Tempo
|

O lado feminino da Guerra Colonial

02 mar, 2015 • Maria João Costa

Mães, filhas, mulheres e namoradas. A história da Guerra Colonial contada no feminino está agora em livro, assinado pela jornalista Sofia Branco

O lado feminino da Guerra Colonial
"Sem combaterem nem pegarem em armas, as mulheres viveram a guerra colonial como se lá estivessem", escreve Sofia Branco, na introdução do livro "As Mulheres e a Guerra Colonial", agora editado pela Esfera dos Livros. A obra reúne testemunhos daquelas que ficaram na retaguarda dos homens que foram para a frente de batalha.

A ideia para escrever o livro, explica a jornalista, surgiu da necessidade de dar um toque feminino ao que sempre foi contado no masculino. Depois de ver o filme "Quem vai à Guerra", de Marta Pessoa, e ler um livro de Nuno Tiago Pinto sobre este período da história, a autora sentiu que faltava contar o outro lado. Sofia Branco junta "em 13 capítulos, tantos quantos os anos de guerra", os testemunho de 49 mulheres que, entre 1961 e 1974, mesmo não pegando em armas, foram à guerra. Em entrevista à Renascença, a escritora indica que "as mulheres mobilizaram-se mesmo e a história não lhes reconhece esse papel. Há aqui um certo lado de emancipação das mulheres que a guerra acabou por provocar. Obrigou-as a irem para o mercado de trabalho, ocupar um espaço que depois não desocuparam quando eles voltaram", indica.

Ao trabalho de recolha de testemunhos, Sofia Branco somou o cuidado de mostrar um retrato cuidado da época. "Houve todo um trabalho de retratar com notícias da imprensa da altura e muita cultura popular com canções de época", os anos da Guerra Colonial. A autora teve mesmo a ajuda do historiador da Guerra Colonial Carlos Matos Gomes na revisão da obra. 

"As Mulheres e a Guerra Colonial" é um livro onde Sofia Branco sentiu dificuldade em pôr um ponto final. "Foi difícil pôr um fim, porque a ideia foi que isto fosse um retrato o mais abrangente possível. Estas historias são únicas", conta-nos. 

Neste renovado olhar sobre a Guerra Colonial revela-se que "por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher", mas também encontramos mulheres com histórias únicas como é o caso da Maria José Ribeiro através da qual a autora descobriu que a primeira manifestação contra a Guerra Colonial foi em 1962. "Isso é muito cedo e ninguém sabia. Não surge em nenhum livro de história", conclui a autora.

[Notícia actualizada às 00h17]