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O ébola e a história de um pânico contagioso

18 out, 2014 • Inês Alberti

Depois dos casos confirmados nos Estados Unidos e em Espanha, especialistas em psicologia pública temem que as pessoas entrem em pânico, mas avisam que para a histeria há cura.

O ébola e a história de um pânico contagioso
O Presidente dos Estados Unidos pediu, este sábado, aos americanos para que não cedam à histeria em relação ao ébola. Em França, iniciaram-se este sábado os controlos sanitários à chegada ao aeroporto de Charles de Gaulle, em Paris, nos casos dos voos vindos da Guiné-Conacri.

No dia 14 de Outubro, a Organização Mundial de Saúde avisava que a partir de Dezembro podem registar-se entre cinco mil a dez mil novas infecções por semana. Dois dias antes confirmava-se o primeiro caso do vírus nos Estados Unidos (onde já duas pessoas estão infectadas) e no princípio de Outubro, Teresa Romero tornou-se o primeiro caso de infecção fora de África.

Desde aí, as notícias sobre o ébola dispararam e, à lista dos sintomas do vírus hemorrágico, junta-se mais um tópico: o pânico – ainda que moderado a esta altura.

O jornal norte-americano "The New York Times" cita especialistas em psicologia pública que consideram as próximas semanas cruciais para conter a ansiedade das populações. “Os oficiais têm que ter muito, muito cuidado. Assim que a confiança se começar a desfazer, a próxima vez que eles disseram para não nos preocuparmos – vamos ficar preocupados”, explicou ao jornal Paul Slovic, presidente da empresa Investigação de Decisão.

Apesar da preocupação pública, o ébola não é assim tão fácil de transmitir quanto se pensa. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde e de centros de controlo de doenças, a malária, o sarampo, a papeira, a tuberculose, a hepatite B e a gripe são mais infecciosas que o vírus hemorrágico. Por outro lado, de todas as doenças referidas, o ébola é a que tem maior taxa de mortalidade.

Difícil o contágio, díficil a sobrevivência
Segundo o último balanço da OMS, já morreram 4.546 pessoas vítimas do pior surto do ébola da história, de um total de 9.191 casos. Em duas semanas morreram mil pessoas. É este ritmo alarmante do aumento do número de mortes e a aparente falta de controlo sobre o contágio que preocupa os Governos europeus e os Estados Unidos.

Os casos registados fora de África são de profissionais de saúde, o que surpreendeu tudo e todos, já que se pensava – conforme os Governos anunciavam – que os hospitais e as equipas médicas estavam preparados para lidar com o ébola.

Nos Estados Unidos enganaram-se duas vezes. Em Espanha, uma. Em Portugal ainda não há nenhum caso de infecção, mas num dos cinco casos suspeitos (de uma mulher no Porto) o protocolo não foi seguido, segundo explicou na altura à Renascença, o director-geral de Saúde, Francisco George.

Se, por um lado, o pânico sobre o ébola pode ser preocupante para as populações que, assustadas, podem acorrer aos hospitais quebrando o protocolo e sobrecarregando os sistemas, por outro pode ser benéfico na óptica das políticas.

Um abrir de olhos para os Governos ?
A verdade é que nos últimos dias os Governos europeus e dos Estados Unidos anunciaram novas directrizes sobre os fatos de protecção, por exemplo, e sobre as respostas de emergência.

Em Portugal, o director-geral de Saúde, Francisco George, clarificou que em caso de suspeita, deve-se ligar para a linha Saúde 24 (808 24 24 24) em vez de ir ao hospital. Também foram dados esclarecimentos aos bombeiros.

No Canadá, o Governo anunciou este sábado que vai enviar 800 vacinas experimentais para Genebra, a sede da Organização Mundial de Saúde que posteriormente vai decidir a distribuição do medicamento pelos países mais afectados. 

O Presidente Barack Obama apelou nos Estados Unidos ao público que não “cedesse à histeria” e nomeou Ron Klain - que apelidou de "czar" do ébola - para supervisionar a resposta norte-americana sobre o vírus.

Ainda este sábado, em França, o aeroporto Charles-de-Gaulle em Paris começou a verificar a temperatura dos seus passageiros oriundos da Guiné. Uma medida já adoptada em alguns aeroportos dos Estados Unidos, Guiné, Libéria e Serra Leoa. 
 
É por isso talvez demasiado precipitado entrar em pânico, mas, ao contrário do ébola, os especialistas garantem que há cura para este fenómeno: basta os cidadãos manterem-se informados e consultar os meios de comunicação com moderação.

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