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Viver da pesca em Trás-os-Montes. Esta é a história de Chico Barbas

11 ago, 2014 • Olímpia Mairos

Na única aldeia piscatória transmontana os pescadores vão rareando, mas a autarquia de Torre de Moncorvo quer relançar esta arte e dar vida nova à Foz do Sabor.

Viver da pesca em Trás-os-Montes. Esta é a história de Chico Barbas
Com pouco mais de 90 habitantes, a pequena localidade da Foz do Sabor, a seis quilómetros de Torre de Moncorvo, é a única aldeia de pescadores na região de Trás-os-Montes.

Apesar de estar situada no fértil Vale da Vilariça, a população sempre se dedicou, ao longo dos séculos, à actividade piscatória, sustento de praticamente todas as famílias.

Antes da construção das grandes barragens do rio Douro, já lá vão uns bons 50 anos, o peixe abundava por ali e era vendido nos concelhos vizinhos do sul do distrito de Bragança. Actualmente, a Foz do Sabor é bastante procurada por turistas e pelos apreciadores dos saborosos pratos de peixes do rio, em que as migas de peixe assumem um lugar de destaque, consideradas por muitos como uma verdadeira iguaria gastronómica.

Os pescadores é que vão rareando e já são poucos os que se dedicam a tempo inteiro a percorrer as águas “límpidas e transparentes” dos rios Sabor e Douro, à procura de escalos, barbos, percas, achigãs e carpas.

Os últimos pescadores
Chama-se Francisco, mas na aldeia todos o conhecem por Chico Barbas. É assim que se apresenta e gosta de ser chamado um dos últimos pescadores da Foz do Sabor. No seu pequeno barco rabelo, cruza diariamente as águas dos rios Sabor e Douro, à procura de peixe. É desta actividade que ainda sobrevive.

"No passado, a pesca não era para qualquer um. Era uma tarefa muito difícil, mas vinha aqui, à aldeia, gente de todo o distrito à procura de peixe. Muitas famílias foram assim criadas”, recorda.

Na aldeia da Foz do Sabor, onde chegaram a viver mais de 300 pessoas, só duas famílias é que não se dedicavam à arte da pesca. Contam-se pelos dedos de uma mão os pescadores que teimam em lançar as redes às águas porque “não é rentável”, diz Chico Barbas e, por isso, “já são poucos e cada vez estão mais velhos”.

Na memória dos mais velhos prevalecem as imagens dos tempos duros da pesca. No Inverno os pescadores pernoitavam no barco, para recolher as redes que traziam o pescado.

Ramiro Relhas, o mais velho pescador da Foz do Sabor, com 84 anos, conta que começou bem cedo a actividade nas águas do rio. “Comecei a pescar quase quando nasci. Acabei com a escola e vim logo para aqui”, lembra à Renascença, recordando os tempos áureos da pesca, em que no barco andava sempre um colchão. Era aí que dormia enquanto as redes esperavam os peixes.

"Poucas vezes íamos a terra, tanto eu como a minha mulher, e assim rentabilizávamos o tempo e a pescaria que era desenvolvida quase até ao Pocinho", conta.

Sonhos e projectos
A actividade piscatória parece já não ser rentável e os poucos pescadores da Foz do Sabor gostariam de encontrar formas de subsistência que, segundo Chico Barbas, poderiam passar por utilizar os típicos barcos rabelos como meio de transporte fluvial para turistas.

"Há muita gente que me pede para dar uma volta no meu barco rabelo, mas há muitas restrições e muita fiscalização por parte das entidades marítimas”, conta o pescador, solicitando às autoridades competentes “a revisão da legislação que regulamenta o sector”, a fim de poder “trabalhar”.

A autarquia de Torre de Moncorvo mostra-se empenhada em dinamizar e rejuvenescer a actividade piscatória na aldeia da Foz do Sabor e, através do Gabinete de Apoio a Investidor, vai apoiar a recuperação e pintura dos barcos tradicionais.

"A Foz do Sabor é um dos ex-líbris turísticos de Torre de Moncorvo. Queremos, que a actividade piscatória seja relançada e continue, assim, a um ser um modo de vida sustentável na região", afirma o presidente da autarquia, Nuno Gonçalves.

Um cais para barcos de grande calado e uma nova fluvina fazem parte dos projectos da autarquia para atrair os turistas que viajam nos grandes barcos que diariamente sobem o rio Douro, desde Porto até à Barca de Alva.