Reportagem

Autárquicas em dia de clássico. "Votar é dever cívico, mas identifico-me mais com o meu clube"

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Autárquicas em dia de clássico. "Votar é dever cívico, mas identifico-me mais com o meu clube"

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02 out, 2017 - 00:05 • Joana Bourgard

No Lumiar, junto ao Estádio José Alvalade, viram-se cachecóis nos locais de votos. Houve quem adaptasse a rotina para poder votar e ver o Sporting-FC Porto, mesmo vindo do norte. Outros optaram por dormir para guardar energias para o jogo.

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Maria Luísa Ribeiro, Manuel Braz e João Braz, Sandra Ferreira com a família, Paulo Antunes e Tiago e João Melo Maria Luísa Ribeiro, Manuel Braz e João Braz, Sandra Ferreira com a família, Paulo Antunes e Tiago e João Melo

Alguns adeptos seguem a pé para o Estádio José Alvalade. É tarde de jogo, mas é também tarde de eleições. Por isso, aproveitam o caminho para votar na Escola Professor Lindley Cintra, no Lumiar. Maria Luísa Ribeiro fez o mesmo. Sportinguista, é também candidata à Junta de Freguesia de Arroios pela lista do CDS. Votou sempre no Lumiar. "Em dia de eleições acontece sempre isto, vir votar e ir para o jogo", diz.

Este domingo as eleições autárquicas dividiram as atenções com o clássico Sporting-FC Porto, que acabou empatado, sem golos. A Liga Portuguesa de Futebol mudou a hora do jogo, para depois do fecho das urnas em Portugal Continental. O Governo mostrou intenção em proibir jogos e espectáculos desportivos em futuros dias de eleições.

Para Luísa, só não vai votar quem não quer. "As urnas estão abertas desde as 8h00 até às 7h00", explica. Diz que há tempo para tudo. Este domingo já esteve na junta de freguesia onde é candidata; foi votar; seguiu para o estádio José Alvalade; e à noite estaria na sede do CDS para a noite eleitoral. "Mesmo que o jogo fosse no Porto e a pessoa estivesse no Algarve conseguia perfeitamente ter tempo para tudo", remata.

Tiago Melo, de 21 anos, exibe uma t-shirt do FC Porto, mas votou esta manhã na Escola Patrício Prazeres, em Lisboa. A família é do norte e foi o pai que lhe deu a "injecção do Porto". Considera uma boa medida os jogos serem proibidos em dia de eleições porque "as pessoas que vêm do Porto para Lisboa, se calhar, optaram ficaram a dormir até mais tarde porque depois tinham o jogo à noite e é possível que não tenham ido votar. Assim não há azo para que essas coisas possam acontecer".

Mesas de voto na Escola Secundária Lindley Cintra, no Lumiar, em Lisboa Mesas de voto na Escola Secundária Lindley Cintra, no Lumiar, em Lisboa

Os irmãos alentejanos Manuel e João Braz vêm apoiar o Porto, mas fizeram questão de votar antes (Manuel em Alverca, João em Portalegre). "As pessoas que vieram do norte tiveram toda a manhã para ir votar", afirmam. Sandra Ferreira concorda: não considera que "haja necessidade da proibição" e diz que as pessoas podem "votar de manhã e ver o jogo à tarde".

Foram vendidos 2.500 bilhetes para adeptos do Porto. Muitos juntaram-se de manhã no Estádio do Dragão, de onde seguiram, rumo à capital, em 22 autocarros que saíram por volta da hora de almoço. Três dias antes do jogo, estavam disponíveis apenas 3 mil bilhetes (o Estádio de Alvalade dispõe de 50 mil lugares).

Adeptos do FC Porto Adeptos do FC Porto

Pouco mais de um quilómetro separa a escola do Lumiar do Estádio José de Alvalade. Da escola já se ouvem os cânticos da claque do Porto, em marcha pela Calçada de Carriche.

Junto ao estádio está Paulo, Paula e Marisa Reguengo. Tio, tia e sobrinha. A discussão vai acesa. A sobrinha acha que não faz sentido proibir os jogos em dia de eleições porque "o futebol é uma actividade recreativa e votar é um dever cívico". Já o tio acha que não devia haver jogos porque "condiciona as equipas visitantes que não podem ir votar. Podiam passar o jogo para o dia a seguir". A sobrinha contrapõe: "Mas assim os adeptos do Porto que trabalham não podiam vir ao jogo." No meio fica a tia. Paula não escolhe lados, mas acaba por admitir que o jogo não é um impedimento para ir votar. Votou de manhã, almoçou depois, em Cascais, e seguiu para o estádio. "Dá tempo para tudo."

Paulo, Paula e Marisa Reguengo, Paulo Gongalves, Pedro e Tiago, Fátima e Jorge Paulo, Paula e Marisa Reguengo, Paulo Gongalves, Pedro e Tiago, Fátima e Jorge

Um exemplo de que não foi possível conciliar o jogo com a ida às urnas é o caso de Paulo Gonçalves. Optou por ficar a dormir até mais tarde para guardar as energias para o jogo. "Se me tivesse organizado melhor, teria conseguido ir votar de manhã", admite. "Nas legislativas, por exemplo, fui ver o futebol e votei."

Os jovens Pedro e Tiago, de 25 e 20 anos, vieram de Leiria apoiar o Porto. Não foram votar porque "se votassem seria em branco". Não votaram por se sentirem desligados da política. Nas últimas presidenciais foram às urnas porque sentem estar "a votar na pessoa que representa o país. É diferente das outras."

Fátima e Jorge Mota vieram do Porto. Ela é lisboeta e sportinguista, ele é portuense e portista. Foram votar, mas estão descontentes com a política. "Vou votar por ser o meu dever cívico, mas identifico-me mais com o meu clube", diz Fátima.

Claque do Sporting Claque do Sporting

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