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Regresso pleno aos mercados serve para melhorar a imagem de Portugal

23 abr, 2014 • Filipe d’Avillez

Pela primeira vez desde a chegada da “troika”, Portugal emite Obrigações de Tesouro a dez anos sem a protecção de sindicatos bancários. Especialistas ouvidos pela Renascença estimam que a operação vai ser um sucesso.

O leilão da dívida desta quarta-feira deverá durar poucos minutos, vai resultar na colocação de toda a dívida e a procura vai superar em muito a oferta, considera Pedro Lino, da Dif Broker – uma empresa corretora de bolsa.

Esta é uma operação que está, acima de tudo, traçada para melhorar a imagem das finanças portuguesas: “É uma operação bem pensada, porque o objectivo é dar mais confiança aos investidores e uma imagem à Europa de que estamos a conseguir aceder aos mercados. O montante é baixo, logo é expectável que a procura seja muito superior e que a taxa seja mais baixa. Com isso vamos tentar dar uma imagem de que estamos a conseguir um pleno acesso aos mercados.”

A Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública pretende alcançar um financiamento entre 500 e 750 milhões de euros com uma taxa de arranque de 5,65%.

Para Pedro Lino, é natural que a taxa de juro se aproxime dos 3,65%, “um valor muito baixo em relação ao que temos assistido nos últimos meses, porque existe uma procura de dívida de países periféricos e Portugal vai sair beneficiado”.

Europa quer uma saída limpa de Portugal

O economista Carlos Bastardo aponta para números semelhantes e concorda que um valor desses, muito próximo das taxas dos mercados secundários, poderá ser considerado um sucesso para o Governo.

A confirmar-se, estas serão boas notícias para quem deseja uma saída “limpa” do programa de assistência financeira: “Uma vez que ao longo dos últimos meses a Europa tem mostrado que quer um sucesso e esse sucesso seria uma saída à irlandesa, ganha mais importância este leilão, uma vez que não vai haver o apoio dos sindicatos bancários, envolvendo bancos nacionais e internacionais”.

Até agora todos leilões da era da “troika” têm beneficiado do apoio desses sindicatos, que garantem não só uma taxa de juro máxima como também a colocação de uma certa quantidade de títulos do tesouro.

Ambos os especialistas concordam ainda que esta operação, apesar de importante para o Estado, não terá efeitos imediatos para a vida dos cidadãos: “Neste momento ninguém vai sentir o efeito, porque o que interessa é se no período pós-troika conseguimos emitir a taxas de juro baixas”, diz o corretor da Dif, Pedro Lino.

E a verdade é que nessa altura, no pós-troika, estaremos a falar de valores substancialmente mais altos, explica Pedro Lino: “Não são montantes de 750 milhões de euros, são montantes de 10 mil milhões a cada semestre, 20 mil milhões por ano. Isso sim é que são montantes que, se conseguirmos colocar a taxas mais baixas, vão dar um indicador de confiança a outros investidores para que comprem dívida a outros sectores da banca e essa sim, se a taxa dos bancos continuar a baixar, vamos ter uma repassagem para o sector produtivo da economia, os industriais, os empresários e os próprios consumidores.”

O sentimento de um ex-ministro das Finanças

“Isto é uma coisa que tem de se fazer”, diz o economista Braga de Macedo, ministro do Governo de Cavaco Silva, sobre a ida aos mercados, esta quarta-feira.

“O sentimento é muito claro: é que isto é uma coisa que tem de se fazer, tem de se testar sempre através de inovações várias os métodos de gestão da dívida, para que a reputação da República se afirme sobre todos os ângulos”, refere.

“Quanto à operação de hoje, a expectativa é esta: certamente abaixo de 4%. A minha ideia seria qualquer coisa na ordem do que vimos ontem, ou seja, 3,7%. Estamos, portanto, numa boa onda e é uma boa altura. Pode haver qualquer coisa amanhã e alterar, mas nessa altura já cá está o sinal”, sustenta.

O Leilão da dívida tem início às 10h30 e, segundo os especialistas, deverá terminar no espaço de poucos minutos.