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Gaza. "Ninguém arrisca sair de casa" na faixa da morte

21 jul, 2014

"Consigo ouvir explosões, consigo ouvir bombardeamentos", conta elemento dos Médicos Sem Fronteiras à Renascença. Ninguém escapa à violência – nem o pessoal médico.

Gaza. "Ninguém arrisca sair de casa" na faixa da morte

Samantha Maurin está ao telefone com a Renascença e as bombas não param de cair. É porta-voz dos Médicos Sem Fronteiras. Está em Gaza. "Consigo ouvir explosões, consigo ouvir bombardeamentos de tanques. A população de Gaza ainda está, neste momento, a ser bombardeada pelo exército israelita".

Trabalha num escritório a poucos metros do Hospital Al-Shifa, o maior complexo médico de Gaza. Uma equipa da organização não-governamental dá apoio ao pessoal médico.

Nas salas de reanimação do hospital, metade dos feridos graves morre em poucos minutos. Os que resistem precisam de cirurgias com urgência.

"As ruas de Gaza estão completamente desertas. As pessoas só saem de casa se for extremamente necessário. Os bombardeamentos estão a acontecer neste momento, eu consigo ouvi-los. Ninguém arrisca sair de casa", descreve.

Todos os dias chegam feridos ao Hospital Al-Shifa. "A maior parte dos feridos que chegam são crianças e mulheres", diz. Quase metade não tem mais de cinco anos.

Nas últimas duas semanas, 550 palestinianos morreram devido ao conflito entre Israel e Palestina. Pelo menos 100 eram crianças, dizem as autoridades da Palestina. Há 27 mortes israelitas a registar, avançou a CNN pelas 22h20 (hora de Lisboa).

Mulheres e crianças
As grandes vítimas do conflito são inocentes, relata Samantha Maurin.

"O que está a acontecer é que as bombas, quer sejam ataques aéreos, quer sejam bombardeamentos de tanques, estão a atingir casas. Gaza é uma área muito populosa. Por isso, se uma bomba cai numa casa obviamente fere famílias: mulheres e crianças. É isto que faz com que elas sejam as mais afectadas pela situação neste momento", diz.


Foto: Mohammed Saber/EPA

Também o pessoal médico está sob fogo. Membros da MSF já testemunharam a morte de dois paramédicos. Outros dois ficaram feridos quando tentavam resgatar civis, depois de um ataque à cidade de Ash Shuja’iyeh este domingo – o dia mais sangrento desde o início do conflito entre o movimento islamita Hamas e Israel.

No "site" dos Médicos Sem Fronteiras, a enfermeira Sarah Woznick deixou um testemunho.

Os médicos perguntam às crianças se têm medo, conta Woznick. Resposta de uma menina de dez anos que percorreu o caminho de casa até ao hospital a pé e sozinha: "Vocês sabem, todos nós vamos morrer um dia."