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Eduardo Lourenço critica a "submissão mansa" de Portugal

21 fev, 2014 • Maria João Costa

A "crise suga o sangue que nem um vampiro", considera o ensaísta nonagenário.  

Portugal sob resgate não pode continuar numa “submissão mansa”. A convicção é de Eduardo Lourenço e foi expressa no festival Correntes d'Escritas que, até sábado à noite, decorre na Póvoa de Varzim.

A resposta a como vamos reagir à crise está no futuro, considera o ensaísta. Não a conhecemos, teremos de a construir. O repto foi deixado por Eduardo Lourenço no festival literário. Na Póvoa de Varzim, o ensaísta de 90 anos explicou porque é que a crise que atravessamos não tem rosto.“Esta crise nem sequer é propriamente europeia, vem do centro de um sistema que não tem centro. É uma espécie de crise sem sujeito, porque todos os paradigmas que conhecíamos até hoje foram afectados.”

E a crise, diz Eduardo Lourenço, "suga o sangue": “De repente fomos invadidos por uma espécie de vampiros, é como se estivéssemos a viver uma espécie de apocalipse em directo, não é de gente só armada no sentido terrorífico do termo, é qualquer coisa que nos suga o sangue”.

Mas o ensaísta sublinha a necessidade de reacção para sair da submissão a que Portugal sob resgate está sujeito. “Com tempo, com alguma sorte, sempre acabamos de sair desta espécie de atoleiro em que estamos mergulhados. É possível porque aconteceu muitas vezes na nossa história. Uma barca tão frágil como a nossa, mas foi a primeira que saiu desta Europa. Nós estivemos à beira de naufragar, de um abismo, eu sei o que é estar à beira do abismo, estou olhando para ele, está próximo o meu próprio fim. O que é válido para os indivíduos não é inválido para o que nos transcende. Não creio que devemos continuar nesta submissão mansa”.