07 mai, 2018 - 08:00 • Dina Soares , Joana Bourgard
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Carlos Alberto nasceu ao fundo da Rua do Vale Formoso, junto ao apeadeiro de Cabo Ruivo, na freguesia lisboeta dos Olivais. Os pais foram para ali viver quando se casaram. O Carlos nasceu ali, foi ali que cresceu, que se casou, que os seus filhos nasceram. A sua casa ficava na Vivenda Fernandes que era, na realidade, um conjunto de dois prédios, um datado de 1925, outro de 1928.
A Rua do Vale Formoso continua a existir, mas o apeadeiro de Cabo Ruivo desapareceu há muito e a Vivenda Fernandes foi destruída há mais de 20 anos. As 21 famílias que ali viviam foram desalojadas para dar lugar à construção da Expo 98.
Carlos Alberto começou a ouvir rumores em 1993, quando Portugal foi escolhido para organizar a última exposição internacional do século XX. Mas só dois anos depois é que chegou a confirmação. “Começaram a chamar as pessoas uma a uma e a oferecerem-lhes dinheiro. Entretanto, já tinham começado a desmantelar as petrolíferas e nós vimos que não tínhamos hipóteses.”
Na verdade, não era muita gente. Seriam umas 80 pessoas. Ainda fizeram uma pequena manifestação de protesto, mas acabaram por se conformar. Carlos recebeu 6 mil e 500 contos. Pediu mais 3 mil e 600 ao banco e comprou uma casa em Alverca, onde continua a viver até hoje.
Outras famílias, vindas da Vivenda Fernandes e de outras zonas abrangidas pela Expo, espalharam-se maioritariamente por Alhandra, Vialonga e Póvoa de Santa Iria. As condições nem foram más, reconhece Carlos Alberto, mas a comunidade ficou perdida para sempre. “O que me custou mais foi separar-me dos meus amigos. Eu tinha nascido ali, o meu filho mais velho já tinha 16 anos. Essa foi a parte pior.”
Carlos não esperava vir a gostar tanto do novo bairro que o expulsou de sua casa. Gosta das ruas, dos prédios, dos hotéis, de tudo. “Quando trabalhava como taxista, a minha praça favorita era a do Vasco da Gama. Talvez por estar perto de casa.”