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Eleições no Brasil

Sete pontos que afastam Dilma de Aécio (e outros sete que aproximam)

22 out, 2014 • João Almeida Moreira, em São Paulo

Dilma quer manter-se Presidente, mas Aécio quer o seu lugar. Ambos são economistas, mas têm receitas diferentes para a economia do país. Belo Horizonte aproxima-os, a política diferencia-os.

Sete pontos que afastam Dilma de Aécio (e outros sete que aproximam)
Naturais da mesma cidade e frequentadores dos mesmos locais na infância e juventude, na vida pessoal há pontos de contacto entre a actual Presidente Dilma Rousseff, do PT (Partido dos Trabalhadores), e Aécio Neves, do PSDB. No entanto, os dois economistas tiveram necessariamente percursos pessoais e políticos distintos que culminam na segunda volta das eleições presidenciais do Brasil, no domingo.

Em traços gerais, de Dilma pode esperar-se a continuidade de um governo com forte foco nas políticas sociais, defendendo a intervenção do Estado na economia e a prioridade na criação de emprego.

Liberal, o candidato do Partido da Social Democracia Brasileira defenderá uma rígida política orçamental e acções de estímulo ao investimento.

No campo do discurso e das promessas, depois de em 30 anos o país se ter redemocratizado, controlado a inflação, diminuído a miséria e combatido as diferenças sociais, a hora é de focar na saúde e educação públicas. Ambos prometem investimento pesado nas duas áreas.

OS SETE PONTOS QUE APROXIMAM DILMA E ÁECIO

1. Belo Horizonte
Num país continental como o Brasil, nasceram na mesma cidade, Belo Horizonte, e terão, segundo relatos de amigos comuns, frequentado os mesmos clubes de fim-de-semana das classes média-alta e alta da capital de Minas Gerais, apesar da diferença de idades (Dilma tem 66, Aécio 54). No futebol, no entanto, Dilma torce pelo Atlético Mineiro e Aécio pelo arqui-rival Cruzeiro

2. Tempo fora de Belo Horizonte
Por motivos mais pessoais do que políticos, tanto Dilma como Aécio acabaram por passar muito tempo noutras cidades: a actual presidente em Porto Alegre, cidade onde se casou e desenvolveu a sua carreira política, e o candidato do PSDB no Rio de Janeiro, onde viveu a partir dos dez anos com os pais

3. Portugal na árvore genealógica
São ambos descendentes de portugueses, embora remotamente. Dilma da parte da mãe (de apelidos Coimbra da Silva), porque o pai era búlgaro de nascimento, e Aécio de parte de mãe e pai (famílias Neves e Cunha), embora tenha imigrantes austríacos na família.

4. Economistas
A receita económica que defendem é diferente, mas ambos formaram-se em economia.

5. Padrinhos de luxo
Têm ambos influentes padrinhos políticos: Dilma foi a escolha de Lula da Silva, a meio do segundo mandato do ex-presidente, para a sucessão; e Aécio a indicação pessoal de Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula e “alma” do PSDB

6. Fama de bons gestores
Como ministra da Casa Civil de Lula, cargo mais ou menos equivalente ao de primeiro-ministro em Portugal, Dilma ganhou fama de gestora competente, depois de como ministra das Minas e Energia já se ter destacado. Aécio, que saiu do governo de Minas Gerais com mais de 90% de aprovação popular, também é considerado um bom administrador público.

7. O Estado no discurso
Apesar de todas as diferenças programáticas, incidem grande parte do discurso nas políticas públicas, área considerada prioritária nesta fase da vida do país. Dilma já viu aprovada no seu mandato a decisão de investir 25% dos “royalties” do pré-sal em saúde e educação, Aécio propõe respectivamente a aplicação de 10 e 7% do PIB nas duas áreas.

OS SETE PONTOS QUE AFASTAM DILMA DE AÉCIO

1. Personalidades
Além das óbvias diferenças de género e de idade, a personalidade também é quase oposta: os próximos de Dilma vêem-na com uma mulher determinada, dinâmica, culta, exigente, por vezes rude, de hábitos austeros e sem o dom da palavra; de Aécio destaca-se a simpatia no trato, o talento natural para a política, o discurso bem articulado, a facilidade em conquistar amigos e a tendência para desfrutar dos prazeres da vida

2. Berços
Dilma interessou-se por política poucos anos depois do golpe militar de 1964 no país, esteve presa quase três anos, foi torturada e só entrou discretamente na vida pública em 1985, quase com 40 anos; Aécio, neto pelo lado da mãe de Tancredo Neves, um dos políticos mais notados da segunda metade do século passado no Brasil e primeiro Presidente eleito após o regresso da democracia em 1985 (faleceu, porém, antes da posse) e filho e neto pelo lado paterno de deputados, nasceu em berço político. Mesmo 12 anos mais novo, entrou na política antes de Dilma, logo aos 21, assessorando o avô Tancredo

3. Como crescer?
Em matéria de propostas, na economia, Dilma acredita num crescimento assente no consumo, no aumento de salários e no baixo desemprego. Já Aécio defende menos Estado e uma política orçamental rigorosa para atrair investimento privado

4. Bancos públicos
Dilma faz dos bancos públicos (Caixa, Banco do Brasil e BNDES) a alavanca para o financiamento das empresas. Aécio vai requerer uma auditoria aos bancos estatais e promete profissionalizá-los. O seu candidato a ministro das finanças admitiu extingui-los no futuro.

5. Programas sociais
No plano social, a actual Presidente vai manter os programas que foram a marca da gestão do PT nos últimos anos, em especial os dois principais, o “Bolsa Família” e o “Minha Casa, Minha Vida”. Aécio reclama que a génese desses programas está nos governos PSDB, anteriores aos do PT, e, apesar das suspeições levantadas pelos adversários, diz que não acabará com ele – mas admite “aprimoramentos”

6. Costumes
Ainda na área social, mas noutro âmbito, Dilma quer criminalizar a homofobia, enquanto Aécio apoia a união civil entre pessoas do mesmo sexo. São ambos contra a descriminalização da canábis. As forças mais liberais em matéria de costumes estão ao lado do PT e as mais conservadoras com o PSDB, mas os dois candidatos, em si, não têm posições muito diferentes nestes temas

7. Política externa
Na política externa, se Dilma dá prioridade à relação com o Mercosul, Aécio despreza a aliança comercial sul-americana nos termos em que está. O candidato quer mais acordos bilaterais e o desenvolvimento das relações com Estados Unidos e União Europeia. A China, com Dilma ou Aécio, continuará a ser parceiro importante.