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Directores do Garcia de Orta denunciam situações graves no hospital

29 jul, 2014

Falta de pessoal já levou à paralisação de blocos operatórios, nomeadamente por carência de especialistas, afirma um médico daquele hospital de Almada.

Um total de 42 directores de serviço do Hospital Garcia de Orta, em Almada, denunciam situações graves na instituição, como o adiamento de cirurgias, consultas e exames por falta de profissionais e equipamentos ultrapassados. 

A posição consta de um documento dos directores que representam a comissão médica do Hospital, que foi enviado para o Ministério da Saúde, a Ordem dos Médicos, grupos parlamentares da Assembleia da República, entre outros. 
 
Um dos subscritores do documento, que não quis ser identificado, revelou à agência Lusa as suas apreensões, considerando que a qualidade do serviço está ameaçada.
 
Este médico, e director de serviço, adianta que a falta de pessoal já levou à paralisação de blocos operatórios, nomeadamente por carência de especialistas. 
 
O médico lamenta que o Hospital Garcia de Orta, que atende toda a região do sul de Portugal, não seja tratado da mesma forma do que outros hospitais em Lisboa, reconhecendo que a instituição não tem a mesma força do que o Hospital de São João, no Porto, cujas reivindicações - algumas das quais comuns aos dois hospitais - foram cumpridas após ameaça de demissão dos directores de serviço. 
 
O clínico disse que, para já, não está decidida uma demissão em bloco, mas garante que estão a ser ponderadas medidas mais duras. 
 
Missão pode estar "gravemente" afectada
No documento que seguiu para o ministro Paulo Macedo, os médicos referem que "a saída de muitos médicos e enfermeiros do hospital, o impedimento da acção gestionária do conselho de administração e das estruturas intermédias de gestão do hospital, por via da centralização administrativa, no que concerne a políticas de recursos humanos e compras, afectará gravemente a prossecução da missão do Hospital Garcia de Orta e da sua actividade assistencial".

“Não nos assiste outro objectivo se não o de chamar a atenção aos órgãos da tutela, para a degradação, em termos de recursos humanos, que esta unidade hospitalar, mercê de causas internas e externas, tem vindo a sofrer, na esperança de que da análise do mesmo resultem recomendações que possam contribuir, para a melhoria da equidade e acesso a cuidados de saúde com qualidade no nosso hospital em particular e na Península de Setúbal, em geral", prossegue a Comissão.

Outra preocupação destes chefes de serviço - entre os quais a ex-ministra da Saúde Ana Jorge - prende-se com o estado dos equipamentos médicos, "em muitos casos completamente obsolescentes e com necessidade de substituição ou modernização urgente".

"Existem casos gritantes, como o da pediatria médica, com incubadoras, ventiladores mecânicos e monitores com 20 anos de uso, que pese embora ainda funcionantes, têm taxas de operacionalidade que comprometem a qualidade dos cuidados prestados", refere a comissão no documento.

Também nos cuidados intensivos de adultos há dificuldades, com "camas de 20 anos de uso, completamente inadequadas às necessidades atuais daquele tipo de doentes em termos de posicionamento ideal, não só pondo em causa a qualidade de assistência prestada como condicionando igualmente um elevado índice de lesões músculo-esqueléticas dos seus profissionais de enfermagem e assistentes operacionais".