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O terrorismo mata hoje menos na Europa do que nos anos 70. Porque nos parece o contrário?

23 mai, 2017 - 18:46 • Rui Barros , Sara Beatriz Monteiro

O ataque terrorista em Manchester volta a trazer à memória os vários atentados que têm assolado a Europa. Morre cada vez mais gente na Europa devido ao terrorismo? Os números dizem que não.

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Em comparação com a década de 1970, morreram, entre 2010 e 2015, menos duas mil pessoas vítimas de atentados terroristas na Europa Ocidental.

A conclusão é retirada da leitura dos dados disponibilizados pela Global Terrorism Database, da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, com o registo dos mais 156 mil atentados ocorridos em todo o mundo entre 1970 e 2015.

Os anos 1970 e 1980 são, aliás, os que registam maior número de mortes em resultado de actos terroristas. Os movimentos independentistas da ETA, em Espanha, e do IRA, no Reino Unido, fazem dos anos de 1972, 1974 e 1980 dos mais mortíferos na Europa Ocidental: em cada um destes anos houve mais de 400 vítimas mortais.

No ano de 1972, verifica-se o pico de actividade da luta independentista dos católicos da Irlanda do Norte, com 80% dos casos de atentados registados nesse ano a estarem relacionados com este conflito. O ano de 1980 é o "ano da ETA": 114 pessoas morreram às mãos do movimento separatista basco.

Mas o atentado terrorista mais mortífero do continente europeu aconteceu em 1988, naquela que é conhecida pela tragédia de Lockerbie. Um Boeing 747-121 com destino a Nova Iorque explodiu no ar, provocando a morte de 270 pessoas de 21 nacionalidades diferentes. Inicialmente, suspeitou-se de que se tratava de um novo ataque do movimento separatista da Irlanda do Norte, mas a acusação acabou por recair sobre dois líbios.

A entrada do século XXI fica marcada por uma nova ameaça. Com o ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque, em Setembro de 2001, começa a crescer o receio de um ataque da mesma magnitude na Europa Ocidental.

O 11 de Março de 2004 fica na memória dos europeus como o ataque que mais mortos fez no século XXI. Os ataques coordenados em três estações de transportes madrilenas mataram 191 pessoas e feriram duas mil. Ainda que inicialmente tivessem recaído suspeitas sobre a ETA, o ataque acabou por ser atribuído a uma célula terrorista inspirada pela Al-Qaeda.

Um ano depois, em Londres, um conjunto de explosões no sistema de transportes da capital do Reino Unido, reivindicadas por extremistas islâmicos, provocou 56 mortes. Entre 2000 e 2015, a percentagem de cidadãos mortos em ataques islâmicos ultrapassa mais de metade da totalidade de pessoas que morreram nesses anos vítimas de terrorismo.

Mais recentemente, França, 2015. O ataque ao jornal satírico “Charlie Hebdo”, em Janeiro, por extremistas islâmicos choca a Europa e gera uma onda de defesa da liberdade de expressão. Em Novembro do mesmo ano, novo ataque reivindicado pelo Estado Islâmico mata 137 pessoas na sala de espectáculos Bataclan.

O país com mais atentados terroristas na Europa Ocidental foi o Reino Unido. Seguem-se Espanha, Itália, França e, por fim, Alemanha.

Média, política e (pouca) memória

Para o investigador da Universidade do Minho (UM) Luís António Santos, a percepção de que hoje a Europa vive e sofre com o terrorismo mais do que nunca está associada à mediatização dos casos, que o professor universitário não consegue dissociar do discurso político dominante.

“Parece-me que temos, hoje em dia, na Europa e noutras partes do mundo, líderes políticos que trouxeram para o interior do seu discurso – alguns, até, para o centro do seu discurso – uma preocupação autoritária e securitária que, naturalmente, faz do terrorismo uma peça central desse discurso político”, destaca o também comentador da Renascença.

O professor da UM realça também o facto de a memória colectiva não ser infinita. “A nossa memória colectiva não dura mais do que 10 ou 20 anos. Pensar nos anos 80 ou nos anos 70 já só vale para algumas gerações”, sublinha o investigador do Instituto de Ciências Sociais da UM.

