22 dez, 2014 • António Jorge, coordenador musical da Renascença
Era Verão e, no final dessa tarde de 31 de Julho de 1991, quase todos os caminhos iam dar ao desaparecido estádio José de Alvalade. O cartaz prometia (e de que maneira) uma noite para mais tarde recordar – Simple Minds, Joe Cocker e os portugueses UHF.
Joe Cocker, que se estreou nas canções em 1969 e que nesse mesmo ano subiu ao palco do mítico Woodstock, trazia consigo "Night Calls", um disco seria editado em Outubro, onde o branco mais soul do mundo da música homenageava algumas das canções que mais admirava e que mais o influenciaram.
Os verdadeiros fãs de Cocker e os outros, os que apenas se deliciavam com as canções dos mais de 30 álbuns que gravou, circulavam desde muito cedo nas zonas que circundavam o estádio – porque era Verão, porque estava uma temperatura fantástica, porque cheirava a rock britânico e português de qualidade, mas, acima de tudo, porque ia estar no palco um dos maiores intérpretes do século XX.
Um dos maiores, pela atitude e sentimento que punha em cada canção que gravava ou cantava ao vivo, sempre como se fosse a última; um dos maiores, pelo enorme número de intérpretes rock e soul que influenciou ao longo de quase 50 anos de carreira.
Um dos maiores porque conseguiu quase sempre que as suas versões de canções míticas, como "With a Little Help For My Friends", dos Beatles, ganhassem ainda mais brilho.
Finalmente, um dos maiores pela sua forma de estar no mundo da música e fora dele – Cocker é hoje uma das referências incontornáveis da cultura pop do século XX e um dos nomes mais respeitados por gente dos mais variados universos.
Gravou o seu último álbum, "Fire It Up", em 2011, ano em que actuou pela última vez em Portugal.
De volta a 1991, estou de novo naquela quente tarde de Julho, junto à popular porta 10ª de Alvalade, quando pára junto a mim uma limousine preta para deixar sair o inimitável e jovem de 47 anos, Joe Cocker.
Disse "olá" e sorriu-me.
Bem, sinceramente, não tenho a certeza de que tenha sorrido. Mas eu irei recordá-lo sempre assim: a sorrir-me e a cantar hoje, como se não houvesse amanhã.
[Artigo actualizado às 00h40 - Disco "Night Calls" foi editado em Outubro de 1991]