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Metade das PME não sobrevive mais de dois anos

27 nov, 2014 • Marília Freitas

Há mais empresas a fechar do que novas empresas a serem criadas, desde o início da crise, revela um estudo do ISCTE. São "reflexos fortes” da conjuntura económica.

Metade das PME não sobrevive mais de dois anos
Paula Gomes tem 40 anos, formação superior, criou a empresa na área em que fez o curso e faz parte das cerca de 30% de mulheres que estão à frente de empresas em Portugal. Foi um dos casos analisados no estudo do ISCTE sobre as PMEs portuguesas e os seus empresários. Há dez anos, era uma jovem engenheira química empreendedora disposta a arriscar na área do marketing olfactivo. Uma década depois, Paula lembra as dificuldades de arrancar com o negócio e olha para o futuro com optimismo.
Os portugueses sentem-se atraídos pelo trabalho por conta própria, mais até do que a média dos europeus, mas, depois de criada a empresa, nem tudo corre bem. Entre 2010 e 2011, 51% das pequenas e médias empresas (PME) criadas no país fecharam num período de dois anos.

“O que isto nos revela é uma perda de dinamismo da iniciativa e actividade económica na última meia década”, diz Ana Isabel Couto, autora da tese de doutoramento “As pequenas e médias empresas e os seus empresários”. E a tendência tem-se agravado nos últimos anos, revela a análise do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

Se em 2006, quase 60% das PME criadas sobreviviam mais de dois anos, em 2011 esse valor passou para 48,8%, ou seja, menos de metade.

Evolução da taxa de sobrevivência das empresas em Portugal, 2006-2011. Fonte: INE, em "As pequenas e médias empresas e os seus empresários: diversidade de contextos e de percursos de empreendedorismo em Portugal"

Existem “reflexos fortes” da recessão económica na actividade empresarial. Os números mostram ainda que desde 2008, o início da crise económica mundial, há mais empresas a fechar do que novas empresas a serem criadas.

“Em 2010 apenas nascem 11,9%, no mesmo ano morrem 17,4%”, constata. “Dito de forma muito simples, criar é fácil, mas depois sobreviver tem os seus desafios e é isso que importa”, analisa a socióloga.

Evolução da taxa de natalidade e de mortalidade das empresas em Portugal, 1998 - 2010. Fonte: INE e Eurostat, em "As pequenas e médias empresas e os seus empresários: diversidade de contextos e de percursos de empreendedorismo em Portugal"

Os números traduzem o “impacto negativo” da recessão económica no tecido empresarial português e mostram que afectou também a vontade dos portugueses de criarem o próprio emprego.

 
Trabalho por conta de outrém ou por conta própria? O modelo de trabalho preferencial dos portugueses, 2000-2012. Fonte: Flash Eurobarometer, em "As pequenas e médias empresas e os seus empresários: diversidade de contextos e de percursos de empreendedorismo em Portugal"

Nos primeiros anos deste milénio, mais de 70% manifestavam vontade de criar o seu próprio emprego. Contudo, desde 2002, são cada vez menos os que querem ser patrões de si próprios e, consequentemente, cada vez mais os que preferem trabalhar por conta de outrém.

Ainda assim, a percentagem de portugueses predispostos a trabalhar por conta própria (49%) é superior à média da União Europeia (35%).

O estudo cruzou dados do Instituto Nacional de Estatística, do gabinete de estatística da União Europeia, o Eurostat, e estudos de caso realizados pela investigadora.