Comentários
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  • João
    28 mai, 2017 faro 17:39
    Esta análise é muito redutora. A mortalidade caiu, assim como os atentados separatistas, de extrema esquerda e de extrema direita, o que é positivo e se deve provavelmente a uma maior estabilidade política europeia. Infelizmente os atentados islâmicos estão em crescendo. Nos últimos 15 anos, 8 em 10 atentados foram islâmicos. Nos 50 anos anteriores a 2002, 1 em 50 atentados eram islâmicos. Nos anos 70 e 80 morreram 18 pessoas por atentados islamicos. Nos últimos 15 anos morreram 562 pessoas. Houve um aumento de mortes por atentados islamicos de 2822%. É uma questão de como olhar para os dados, e muito menos por memória seletiva na minha opinião.
  • mara
    28 mai, 2017 Portugal 16:41
    Sr (ORABEM) concordo que saibamos as noticias, mas falar deles até à exaustão talvez os leve a eles e a outros com essas tendências a praticar actos iguais ou piores, lamento não se fale em casos lindos de pessoas que praticam o bem, até crianças que muitas vezes dão parte dos seus lanches a colegas que têm fome, estou certa que há por esse mundo fora casos lindos de generosidade que divulgados talvez levasse esses monstros a meditar nas suas atitudes....
  • Orabem!
    26 mai, 2017 dequalquerlado 15:10
    Oh Sra Mara, concordo em parte com o seu comentário, mas noutra parte discordo, então pela sua ordem de ideias, os terroristas matavam e encobria-se os crimes para que ninguém soubesse? Eles não matam só para se mostrarem , matam por malvadez, por estupidez, por cobardia, por frustração e porque não respeitam a vida humana. Há gente neste mundo que mata um ser humano como veste uma camisa, muitos matam por prazer, porque só são animais em forma de gente. Este terrorista nasceu naquele País, foi criado no mesmo ambiente que os outros, mas isto não fez dele um cidadão que respeitasse aquele país, apesar de ter a nacionalidade, tinha ligações ao daesh e o apoiava e foi matar crianças e jovens que nunca o fizeram mal. Isto está no sangue destas raças, nascem e são educados pelos pais para serem assim. Só que há muita gente que não quer entender isto, que teimam em aceitar estas raças, nem se pode criticá-los porque passa-se a ser racista. Eles nos países dos outros são recebidos de braços abertos e ainda cospem a quem lhes dá uma mão. Quem não se lembra do jhiad e jhones, que até cortou cabeças e também tinha vivido em inglaterra. Enquanto houver a hipocrisia e se fechar os olhos ao mal que esta gente representa, isto nunca mais vai acabar. E grave, permitem as mesquitas para que possam muitas vezes pregar o ódio, mas nos países arabes andam a matar os cristãos e a destruir igrejas.
  • mara
    26 mai, 2017 Portugal 11:43
    Nasci estava o Mundo numa guerra mundial, desde que comecei a compreender algumas conversas sobre o que diziam os rádios e os jornais, deduzi que homens maus faziam muitas maldades, cresci e ouvia dizer a guerra terminou, mas comecei a ler e ouvir o rádio e continuei a ouvir que os homens maus continuavam a praticar o mal, quantas vezes me questionei: A guerra mundial terminou? Estudei História, continuei o meu percurso nesta vida, e hoje pergunto-me: Alguma época após a criação do Homem houve Paz? Hoje estamos a viver um período horroroso, como é possível que um homem irritado com uma pessoa, um politico, vá colocar uma bomba numa estação de metro, num comboio, num recinto de espectáculos onde sabe que quem odeia não está lá, e sem dó nem piedade mata fere imensos inocentes? Isto é cobardia, se fosse um homem cem por cento de recto e integro ia ter com quem odeia e acertava contas com ele, ou denunciava-o às autoridades. Mas duma coisa estou certa que a Comunicação Social ao dar-lhes tempo de antena como dá, também os beneficia na sua vaidade de grandes heróis... Lamentável a Comunicação Social não comente tantos casos lindos de pessoas que fazem o bem no lugar destas atrocidades, talvez eles desistissem das bombas e invertessem a situação, uma Querida idosa contava que um homem matou outro, porque tinha pena do seu nome não vir no jornal, assim veio e em letras gordas...
