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Bispos preocupados com "a imerecida penúria de muitos"

11 nov, 2013 • Filipe d’Avillez

Conferência Episcopal reúne até quinta-feira. No discurso de abertura, D. Manuel Clemente falou sobre os desajustes do mercado de trabalho e sublinhou ainda que a complementaridade homem-mulher é a base da humanidade.

Bispos preocupados com "a imerecida penúria de muitos"
Os bispos portugueses estão preocupados com a realidade laboral em Portugal e com a "imerecida penúria" de partes significativas da população. O tema do trabalho é um dos que vai estar em cima da mesa durante o encontro da Conferência Episcopal em Fátima, que começou esta segunda-feira.

"[Um ponto] que não poderíamos esquecer prende-se com a grave problemática que envolve o trabalho e a sua necessidade para o sustento e realização da humanidade de todos e de cada um", começou por dizer esta segunda-feira o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Manuel Clemente.

"Vivemos e sofremos tempos difíceis a este respeito. Teremos até a consciência de que se trata dum autêntico desafio civilizacional, rumo àquela sociedade que urge construir, com menos ganhos e dispêndios de alguns em contraste com a imerecida penúria de muitos; com outra organização do trabalho face às profundas mudanças tecnológicas, que tantas vezes o reduzem ou dispensam; face ainda às exigências irrecusáveis de populações inteiras que, na Europa ou batendo à sua porta, pretendem basicamente trabalhar e viver, senão mesmo sobreviver", acrescentou o também Patriarca de Lisboa.

"Enquanto responsáveis eclesiais que somos, cabe-nos uma palavra, mesmo que sucinta, para iluminar evangelicamente esta nova 'questão social', que tão arduamente nos desafia a todos", conclui D. Manuel Clemente a propósito desta questão .

Além dos desafios éticos do trabalho humano, a visão cristã da sexualidade, a propósito da ideologia do género, é outro assunto que os bispos consideram que urge discutir. No seu discurso de abertura, o Patriarca de Lisboa e presidente da CEP, D. Manuel Clemente, disse que tem esperança que a verdade cristã acabe por se reflectir na legislação.

Sobre a visão cristã da sexualidade, o Patriarca refere ainda que o Cristianismo "retira da revelação bíblica e da experiência geral da humanidade um conjunto de noções e práticas que sempre o definem como vivência e proposta". "Vê na complementaridade homem-mulher a base imprescindível do que a humanidade há-de ser como alteridade em comunhão."

Ainda assim, prosseguiu o Patriarca, "tempos recentes permitiram vivências mais individualistas e desvinculadas em relação àqueles padrões básicos da humanidade herdada, passando da 'natureza' fixa para a 'cultura' mais a gosto a determinação exclusiva do que cada qual queira ser".

Sobre as propostas da Igreja a este respeito, que mantém que o casamento é apenas entre um homem e uma mulher e desaconselha práticas como a adopção de crianças por parte de homossexuais, afirmou que vão acabar por prevalecer: "Tratando-se da verdade, enquanto adequação racional à realidade, cremos que ela fará o seu curso nas consciências e nas atitudes dos nossos concidadãos, quer nos costumes quer na própria legislação, mais ou menos cedo, mas certamente". 

De fora do discurso do Patriarca ficou qualquer referência às questões preparatórias do sínodo para a Família que o Vaticano enviou para cada diocese. Os bispos devem decidir, ao longo destes dias, como proceder ao levantamento das respostas para enviar à Santa Sé.