30 abr, 2018 - 07:02 • Dina Soares , Joana Bourgard
Não foi fácil encontrar bebés habituados a mergulhar e que simbolizassem os povos dos cinco continentes. Foi preciso ir para Londres, onde existia a única escola de mergulho para bebés de toda a Europa e onde a diversidade étnica era maior do que na maioria dos países. Foi, portanto, numa piscina situada nos arredores da capital britânica que os “bebés da Expo” foram filmados.
“Tínhamos que acordar às cinco da manhã para começar a filmar os bebés lá para as sete ou oito. Depois tinha que se esvaziar a piscina de cada vez que um bebé se descuidava. Por isso, precisámos de vários dias para filmar os bebés todos”, recorda José Alfredo Neto, um dos elementos da equipa que congeminou a campanha publicitária da Expo.
Miguel Fernandes foi o diretor criativo desta campanha. José Alfredo Neto e António Antunes – o guitarrista Tó Trips da banda Dead Combo – formavam o resto da equipa. Foram eles que conceberam e concretizaram toda a campanha. Depois de filmarem os bebés, filmaram o fundo do Mar Vermelho, no Egito, e juntaram as imagens. Este primeiro anúncio foi de tal modo marcante que, nos primeiros dias da exposição, havia quem perguntasse onde ficava o "aquário dos bebés".
“A tailandesa é um homem”
Poucos meses depois, surgiu o segundo anúncio. Povos de todo o mundo conviviam debaixo de água. Desta vez, as filmagens decorreram em Israel. Os modelos eram todos mergulhadores experientes, exceto uma. Na verdade, “a tailandesa é um homem”, revela Miguel Fernandes. José Alfredo Neto explica: “A modelo tailandesa disse que tinha experiência de mergulho, mas não tinha. De cada vez que mergulhava, quando vinha à superfície desmaiava. Tivemos que a substituir e só encontrámos um homem.”
A revelação surpreende António Antunes. Nessa altura estava em Londres a criar, em 3D, todo o recinto da Expo. As obras estavam ainda muito atrasadas e era preciso fazer o terceiro anúncio, onde os povos do mundo saíam do mar e chegavam à exposição. Todo o cenário teve que ser criado em realidade virtual e só em Londres, ou em Hollywood, é que existia a tecnologia necessária. António Antunes trabalhou um mês para dar aos portugueses, e não só, a primeira imagem do que viria a ser a Expo.
A trilogia bebés, povos e oceanos ficava pronta. Miguel Fernandes acredita que foi uma missão cumprida com sucesso. “O primeiro filme tinha de ser essa oportunidade de dizer que a Expo iria ser aquilo que foi e, nesse sentido, acho que fomos bem-sucedidos."
Mais de 20 anos depois, os anúncios continuam a deslumbrar e os montantes envolvidos em toda esta operação também. A campanha publicitária da Expo 98 custou um milhão de euros, um número impressionante mesmo pelos valores atuais.