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"Troika" queria nacionalizar a banca portuguesa, diz Carlos Costa

15 jan, 2015

“Feito o balanço, e supondo que o interesse público é superior ao interesse do governador e do Banco de Portugal, acho que fizemos a escolha certa”, conclui Carlos Costa.

"Troika" queria nacionalizar a banca portuguesa, diz Carlos Costa
O Governador do Banco de Portugal revelou, esta quinta-feira à noit,e que a ideia da “troika” para a banca portuguesa era a nacionalização.

Durante uma conferência sobre a união bancária promovida esta noite pela Associação Portugal XXI, Carlos Costa referiu que existiam dois caminhos e que não se arrepende do que foi escolhido, depois de muita insistência do Banco central e do Governador. Apesar dos riscos, considera que foi a escolha acertada: “Tínhamos dois modelos alternativos para termos em 2012 o sistema financeiro todo nacionalizado por insuficiência de capital, e teríamos hoje um grande programa de privatizações em curso, tínhamos mais dívida pública; ou termos seguido o processo que seguimos, com os riscos que obviamente comporta, e segui-lo de forma metódica.”

“Feito o balanço, e supondo que o interesse público é superior ao interesse do governador e do Banco de Portugal, acho que fizemos a escolha certa”, conclui Carlos Costa.

Em fim de mandato, o Governador do Banco de Portugal diz que é por isso que as instituições de crédito nacionais estão agora num longo processo de convalescença, tendo acabado de salvar o país de um enorme aumento da dívida pública, como aconteceu noutros países sob intervenção.

Mas a ideia inicial do Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e União Europeia não era essa, revela: “A história dos bancos portugueses é uma de convalescença longa, que resulta do facto de se ter poupado o agente público a um endividamento súbito que teria uma dimensão de 20 ou 30 pontos percentuais. Quando a ‘troika’ cá chegou tinha um número na cabeça para o fundo de recapitalização que não era 12. Os 12 só foram possíveis depois de ajustarmos o modelo de escrutínio do sistema às necessidades de capital e ao que se podia fazer”.

Com a União Bancária em curso, o Governador alerta que muita coisa vai mudar, nomeadamente ao nível da necessidade de maior transparência. A banca vai ser diferente e as relações com as empresas também. Passará a haver bancos pan-europeus e bancos locais pouco significativos que terão de adoptar uma atitude conservadora em termos de riscos.

As necessidades específicas de cada país vão ser relativizadas e Carlos Costa considera que, em seu entender, os bancos nacionais vão ter desafios diferentes conforme a sua dimensão: Os bancos portugueses vão ter dois desafios diferentes. Os quatro significativos têm de saber como vão viver na ‘Champions League’, os que são menos significativos vão ter de acarinhar os seus aforradores e depois saber como valorizam de forma conservadora e remuneram os seus aforradores. Este vai ser o grande desafio”.

Além disso o Governador do Banco Central defende que é altura do sistema bancário rever as suas condições de rentabilização, uma vez que têm contratos com custos fixos há muito tempo. Há que substituir empréstimos com preços esmagados por empréstimos com spreads ajustados às novas condições, alerta, mas só será possível se conseguirem vender o crédito hipotecário, o que deverá ser feito em simultâneo com a retoma da economia.