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Eunice Lourenço

Lá num país cheio de cor...

14 mai, 2014

A China e os chineses têm dinheiro e há 150 países a quererem vender-lhes algo. Portugal é só um deles.

Lá longe, na ponta da Europa, mas que pode ser também a sua porta de entrada, há um jardim à beira mar plantado, um país que tem uma extensa costa marítima de rara beleza, um clima agradável, muito sol e luminosidade, excelentes campos de golfe, um povo hospitaleiro, boa comida, segurança e uma rede de qualidade de apoio à saúde. Enfim, um país onde apetece viver, ou, pelo menos, passar umas temporadas.

As descrições são do Presidente da República, na abertura de um dos seminários económicos que marcam a sua visita à China. Conhecendo o ar cinzento e a poluição de Xangai e Pequim - onde só há mesmo cor à noite e por causa dos néons - ainda se percebe melhor como Portugal pode ser atractivo. E, sabendo que um lugar de garagem em Xangai pode custar 300 mil euros, também melhor se percebe como um chinês com dinheiro verá como óptimo negócio uma casa em Portugal por 500 mil e que, ainda por cima, lhe dá direito a um visto gold, com direito de circulação na União Europeia.
 
A China e os chineses têm dinheiro e há 150 países a quererem vender-lhes algo. Portugal é só um deles. E até pode ter algumas vantagens comparativas, para além do sol e da cor, como serão a boa relação com o poder chinês graças ao sucesso da transição de Macau.  Cavaco Silva, que já vai na terceira geração de líderes chineses com que contacta, sabe bem disso e saberá bem do que fala quando diz que esta sua visita é histórica e é "o maior esforço que alguma foi feito" para reforçar as relações económicas e de investimento com a China.

Em Xangai, o maior centro económico e financeiro com a China, Cavaco Silva e António Pires de Lima formaram como que uma dupla de caixeiros-viajantes, colocando à frente de grandes empresas chinesas o que Portugal ainda tem para vender:  o sol e o mar e os campos de golfe, os azeites e os vinhos, mas também e sobretudo os transportes de Lisboa e Porto, os novos investimentos em infra-estruturas, a gestão dos resíduos, a TAP...
 
Ora, os chineses já têm a energia e uma boa parte dos seguros. O resgate aguçou as necessidades e o engenho e os chineses investiram quando parecia que quase mais ninguém queria. Mas talvez seja tempo para pensar, mesmo sem parar. Será que Portugal já reflectiu quanto poder mesmo lhes quer dar? Como diz o vice-presidente da Câmara de Comércio Luso-Chinês, "os chineses querem conquistar o mundo e estão a fazê-lo" através do dinheiro. E nós corremos o risco de estar a ser conquistados, achando que os estamos a conquistar com uma promessa de país cheio de sol e de cor.