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Silva Peneda

"Se Juncker quiser contar..." que conte como foi a escolha do Comissário Europeu

20 set, 2014 • José Bastos

Silva Peneda, favorito do presidente da Comissão Europeia para a pasta do Emprego e Assuntos Sociais, "não quer alimentar qualquer polémica". Passos decidiu. Está (bem) decidido.

Jean-Claude Juncker pretendia ver Silva Peneda na Comissão Europeia com uma pasta de enorme visibilidade, a do Emprego e Assuntos Sociais, mas Pedro Passos Coelho vetou, disse Manuela Ferreira Leite, na TVI24. Em vez do presidente do Conselho Económico e Social, o primeiro-ministro escolheu Carlos Moedas, ex-secretário de Estado adjunto.

Ainda, na versão de Manuela Ferreira Leite, “a importantíssima” pasta do Emprego e Assuntos Sociais “não era para Portugal, era para um português: Silva Peneda”. Assim, Juncker atribui a Carlos Moedas a pasta da Investigação e Ciência.

No programa “Conversas Cruzadas”, da Renascença, Silva Peneda, lacónico, confirma, ainda assim, tacitamente a versão de Manuela Ferreira Leite.

Afirmando “não ter nenhum interesse para o país saber uma história com muito de pessoal”, o ex-ministro de Cavaco Silva devolve o foco a Bruxelas: “Se Juncker quiser um dia contar a história que conte”.

Confirma a versão da dra. Manuela Ferreira Leite?
Já disse o que tinha a dizer e nada mais vou acrescentar por uma razão simples: passava a ser o protagonista e não me quero colocar em bicos de pés num assunto que está arrumado e decidido. Eu sei da história, algumas pessoas mais íntimas sabem da história, conheceram a evolução deste processo. Quem tem poder de decisão decidiu da forma que entendeu ser a mais adequada para os interesses do país. O assunto está arrumado. Não quero alimentar nenhuma polémica sobre esta questão. Se o sr. Jean-Claude Juncker quiser, um dia, contar esta história... ele que a conte. Ele já a contou a algumas pessoas, isso eu sei. Agora, da minha parte, não vou abrir mais a boca sobre este assunto.

Mas o processo de escolha de um Comissário Europeu não é de interesse do país?
Não tem nenhum interesse para o país estar alguém a contar uma história que tem muito de pessoal. As pessoas diriam: “este está ferido, porque queria ir e não foi”. Não estou nada ferido. É preciso encarar com normalidade: em democracia há processos de decisão em que, imagine, quatro pessoas têm de estar de acordo na decisão e há três que estão de acordo, mas uma não.

Mas tem explicação para, aparentemente, Passos Coelho não ter estado de acordo?
Não. Não e nem tenho de ter nenhuma explicação. Passos Coelho é o primeiro-ministro de Portugal. Tem um poder legítimo. Decide de acordo com aquilo que entende serem os interesses nacionais. Ponto final.

Mas é sua a frase desta semana na capa do jornal “i”: “não saio do PSD, mas o partido vai saindo de mim”...
Essa frase foi espontânea e tem a ver com um sentimento pessoal. Os tempos são outros e provavelmente alguma coisa tem de mudar. Agora, eu mantenho-me fiel a um conjunto de preocupações que têm muito de componente social.

Diz que este PSD já não tem essas preocupações - está longe da classe média?
A classe média é fundamental. Foi a base de apoio do PSD. Acho que as coisas têm sido conduzidas no sentido da classe média ser fustigada, estar praticamente a desaparecer o que é muito mau para a sociedade portuguesa. O programa da “troika” devia ter sido aplicado com algum doseamento. Foi uma aplicação muito rápida, muito intensa. Foi brutal. Continuo a dizer que mantenho muitas dúvidas sobre os efeitos positivos que o programa de ajustamento vai ter na estrutura produtiva portuguesa, a sofrer, há muito, de desequilíbrios muito profundos. Não é com a receita da “troika” que a estrutura produtiva portuguesa pode melhorar.

O programa "Conversas Cruzadas" é emitido ao domingo na Renascença depois do noticiário do meio-dia.