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FORA DA CAIXA

Santana e Vitorino concordam. Ocidente falhou no Iraque

22 ago, 2014 • José Pedro Frazão

Os comentadores do "Fora da Caixa" concluem que, perante o falhanço da comunidade internacional, nos últimos anos, no Iraque, os ataques aéreos americanos são essenciais para travar o autodenominado Estado Islâmico.

Santana e Vitorino concordam. Ocidente falhou no Iraque
Tudo no Iraque falhou. A tese é de António Vitorino e é subscrita por Pedro Santana Lopes, no programa “Fora da Caixa” da Renascença. Os comentadores concluem que, perante o falhanço da comunidade internacional, nos últimos anos, no Iraque, os ataques aéreos americanos são essenciais para travar o autodenominado Estado Islâmico.

Tudo no Iraque falhou. A tese é de António Vitorino e é subscrita por Pedro Santana Lopes, no programa “Fora da Caixa”, da Renascença.

“A comunidade internacional, no seu conjunto, falhou completamente. Como falharam as autoridades iraquianas, para permitirem que depois do regime despótico de Saddam Hussein houvesse uma transição para uma situação minimamente estável”, defende o antigo comissário europeu.

Santana Lopes diz que ainda acreditou numa luz ténue de democracia no Iraque. “Houve um período em que ainda houve alguma esperança de alguma normalização democrática, mas tudo deflagrou”, sustenta o antigo primeiro-ministro, recordando como, em 2004, nas Nações Unidas, assistiu "in loco" a uma demonstração de apoio ao então primeiro-Ministro, Ahmed al-Chalabi.

“O balanço da última intervenção no Iraque é quase zero”, conclui o antigo líder do PSD. “ E vimos como a senhora Hillary Clinton veio criticar, recentemente, o Presidente Obama pela pouca atenção que terá dado àquele foco que existia a partir da Síria, ao modo como geriu a situação”, assinala.

Apoio à intervenção militar americana
Os comentadores do "Fora da caixa" consideram que todo o apoio militar aéreo fornecido pelos norte-americanos às forças iraquianas é inevitável para o combate aos radicais do chamado Estado Islâmico (IS).

“Acho que se justifica a intervenção militar americana. Admito que ela não vá mais longe, por razões que têm a ver com a mudança de paradigma que se verificou. Hoje é muito mais difícil mobilizar a opinião pública americana para uma intervenção no terreno do que era há uns anos”, aponta António Vitorino, que sublinha a importância da intervenção aérea no apoio aos iraquianos “e forças iranianas” que combatem o IS.

Santana Lopes é claro.” Não critico Obama. Penso que Obama está a fazer aquilo que, infelizmente, tem de ser feito. Nenhum de nós gosta de defender isso, mas temos até desta vez um Papa, o Papa Francisco, a compreender a intervenção para proteger as minorias que são perseguidas em nome de motivos religiosos”, assinala o antigo primeiro-ministro que pede mais empenho das Nações Unidas nesta crise, a exemplo dos apelos do Papa.

Vitorino anota que um dos sinais do “falhanço político grave da comunidade internacional” é a demora na substituição do primeiro-ministro iraquiano Nuri al-Maliki, “há apenas duas semanas e com muita dificuldade, afastando portanto um dos factores do sectarismo religioso que está na origem deste problema com que estamos hoje confrontados”.

O antigo ministro da Defesa considera que nenhum outro país do mundo, “nem mesmo a União Europeia, tem uma influência no Iraque equiparável à dos Estados Unidos. Portanto, os americanos têm que, em primeira linha, fazer um 'mea culpa' sobre os erros que cometeram na condução da política em relação ao Iraque. E, agora, o mínimo que se lhes pode exigir é que tenham esta intervenção militar, ainda que selectiva, para tentar conter a ameaça de um Estado que é hoje denunciado por exemplo pelo Irão e pela Arábia Saudita”, atira.

Silêncios na crise
Santana Lopes estranha a falta de posição explícita da ONU sobre as decisões de Obama. “Considero também mais insólito não ouvir as vozes que sempre reclamam, e bem, uma decisão prévia da ONU antes de qualquer intervenção externa, que desta vez não o façam. Podemos dizer: mas agora estamos perante um genocídio. Isso, felizmente, não é o que se verifica sempre quando há intervenções militares. A outra foi por eventual, nunca confirmada, presença de armas de destruição maciça”, defende o antigo primeiro-ministro, assinalando ainda o silêncio de líderes de países estratégicos, como a Jordânia ou Marrocos, nações identificadas com um Islão mais moderado.

“Vai levar tempo até nós podermos voltar a falar num Islão moderado, com alguma estabilidade”, projecta António Vitorino que sublinha que “por exemplo, a Arábia Saudita e o Irão não pode ser manifestamente considerados como exemplos de moderação”.

O antigo ministro da Defesa admite há alguma expectativa em relação às eleições legislativas na Tunísia, em Setembro, e, a seguir, a evolução de Marrocos. “Que comecem a criar aí alguns exemplos positivos de países islâmicos moderados com democracias estabilizadas. Mas há que reconhecer que da Argélia ao Médio Oriente a convulsão é total, passando pela Líbia, Síria, Iraque, Gaza, Egipto. Toda esta orla do Mediterrâneo Sul levará tempo a estabilizar”, remata o comentador.

O Fora da Caixa, que pode ouvir à sexta-feira a partir das 23h00, na Edição da Noite, é uma colaboração da Renascença com a EURANET PLUS, rede europeia de rádios.