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Nova carta da prisão. "Prende-se para calar", diz Sócrates

04 dez, 2014

Carta de três páginas, escrita à mão e a tinta vermelha, com críticas a juízes, procuradores, polícias, jornalistas e à "cumplicidade" entre eles.

Nova carta da prisão. "Prende-se para calar", diz Sócrates
"O sistema vive da cobardia dos políticos, da cumplicidade de alguns jornalistas, do cinismo dos professores de Direito e do desprezo que as pessoas decentes têm por tudo isto".

São acusações de José Sócrates, manifestadas numa carta de três páginas, escrita à mão e a tinta vermelha, enviada ao "Diário de Notícias".

"Prende-se para melhor investigar, prende-se para humilhar, para vergar. Prende-se para extorquir, sabe-se lá que informação. Prende-se para limitar a defesa: sim, porque esta pode perturbar o inquérito", diz o ex-primeiro-ministro.

Sócrates escreve ainda sobre outra forma de prender - na prisão da opinião pública -com a violação do segredo de justiça que, sublinha, só a defesa está obrigada a cumprir.

Neste ponto, o antigo líder do PS critica juízes, procuradores, polícias, jornalistas e à "cumplicidade" entre eles. "Nem precisam de falar - os jornalistas (alguns) fazem o trabalho para eles. Toma lá informação, paga-me com elogios. Dizem-lhes que é crime conhecerem, eles compensam-nos com encómios: magnífico juiz, prestigiado procurador; polícia dedicado e competente", escreveu.

O antigo chefe do Governo alegou também que em Portugal prende-se principalmente para "despersonalizar", salientando que a "pessoa deixa de ser cidadão face às instituições", ou seja "passa a ser apenas um recluso".

Sócrates termina a carta com uma pergunta: “Quem nos guarda dos guardas?”

O Supremo Tribunal de Justiça (STJ) rejeitou esta quarta-feira o pedido de libertação imediata de José Sócrates por “manifesta falta de fundamento legal”, dando assim razão ao Ministério Público.

No acórdão, os juízes defendem que a prisão preventiva do ex-primeiro-ministro não é um atentado ilegítimo à sua liberdade individual e reforçam a ideia, dizendo que não é um acto anómalo, nem grosseiro que se configure numa ilegalidade.

José Sócrates está detido no Estabelecimento Prisional de Évora, indiciado dos crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada, num processo que envolve outros arguidos, incluindo o empresário Carlos Santos Silva, também em prisão preventiva.


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