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Surto de legionella já é o quarto maior de sempre no mundo

10 nov, 2014 • Maria João Cunha

Com a actualização para 233, o número de pessoas infectadas é dos maiores alguma vez registados no mundo. Último surto ocorrido em Portugal estava listado como caso de estudo, mas a dimensão era outra. Infectou 11 pessoas em Braga, em 2000.

Surto de legionella já é o quarto maior de sempre no mundo
Surtos de legionella como o que Portugal vive por estes dias são raros: este é já o quarto maior surto em número de casos alguma vez registado no mundo, ficando mesmo à frente do caso "zero", que deu nome à doença, revelam os dados do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC).

A doença dos legionários foi descoberta em 1976, depois de infectar cerca de 200 pessoas num hotel da Pensilvânia, onde se reuniam veteranos de guerra da Legião Americana.

No topo da lista de casos investigados e listados pelo ECDC, há dois que se destacam pela dimensão: um com 494 infectados, no Reino Unido; outro com 449, em Espanha.

O primeiro teve origem num sistema de ar condicionado, num centro cultural em Barrow, Reino Unido, em 2002. Sete pessoas acabaram por morrer e as autoridades locais, responsáveis pela manutenção do centro, chegaram a ser envolvidas num processo judicial que culminou na absolvição de todas as acusações de homicídio.

Em Múrcia, Espanha, um ano antes, as torres de refrigeração de um hospital provocavam o segundo maior surto de sempre. Chegaram a anunciar-se 800 casos suspeitos de infecção, só pouco mais de metade se confirmou. Seis pessoas acabaram por morrer.

Com 295 infectados, o surto de Miyazaki, no Japão, também em 2002, é o terceiro maior. Teve origem confirmada num balneário público com serviço de spa. Matou sete pessoas.

O aparecimento da legionella em equipamentos públicos de banhos é muito comum e volta a ser a causa do quinto maior surto, na Holanda, em 1999. Infectou 188 pessoas.

O caso de Braga 
Com o actual número confirmado de pessoas infectadas –  já são 233 – o surto que se começou a manifestar na última sexta-feira em Vila Franca de Xira será mesmo dos maiores de sempre.

Antes deste surto, Portugal já aparecia nesta lista de casos de legionella de dimensão considerável, no lugar 41, com um caso registado em Braga, em Setembro de 2000.

A investigação feita pela Direcção Regional de Saúde concluiu que a origem do surto estava numa fonte pública, com a qual tiveram contacto os 11 infectados, durante um concerto de música rock ao ar livre. Os pacientes tinham entre 33 e 73 anos, dez eram fumadores. Não se registou nenhuma morte. 

Segundo número sdo Programa de Vigilância Epidemiológica Integrada da Doença do legionário, entre 2004 e 2013 Portugal teve 962 casos confirmados, dos quais resultaram 86 mortes. 
A doença é de notificação obrigatória desde 1999, o que permite ter melhor noção do seu impacto real na populações. 

Grandes surtos são raros. Rapidez na detecção do foco é essencial
Os especialistas sublinham que surtos de grande dimensão são raros e, na maior parte das vezes, o aparecimento da legionella circunscreve-se a algumas dezenas de pessoas infectadas. Aliás, são apenas oito os casos na história da legionella com mais de 100 pacientes registados.

Os hospitais são foco frequente de infecções e um grande número de surtos começa ao ar livre, resultando dos aerossóis libertados por torres de arrefecimento sem manutenção regular.

O ECDC, a que pertence a Rede de Vigilância da Doença do Legionário, autora de relatórios regulares, deixa várias recomendações para o controlo da doença do legionário e sublinha: "é importante encontrar rapidamente a origem dos surtos e agir de imediato para remover a bactéria, uma vez que, com as condições climatéricas certas, têm o potencial para infectar um grande número de pessoas".

E dá o exemplo de um caso de 2004, em Pas-de-Calais, no norte de França, onde apareceram casos a mais de seis quilómetros do foco de contaminação. O tratamento de uma torre de arrefecimento foi ineficiente e acabou mesmo por provocar um segunda curva epidémica.

[Notícia actualizada às 18h00, com o número de casos confirmados. O surto passou de 6º a 4º maior de sempre.]