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Visita do Papa à Coreia do Sul

Ásia. Um continente, vários caminhos do cristianismo

12 ago, 2014 • Inês Alberti

Nas Filipinas e em Timor, quase todos são cristãos. Já no Japão só 1%. A Coreia do Sul é uma nação missionária. E a China surpreende. É assim o continente que o Papa visita a partir de quinta-feira.

Ásia. Um continente, vários caminhos do cristianismo
Se na Europa o número de católicos tem vindo a diminuir, o mesmo não se pode dizer do que se passa no outro lado do globo. A Ásia é a região com maior crescimento da população católica, indicam dados do Vaticano relativos ao ano de 2012.

Na Ásia, os católicos são mais de 130 milhões, estando o seu número em crescimento face a anos anteriores, e há cada vez mais padres a serem ordenados, ao contrário do que se verifica na Europa.

O continente que o Papa Francisco visita pela primeira vez, de quinta-feira a segunda-feira, tem cristianismo quase desde que há cristianismo, explica Sérgio Ribeiro Pinto, investigador do Centro de Estudos de História Religiosa na Universidade Católica.

O catolicismo praticado na Ásia vive-se mais intensamente, diz o especialista, e há uma preocupação permanente em seguir as indicações de Roma e do Papa.

Aceitação e recusa
"Há notícias históricas do cristianismo na Ásia desde os primórdios do próprio cristianismo", explica Sérgio Ribeiro Pinto. "As primeiras penetrações da religião no continente, chegando através da rota da seda, deram-se nos inícios da Idade Média."

Até ao século XII, essas trocas comerciais foram permitindo a expansão da religião pelo Oriente e fixando comunidades sobretudo no espaço indiano e chinês.

A chegada dos europeus à Ásia correspondeu a uma segunda fase da implementação da fé cristã na região, "quer por trocas comerciais, quer por fixação dos impérios [português, espanhol, britânico, holandês] em diferentes espaços da Ásia."

Goa, Macau e Hong Kong eram importantes destinos de várias rotas comerciais. Por isso, os seus povos estavam habituados ao contacto com outros que consigo traziam outros costumes. Tal pode ter favorecido uma maior aceitação do cristianismo.

Porém, diz o historiador, o "processo de implementação" é "muito complexo e muito longo. Há vagas sucessivas ora de aceitação, ora de recusa desta nova tradição religiosa. As populações locais e o poder político não viam esta tradição como interior àquelas culturas, era vista como algo intrusivo, algo exterior a essas sociedades", diz Ribeiro Pinto.

Nos países onde as autoridades locais continuaram a ter um forte grau de autonomia em relação às potências recém-chegadas, a religião encontrou fortes barreiras à sua propagação. Onde os impérios portugueses, espanhóis ou holandeses se conseguiram instalar e consolidar, a fé cristã seguiu o mesmo caminho.

Residual no Japão, dominante nas Filipinas
Com a passagem do tempo, de missionários e exércitos, o cristianismo começou a moldar-se consoante o país. A ponto de se deixar de poder falar de cristianismo na Ásia, mas antes de cristianismo no Japão ou nas Filipinas.

A Coreia do Sul, o país que o Papa vai visitar, está entre as nações que envia mais missionários para espalhar a fé cristã pelo mundo. Apesar do grande número de ateus, a maior parte da população religiosa é cristã.

No Japão, segundo um estudo do instituto de investigação cultural da televisão NHK, só 1% da população é cristã.

Os primeiros jesuítas a chegar ao Japão, portugueses, encontraram um país budista. Inicialmente, os nativos mostraram alguma abertura e liberdade religiosa, que resultou na conversão de meio milhões de pessoas, segundo o "site" Patheos, que fornece informação sobre as várias religiões.

No entanto, a viragem para o século XVII representou também uma viragem da mentalidade religiosa no país. O cristianismo foi banido e os seus seguidores perseguidos e assassinados.

"Quando o Japão se abriu novamente no século XIX à presença ocidental, com grande surpresa descobriram-se comunidades católicas que tinham sobrevivido e recitavam orações em latim ou em português. Hoje em dia, no entanto, a adesão ao catolicismo não acontece", explica Peter Stilwell, reitor da Universidade de São José em Macau.


Católicos celebram o Natal na Indonésia. Foto: EPA

As Filipinas e Timor-Leste demonstram como a presença política e cultural dos europeus facilitou os esforços de missionação e a conversão das populações, diz Sérgio Ribeiro Pinto.

Nas Filipinas, controladas pelos espanhóis até ao século XIX e depois tomadas pelos Estados Unidos, 93% das pessoas são cristãs e à volta de 81% dos filipinos seguem a fé católica. É o país asiático com mais católicos.

Timor: a fé como resistência
Timor, o segundo país do "ranking", é um caso "curioso", diz Stilwell.

"Quando os portugueses saíram do país, tinham baptizado um terço da população. Quando os indonésios saíram, mais de 90% da população era católica." O catolicismo tornara-se marca de "identidade nacional contra a presença indonésia."

Logo a seguir às Filipinas, a antiga colónia portuguesa é o segundo país asiático com mais católicos.

Surpreendente China
Para Peter Stilwell, o país asiático "onde nos podemos surpreender mais com a religiosidade é na China".

Eis "um país que é comunista, militantemente ateu, pelo menos durante uma boa parte do regime actual", mas que, ultimamente, tem revelado "uma abertura para as religiões".

O padre lembra discursos do Presidente que falam da importância das religiões para o desenvolvimento. No entanto, Xi Jinping refere-se apenas às religiões tradicionais chinesas.

Segundo um estudo de 2010 do Pew Research Center, 5,1% dos chineses são cristãos. O número está em amplo crescimento.

"As pessoas estão a bater à porta das comunidades protestantes", conta o reitor da Universidade de São José em Macau. "Há uma série de valores que atravessam a infra-estrutura material e cultural da China que pode ser que ajudem a explicar" o fenómeno.

Subsistem, porém, perseguições aos cristãos, denunciadas pelo arcebispo emérito de Hong Kong, o cardeal Joseph Zen.