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A "quadratura do círculo" de Juncker

22 out, 2014 • Daniel Rosário, correspondente em Bruxelas

O primeiro e maior desafio que o ex-primeiro-ministro do Luxemburgo terá pela frente será a apresentação de um pacote de estímulos para relançar a economia europeia ao longo dos próximos anos.

Depois de dez anos de Durão Barroso, Jean-Claude Juncker é o senhor que se segue ao leme da Comissão Europeia.

O luxemburguês e a sua equipa de 27 comissários assumirão funções no dia 1 de Novembro e serão colocados à prova muito rapidamente.

O primeiro e maior desafio que o ex-primeiro-ministro do Luxemburgo terá pela frente será a apresentação de um pacote de estímulos para relançar a economia europeia ao longo dos próximos anos.

Esta foi a sua principal bandeira durante a campanha e actual situação na Zona Euro e do resto da União deixa pouca margem para perdas de tempos ou erros neste domínio.

Juncker comprometeu-se a divulgar a sua proposta no final dos primeiros 100 dias. A única coisa que se sabe é que a mesma assenta num pacote de 300 mil milhões de euros de fundos públicos e privados. De onde virá ao certo o dinheiro é algo que permanece no "segredo dos deuses", sendo de antecipar, sobretudo, o recurso a mecanismos já existentes, como o Banco Europeu de Investimento, cujo capital será reforçado, numa altura em que o fantasma de crise do euro parece estar de volta, com o nervosismo a afectar os mercados e a Grécia a voltar a estar no centro das preocupações.

Mas, neste domínio, Juncker herda de Barroso um delicado dossiê, cuja gestão será reveladora da sua capacidade e também da atitude que pretende assumir na guerra entre austeridade e crescimento.

Trata-se da implementação das regras do euro, que vários países se preparam para violar. França e Itália estão na primeira linha. Portugal parece ter optado pelo mesmo caminho.

Implementar de forma intransigente as regras e correr o risco de agravar ainda mais a recessão em alguns países; ou mostrar flexibilidade para tentar assim estimular o crescimento, correndo o risco de desacreditar as regras criadas no auge da crise do euro.

A "quadratura do círculo" que Juncker apresentar como solução e, sobretudo, as respectivas consequências práticas, poderão determinar os seus cinco anos em Bruxelas.

No entanto, ao longo desse período, o ex-presidente do Eurogrupo terá muito com que se entreter.

A conclusão das negociações do acordo de comércio livre entre a Europa e os Estados Unidos é outra das prioridades que herda de Barroso. A revisão das regras para a aprovação de organismos geneticamente modificados, a criação de uma verdadeira união energética e de uma política migratória mais eficaz são outros elementos pelos quais Juncker será avaliado.

Outro teste importante será a gestão das relações com o Reino Unido, país que se prepara para referendar a sua participação na União Europeia, bem como a forma como a Europa se relacionará com a Rússia, um dos seus vizinhos mais importantes e com quem as relações nunca estiveram tão deterioradas devido à acção de Moscovo na Ucrânia.

Haverá também os inevitáveis imprevistos que, de maior ou menor envergadura, não deixarão de influenciar e condicionar o mandato de Jean-Claude Juncker à frente da Comissão Europeia. Durão Barroso que o diga, ele que foi atropelado pela crise económica e financeira e pela guerra na Ucrânia.

 

 


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