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Abriram-se as "algemas da história": EUA e Cuba reatam relações

17 dez, 2014 • Inês Alberti

Barack Obama e Raúl Castro anunciaram esta quarta-feira o início da normalização das relações entre os dois países, cortadas há mais de meio século.

Abriram-se as "algemas da história": EUA e Cuba reatam relações
O Presidente Obama admitiu que a política de isolamento não resultou com Cuba. Neste dia, "a América liberta-se das algemas da história", disse.
Os presidentes dos Estados Unidos e Cuba, Barack Obama e Raúl Castro, anunciaram esta quarta-feira o início da normalização das relações entre os dois países, cortadas há mais de meio século. Será aberta uma embaixada dos Estados Unidos em Havana, Cuba, pela primeira vez em mais de 50 anos.

O Presidente Obama admitiu que a política de isolamento não resultou com Cuba. Neste dia, "a América liberta-se das algemas da história". “Acredito que podemos fazer mais pelo povo cubano”, disse o Presidente norte-americano numa declaração pública. "Aos cubanos, os Estados Unidos oferecem uma mão amiga", acrescentou.

Obama disse que vai falar com os membros do congresso para anular o embargo comercial, financeiro e económico imposto pelos Estados Unidos a Cuba depois da revolução de 1959 que levou o comunista Fidel Castro ao poder.

Obama e Castro contaram que falaram pelo telefone na terça-feira para discutir os últimos pontos da libertação de Alan Gross, um americano preso em Cuba há cinco anos, que desencadeou a retoma de conversações entre os dois países.

Barack Obama e Raúl Castro, que discursaram simultaneamente durante a tarde desta quarta-feira, agradeceram ao Papa Francisco e ao Vaticano, respectivamente, o seu envolvimento na mediação da troca de prisioneiros que ajudou a desbloquear as relações EUA-Cuba. 

"Devemos aprender a arte de conviver de forma civilizada com as nossas diferenças", disse o Presidente cubano no fim da sua intervenção. Ao povo cubano, Castro prometeu que as negociações aconteceram "sem abrir mão de um único" dos princípios da Revolução Cubana e depois de "grandes perigos, sanções, adversidades e sacrifícios".

O que muda?
As principais mudanças nas relações diplomáticas entre Cuba e os Estados Unidos passam, entre outras medidas, por:
  • abertura de uma embaixada em Havana
  • possibilidade de viagem sem restrições entre os países
  • eliminação de Cuba da lista dos Estados que patrocinam o terrorismo
  • troca comercial de materiais de construção
  • possibilidade de as empresas americanas oferecerem os seus serviços a cubanos
  • permitir serviços de telecomunicação e internet em Cuba
"Nunca podemos apagar a história entre nós", acautelou Obama, frisando que Cuba ainda tem que melhorar alguns aspectos em termos de reformas económicas e de direitos humanos.

Também Raúl Castro reconheceu as diferenças que ainda existem entre os dois países, separados por poucos quilómetros de mar, mas diz estar "disposto" a trabalhar no sentido de melhorar as questões diplomáticas.
 
Dois cubanos assistem à declaração de Raúl Castro, em Havana. Foto: Ernesto Mastrascusa/EPA

Pelo mundo as várias opiniões começam a fazer-se ouvir. O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, considera as tréguas diplomáticas "muito positivas" e considera que está na altura de os dois países normalizarem as relações.

Já o senador republicano Marco Rubio criticou o acordo já que a Casa Branca "deu tudo" a Cuba, mas ganhou pouco.

[Actualizada às 18h00]