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O que defende o "marxista errático" que vai mandar nas finanças da Grécia?

27 jan, 2015 • Matilde Torres Pereira

Prioridades: lidar com a crise humanitária, reformar e falar a verdade sobre a insustentabilidade da dívida. O maior medo de Yanis Varoufakis, o novo ministro das Finanças da Grécia? Transformar-se num político.

O que defende o "marxista errático" que vai mandar nas finanças da Grécia?

Autodenomina-se um "economista acidental" e um "marxista errático". Diz que se juntou às listas do Syriza porque, a certa altura, "o pensamento crítico tem de se transformar em acção política directa". Yanis Varoufakis, professor de Economia da Universidade de Atenas, de 53 anos, é o novo ministro das Finanças da Grécia. Tem à sua espera os verdadeiros trabalhos de Hércules.

A primeira prova pode surgir já daqui a duas semanas, na próxima reunião do Eurogrupo. Os temas quentes do encontro deverão ser a eventual a extensão do programa de assistência grega e a nova renegociação da dívida prometida na campanha do recém-eleito primeiro-ministro Alexis Tsipras.

Yanis Varoufakis é um crítico acérrimo do "status quo" na Europa. No seu blogue, publica artigos de opinião e textos académicos sobre a crise do euro e compara a austeridade ao "waterboarding" – a tortura por simulação de afogamento.

"Em vez de discutir, nos fóruns da Europa, a natureza da nossa crise sistémica, os poderes instalados ocuparam-se a torturar fiscalmente as nações, deixando-as respirar rapidamente antes de voltar a submergi-las nas águas da iliquidez. Foi assim que a Europa começou a perder a sua alma e integridade, passando de um reino de prosperidade partilhada a uma jaula de ferro, uma prisão de dívida", escreve no blogue. 

Três prioridades
Numa entrevista recente ao canal britânico Channel 4, Varoufakis estabeleceu três prioridades para o novo governo da esquerda radical. A primeira será lidar com a crise humanitária, uma preocupação central do Syriza.

"É impensável que em 2015 tenhamos pessoas que até há um par de anos tinham empregos e casas e pequenas empresas e que agora estão a dormir na rua", disse.

A segunda prioridade de Varoufakis, segundo disse ao Channel 4, é fazer reformas profundas e atacar o "pecado triangular que existe na Grécia": "as empresas de serviços que se alimentam de rendas estatais, os banqueiros e as empresas de comunicação social", a que chama "as bases da oligarquia grega". "Vamos destruir as bases sob a qual assenta a oligarquia que, década após década, suga a energia deste país", promete.

A terceira prioridade estabelecida por Varoufakis é a renegociação da dívida grega. No primeiro contacto que alguém do Syriza tiver com Bruxelas, dizia na entrevista, deve "falar a verdade sobre a insustentabilidade da dívida pública". Como ministro das Finanças, será o próprio a ter de o fazer.

"A Grécia é onde tudo isto começou. Tem de ser aqui que começa também a inversão da fragmentação da Europa", escreve no seu blogue.

"O meu maior medo", confessa, "agora que me meti nisto, é que me possa transformar num político. Como antídoto para esse vírus, tenciono escrever a minha carta de demissão e mantê-la no bolso, pronta a entregar no momento em que sentir que há sinais de que estou a perder o compromisso de falar a verdade ao poder."