Tempo
|

Ex-presidente do BES Angola vendeu acções do BES por "decisão económica e pessoal"

10 fev, 2015

O ex-presidente do BES Angola invocou o sigilo bancário angolano para não revelar nomes de devedores da instituição, apesar das insistentes perguntas dos deputados.

Ex-presidente do BES Angola vendeu acções do BES por "decisão económica e pessoal"

O ex-presidente do BES Angola (BESA), Rui Guerra, disse esta terça-feira no Parlamento que vendeu dois lotes de acções do BES em Março e Abril de 2014 por uma “decisão económica" e “pessoal".

“De forma fria, económica, decidi vender. Foi meramente uma decisão económica e pessoal", vincou Rui Guerra na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do Grupo Espírito Santo (GES).

A deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua questionou Rui Guerra sobre a venda de dois leques de acções em Março e Abril de 2014 e se tal foi devido ao preço de venda das mesmas ou se resultava do conhecimento do responsável da “instabilidade" no GES.

“Foi o preço das acções", respondeu o antigo presidente do BESA.

Rui Guerra tinha revelado que detinha acções que recebeu enquanto quadro do banco num sistema de incentivo e outras que adquiriu em seu nome e com o seu capital.

Anexos desaparecidos
Antes, Rui Guerra assegurou que havia dois anexos à garantia estatal angolana concedida ao banco onde constavam os nomes dos devedores, mas que nunca passou a informação ao BES nem ao Banco de Portugal.

"Os mutuários estavam identificados na dita garantia. Existiam dois anexos: um tinha a ver com a carteira de crédito e o outro com o imobiliário. Eram do conhecimento do BESA [BES Angola] e das autoridades [angolanas], bem como dos auditores e de quem nos supervisionava", avançou aos deputados o responsável.

"Eu nunca fiz chegar esse anexo a Lisboa [ao BES, que era o accionista maioritário do BESA], nem aos accionistas locais", garantiu Rui Guerra.

Questionado sobre se tinha dado conhecimento dos anexos à garantia ao Banco de Portugal, o gestor também negou. "Se eu não fiz chegar ao BES, penso que não", sublinhou.

Rui Guerra revelou que a sua gestão, que iniciou funções no princípio de 2013, estava a desenvolver esforços para tentar executar a garantia estatal angolana sobre os grandes devedores do BESA, mas os trabalhos acabaram por não dar frutos, já que, em Agosto do ano passado, o Banco Nacional de Angola (BNA) interveio no BESA e a garantia foi revogada.

"Íamos a caminho de podermos executar alguma parte da garantia. Estávamos a caminho disso", afirmou.

"Isso quer dizer que morremos na praia", questionou o deputado do PS, Pedro Nuno Santos.

"Não digo que também não seja uma frustração minha", admitiu Rui Guerra.

Segredo protege devedores
Sobre a demora da gestão do BESA em executar a dita garantia, o ex-líder do banco angolano que era controlado pelo BES justificou-a com a tentativa de chegar a acordo com os devedores.

"Antes de haver uma execução é natural que nos reunamos com os clientes para perceber como é que a dívida assumiu determinadas dimensões", disse.

No que toca à decisão das autoridades angolanas de revogarem a garantia que tinham concedido ao BESA e que ascendia a 3,3 mil milhões de euros, Rui Guerra jogou à defesa.

"Eu não tenho elementos objectivos que possa partilhar com os senhores deputados quanto ao porquê da mesma. Os pareceres jurídicos que na altura obtive mostravam que era uma garantia robusta", sublinhou, acrescentando apenas a informação que é pública de que o Estado angolano decidiu em agosto revogar a garantia.

Mas salientou: "O que eu posso partilhar é que ao longo dos meses de 2014 sempre tive conversas muito naturais e estreitas com o Ministério das Finanças e com o senhor governador do BNA e nunca tive indicações de que havia intenção de revogar a garantia".

Apesar da insistência dos deputados em tentar apurar o nome dos devedores que constavam nos dois anexos da garantia estatal angolana, Rui Guerra recusou-se sempre a revelá-los, alegando o seu dever de sigilo bancário, em Portugal e em Angola.

"Foi concedido crédito a José Guilherme em 2013 [quando Rui Guerra já era o presidente executivo do BESA]? E à Opway? E à Prebuild?", foi lançando o deputado socialista, sem obter as correspondentes respostas.