista Diogo Feio diz que coligação de centro-direita neste momento é matéria de "sigilo partidário".
Vera Jardim acredita que a reedição de uma coligação com o CDS é possível. "Acho que sim. Talvez até fosse melhor do que um bloco central, em certa medida", disse o militante socialista no Falar Claro da Renascença, esta segunda-feira, quando questionado sobre uma possível repetição desse entendimento, agora com Paulo Portas.

"O PS já fez governos com o CDS. A memória é curta. Não tiveram uma duração muito longa, mas já fez. E com o doutor Mário Soares", assinala o antigo ministro da Justiça, que também não vê dramas numa governação em minoria.

"Eu governei em minoria, estive no Governo quatro anos. Naturalmente que havia problemas, mas fazíamos acordos com o CDS, com o PSD, até com o PCP sobre as mais diversas questões. Não é obviamente caso único na Europa que haja governos que estão em minoria e que conseguem apoios e determinadas matérias à direita e à esquerda", sustenta o antigo ministro de António Guterres.

Não ao bloco central
Vera Jardim só admite uma coligação governativa PS/PSD "se for a única solução de estabilidade. Não podemos fechar os olhos e ir contra uma parede".

O antigo ministro não poupa críticas a um cenário de bloco central. "É altamente negativo para o funcionamento do sistema político, para a relação entre o sistema político e os cidadãos e, portanto, não seria a forma ideal para a governação de Portugal. O bloco central não tem razão de ser em Portugal. Só contribui para uma espécie de pântano político", diz o comentador socialista, que argumenta que Portugal não tem a cultura que permite soluções semelhantes, dando o exemplo da Alemanha.

Vera Jardim acautela os benefícios "de compromissos sérios, de médio prazo, sobre determinadas matérias”. "Mas nunca fui favorável a um bloco central e continuo a não ser. É pastoso. Não é claro. Tem que haver para todos, cidadãos e eleitores, clareza de alternativas".

Bloqueio de esquerda
Diogo Feio reconhece que o PS terá muitas dificuldades em sair da "solução pastosa" pela esquerda, de braço dado com o Bloco de Esquerda ou com o PCP. "Isto tem levado até a uma certa desorientação da liderança do Partido Socialista", atira o antigo deputado do CDS.

À esquerda, essa coligação tem sido "praticamente impossível", reconhece Vera Jardim. "Não acredito que [uma coligação] seja possível nos próximos tempos com o arco parlamentar existente. Há forças emergentes que estão a surgir e há sobretudo movimentos sociais vastos que podem vir [a aparecer]. A vida não se faz só sobre partidos, mas também de movimentos".

"A ideia de um D. Sebastião está a embater com o tempo", diz Diogo Feio. "Agora começo a perceber como é que havia uma preocupação tão grande por parte de António Costa para que as eleições fossem o mais depressa possível. O tempo corre contra ele e tem que avançar com as suas ideias alternativas – até para passar a ter uma melhor discussão política", sustenta o antigo eurodeputado do CDS.

Vera Jardim reconhece que António Costa "tem de acelerar" a apresentação das suas propostas, embora considere que o mês de Abril, como previsto," não será muito tarde".

Segredo partidário na coligação
Diogo Feio assegura que a decisão sobre uma possível ida às urnas em coligação é matéria reservada nos núcleos duros de PSD e CDS.

"Num momento em que se fala em tantos sigilos – que muitas vezes já nem são cumpridos – deixe-me dizer-lhe que há momentos que são de sigilo e segredo partidário. Estamos nessa fase. Quando deixarmos de estar nessa fase, serão comunicadas as decisões que os partidos tomam em relação a essa matéria", garante o vice-presidente do CDS.

O dirigente centrista não vê matéria de preocupação na entrevista de Pedro Passos Coelho em que o líder do PSD "não fecha a porta" a um bloco central, ao mesmo tempo que admite uma coligação com base na actual maioria.

"O CDS participou em governos com o PSD. Participa num Governo que faz uma legislatura inteira, com uma experiência de governação, com estabilidade. Sabe-se que, independentemente de haver ou não coligação, no espaço do centro-direita, existe a capacidade para apresentar soluções de governo", afirma Feio, classificando a entrevista como um marcar de agenda de Passos Coelho.

Já Vera Jardim diz que o primeiro-ministro foi pouco "cauteloso" na forma como admitiu um bloco central. "Se eu fosse dirigente do CDS ficaria um pouco tocado, pelo menos", diz o antigo ministro socialista para quem Passos quis expressar que pondera duas hipóteses para um "casamento" político.

"Não acho que não haja coligação. Só se fossem dois partidos suicidas. Sobretudo o CDS, que é o partido mais fraco e que teria muito a perder. Acredito que vai haver uma coligação", remata o comentador socialista.