  • Branqueamento
    26 mai, 2017 Portugal 11:25
    No inicio dos tempos de Hitler, nos anos 30 também havia imbecis que classificavam as suas posições de "pequenos excessos". Na sua grande maioria quase toda a gente já percebeu o que se passa e que o "futuro" pode ser bem pior. Como os "pequenos assassinatos" de Hitler terminaram em campos de extermínio, a situação na Europa pode muito bem vir a atingir a gravidade do que se passa hoje no Iraque. Ao ignorar ostensivamente, a situação do "terrorismo islâmico" fora da Europa e "agarrar" nas situações do IRA e da ETA, Guerras de Guerrilha separatistas, os autores do "estudo" mostraram no mínimo uma enorme Má Fé. Os milhões de dólares que patrocinam o "terrorismo islâmico" deixam muitos "inteligentes" de cabeça "arejada" e bolsos cheios.......
  • Para Francisco Torres
    25 mai, 2017 Lisboa 17:55
    Você não sabe ler. Pelo que se lê em nenhum momento se branquea seja o que for. O artigo apenas diz que o terrorismo de há 30 anos matava mais. Aó que hoje temos uma percepção diferente. É só isto. Os números são claros. Leia e não seja pouco inteligente
  • P/pedro rodrigues
    25 mai, 2017 do jardim das tabuletas 15:34
    Oh pedro rodrigues "A verdade doí a muita cabecinha dura que no fundo de pouco difere dos loucos fascistas que se denominam de jihadistas. Bom trabalho RR!" A verdade é que qualquer coisa convence um tonto. Em primeiro lugar 10 anos de matanças não são cinco. Segundo, uma coisa é matar e escolher alvos como crianças e populares indiscriminadamente, outra coisa é escolher alvos específicos e por objetivos políticos, que apesar de serem tão condenáveis como os outros, mas são situações diferentes, depois muitos destes ataques como os da eta e outros já deixaram de acontecer com a mesma frequência, nem se tem ouvido falar, enquanto os islâmicos continuam a matar sem olhar a meios, quase todos os meses ou semanas, e atingindo tudo e de todas as formas. Terceiro, São eles que provocam as guerras nos seus países, matam todos que não são do seu lado, provocam a fuga dos seus povos e são eles próprios que matam o seu próprio povo, quanto aos ataques aéreos e que possam lamentavelmente atingir crianças, apesar da morte de inocentes há que tentar perceber que estes alvos não têm como objetivo matar inocentes, mas sim terroristas, agora se os terroristas fazem de escudo as crianças e o povo, a culpa terá que cair nos mesmos carniceiros. Então a besta do bombista viu os ataques aéreos mas estava ceguinho para aquilo que o daesh comete?! Esta gente não tem o minimo de escrúpulos e quem justifica os seus actos só pode ter a cabeça mais dura que uma pedra. E outra isto vai passando de pais
  • Pedro Branco
    24 mai, 2017 Lisboa 17:32
    E o resto da Europa? E os conflitos étnicos? E as guerras nos balcãs? E a Rússia, Ucrânia e Chechénia? Vamos falar só da Europa Ocidental para quê?
  • Pedro Rodrigues
    24 mai, 2017 Beja 17:11
    A verdade doí a muita cabecinha dura que no fundo de pouco difere dos loucos fascistas que se denominam de jihadistas. Bom trabalho RR!
  • Francisco Torres
    24 mai, 2017 Viana do Castelo 16:41
    Isto é um insulto ao mais elementar dos princípios de ética. É possível que haja alguém que se possa chamar jornalista, que promova semelhante estupidez, no intuito de branquear a acção dos muçulmanos????.....Prisão para este jornalista é simplesmente um prémio, deveria com julgamento sumário ser fuzilado!!!!!......O típico jornalista Joseph Goebbles, que se apelida de liberal e progressista para confundir os seus ideais eurostalinistas!!!! ....Sua besta em forma humana, quantos inocentes foram abatidos por ataques dos muçilmanos nos últimos dois anos na Europa?????...

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