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Vaticano anuncia programa da visita de Francisco à Turquia

21 out, 2014 • Filipe d’Avillez

Visita ao Patriarca de Constantinopla será o principal motivo da viagem, que ocorre numa altura de turbulência regional. Não está previsto qualquer encontro de Francisco com refugiados.  

O Papa Francisco visita a Turquia no próximo mês de Novembro, naquela que será a sua segunda viagem a um país de maioria islâmica no espaço de dois meses, depois de ter passado um dia na Albânia em Setembro.

A Santa Sé anunciou publicamente o programa da visita, que terá início no dia 28 de Novembro, com chegada a Ancara à hora de almoço, a que se seguem encontros com o presidente, o primeiro-ministro e o responsável estatal dos assuntos religiosos.

No dia 29, sábado, o Papa viaja para Istambul onde visitará o Museu de Santa Sofia, que foi em tempos a maior igreja cristã do mundo mas, após a queda do império Bizantino, foi transformada em mesquita e é agora um museu.

A única missa pública a que o Papa preside será também no sábado, após uma visita oficial à mesquita Sultão Ahmet. Nessa noite haverá uma celebração de oração com o Patriarca Ecuménico da Comunhão Ortodoxa, Bartolomeu I, com quem Francisco se encontrou na Terra Santa em Maio.

O encontro com Bartolomeu será mesmo o principal motivo da visita. Ao longo dos últimos anos tornou-se hábito o Vaticano e o Patriarcado Ecuménico enviarem delegações uns aos outros para assinalar os dias dos padroeiros de cada um. O padroeiro do Patriarcado de Constantinopla - como se chamava antigamente Istambul - é Santo André, cuja festividade é assinalada a 30 de Novembro.

O programa indica que haverá uma missa privada nessa manhã e, depois, Francisco participará numa Divina Liturgia, nome dado à celebração eucarística no Cristianismo oriental, presidida por Bartolomeu. A esta segue-se uma bênção ecuménica e a assinatura de uma declaração conjunta, altura em que o Papa fará um discurso.

Bartolomeu I é o principal Patriarca da Igreja Ortodoxa, a segunda maior comunhão cristã do mundo. Não tem sobre esta um poder equivalente ao do Papa sobre a Igreja Católica, servindo mais como “primus inter pares” e tendo uma primazia de honra e dignidade.

Depois de almoçar com o Patriarca, o Papa parte novamente para o aeroporto, de onde segue de volta para Roma.

Região conturbada
A visita à Turquia acontece num período muito conturbado para a região, com os terroristas do Estado Islâmico a ocupar grande parte da fronteira com a Turquia e os turcos a sofrer forte pressão para intervirem na Síria para socorrer os curdos que defendem a cidade de Kobani, que fica mesmo junto à fronteira, do avanço dos islamitas.

Só na Turquia estão, entretanto, centenas de milhares de refugiados dos conflitos na Síria e no Iraque.

Não há, contudo, qualquer indicação de uma visita do Papa às zonas mais afectadas por esta instabilidade. Tanto Istambul como Ancara ficam longe das regiões fronteiriças.

A comunidade cristã na Turquia é muito pequena, uma vez que a esmagadora maioria dos cristãos, que incluía arménios e assírios, foram expulsos ou fugiram após os massacres de 1915, que os arménios apelidam de genocídio. Já a comunidade grega, que era significativa, partiu quase toda após uma série de purgas e repatriamentos nas décadas 20 e 50 do século XX.

Actualmente, calcula-se que apenas 0,13% da população é cristã, na maioria ortodoxos mas com alguns católicos, principalmente de rito caldeu, à mistura.

A Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa bizantina estão separados desde o ano 1054. Desde meados do século XX, contudo, tem havido uma renovação das relações de amizade e de diálogo. Bartolomeu tornou-se, em 2013, o primeiro Patriarca de Constantinopla a estar presente na inauguração de um pontificado, quando viajou para Roma para assinalar a eleição de Francisco.

[Notícia actualizada às 15h22]