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"Por que motivo ele é padre? Porque é feliz?"

18 nov, 2013 • Filipe d’Avillez

Têm 26 e 31 anos. São padres recém-ordenados, que por vezes se sentem "muito pequenos" perante o desafio de servir outros. Já se sentiram sós e agora procuram ser mais: "Sinto que onde estou, onde vivo, a Igreja tem de ser para mim uma família".

Foi a alegria que o cativou. Uma alegria que não era dele, mas que ele desejou. Filipe Diniz tinha 18 anos: um pároco chegava à aldeia, nas imediações de Cantanhede, e trazia interpelações e felicidade. "Deu-me uma perspectiva da Igreja de que não estava à espera. Isso incomodou-me, interpelou-me. Foi um grande testemunho. A alegria dele fez-me questionar 'por que motivo ele é padre?', 'porque é feliz?'." Hoje, é Filipe Diniz que leva alegria a outros - tornou-se padre há cinco anos. Tem 31.

João Silva decidiu-se mais cedo. Sabia que queria ser padre desde a primária, que cursou em São Silvestre (Coimbra). Quando veio o quinto ano, entrou no pré-seminário e progrediu até à ordenação, em 2011. Agora que tem 26 anos e responsabilidades em oito paróquias, conta que a caminhada foi longa e enriquecedora, mas por vezes solitária. "Muitos dos meus colegas de seminário foram saindo ao longo deste percurso. Frequentemente me vi sozinho, no meio de tantos que entravam no início do ano e depois saíam. Os que entraram comigo no seminário menor de Aveiro eram 12 ou 13, mas só eu acabei por me ordenar padre." 

A saída do seminário proporciona acontecimentos inesperados, por mais que os formadores procurem preparar os futuros sacerdotes para o que há-de vir. "Saímos sempre com uma sensação de que há um mundo enorme à nossa frente, há sempre essa sensação de pequenez face a um mundo tão grande, tantos desafios que vamos encontrando como párocos", diz o padre João Silva. "Às vezes, sinto-me muito pequeno perante estes desafios, desde o crescente número de pessoas que temos de servir, a dificuldade em conhecer cada pessoa, a dificuldade em conseguir acompanhar tantas histórias, tantas situações, esta urgência de termos sempre algo de novo para anunciar a mensagem e que seja criativo e pertinente... Às vezes, tenho dificuldade em dar resposta."

Filipe Diniz lamenta o desaparecimento do espírito de unidade entre os colegas de seminário. "Como padres novos, partilhamos os mesmos sentimentos e os mesmos desafios. À medida que vamos saindo do seminário, aquele ambiente que o seminário cria - o espírito de família, por sairmos para diversas realidades - acaba por desaparecer."

Para responder a dificuldades como esta, a diocese de Coimbra, à qual ambos pertencem, começou a promover há vários anos encontros de padres novos com o bispo. Na definição de "padre novo" encaixam todos os que foram ordenados nos últimos dez anos. João Silva explica a validade destes encontros. 

"É essencial para um bispo esse encontro pessoal, o estar com os sacerdotes, conhecer a sua história de vida, estar disponível para escutar. Nós, os padres novos, sentimos falta desse acompanhamento mais próximo. Para mim, é essencial saber que o meu bispo tem tempo para me escutar e tem essa preocupação."

Filipe Diniz, que considera fundamental os encontros com o bispo, descreve uma outra protecção indispensável. "Ao longo deste tempo como padre, a minha família é o meu porto de abrigo. Uma vocação sacerdotal não é mais do que este apoio. Sinto que onde estou, onde vivo, a Igreja tem de ser para mim uma família. Se eu tenho uma vivência num núcleo familiar, vou servir esta Igreja também numa perspectiva familiar."