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Um ano de ​Presidente Marcelo

Marcelo Rebelo de Sousa. O árbitro que apita muitas vezes, mas (ainda) não marca penáltis

09 mar, 2017 - 07:00 • Eunice Lourenço

Dois políticos e dois professores analisam o primeiro ano do mandato de Marcelo Rebelo de Sousa no Palácio de Belém

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Marcelo. O árbitro que apita muitas vezes, mas (ainda) não marca penaltis
Marcelo. O árbitro que apita muitas vezes, mas (ainda) não marca penaltis

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É o primeiro Presidente do período democrático tratado pelo nome próprio. “Presidente Marcelo” porque durante anos entrou pela casa dentro dos portugueses todos os domingos à noite e agora entra praticamente todos os dias. O Presidente Marcelo cumpre esta quinta-feira um ano da sua pose e vai assinalar o aniversário ao longo do dia.

Primeiro, de manhã tem uma conversa-debate com alunos do ensino secundário, na Escola de Pedro Nunes, em Lisboa. Depois, pelas 13h00, vai acompanhar vendedores da revista Cais nas ruas de Belém. E, ao fim do dia, ele, que faz questão de não ter primeira-dama, vai agraciar as mulheres dos seus mais imediatos antecessores: Maria José Ritta e Maria Cavaco Silva.

Cumpre-se assim um ano de autêntico estado de graça ou “lua-de-mel” como lhe chama o politólogo André Freire, co-autor com António Costa Pinto de um livro sobre “O poder presidencial em Portugal”. Mas Marcelo chega ao fim deste ano já a receber algumas críticas, que contrariam os índices de aprovação muito perto dos 100 por cento verificados em sondagens. Excesso de intervenção, eventual extrapolação dos poderes presidenciais são algumas das críticas já feitas ao Presidente.

“Não creio que tenha havido algum extravasar dos poderes presidenciais”, analisa André Freire, para quem “o poder do Presidente é variável com as condições políticas” e, nas actuais condições políticas, “o Presidente tem um papel de maior relevância”. O professor universitário considera que os poderes constitucionais “estabelecem os limites, mas a actuação efectiva depende das interpretações que deles é feita e das circunstâncias políticas”.

O mesmo pensa José Matos Correia, deputado presidente do Conselho Estratégico do PSD, que glosando Ortega y Gasset diz que “um político é o homem e as suas circunstâncias”. A isto Diogo Feio, que dirige o gabinete de estudos do CDS, acrescenta o “perfil de comunicação bastante alto” de Marcelo. “O mais alto de todos os Presidentes da República, mas que não tem na forma como vê os seus poderes uma grande diferença dos seus antecessores”, diz o antigo deputado, que teve Marcelo como orientador da sua tese de doutoramento da qual prestou provas dias antes da posse do Presidente.

Diogo Feio distingue três possibilidades do exercício do cargo presidencial no sistema português: o Presidente-Rainha de Inglaterra ou notário, que deixa tudo andar, permitindo ao Governo uma superioridade muito grande; o Presidente-chefe de Governo, à luz da possibilidade que a Constituição tem de o chefe de Estado presidir ao Conselho de Ministros; e o Presidente-árbitro ou supervisor.

É nesta última categoria que Diogo Feio inclui Marcelo, que faz uma supervisão “muito numa lógica do século XXI”, que “tem o seu magistério de influência muito marcado pelas intervenções que vai fazendo”. E as intervenções são praticamente diárias.

“É um Presidente árbitro que usa o apito muitas vezes, porque o usa todos os dias, porque tem intervenções quase todos os dias. É um árbitro que apita, mas que ainda não sentiu a necessidade de marcar um penálti, de ter uma intervenção mais dura”, compara o dirigente do CDS.

Distância do PSD, normalidade com CDS

Matos Correia considera que Marcelo “tem exercido o seu mandato de forma adequada”, mas ressalva que isso não significa que se reveja nas suas posições. “Não nos revemos na leitura que o Presidente faz sobre a política económica”, prossegue o dirigente social-democrata, salientando que “em democracia não devemos ter incómodos com opiniões”.

“Não temos nenhum incómodo por o Presidente ter leituras diferentes das nossas, temos apenas de registar que são diferentes”, acrescenta Matos Correia.

A verdade é que, seja nas opiniões sobre a política económica, seja no caso da Caixa Geral de Depósitos, foram públicas e notórias as diferenças de opinião e de tom entre o Presidente e os partidos que o apoiaram na eleição. Ao mesmo tempo, tem havido uma relação de sintonia com o governo e com os socialistas, que levam a grandes elogios por parte de Ferro Rodrigues.

“Há uma linha sempre nos partidos que tende a confundir o que é o papel da oposição e o papel do Presidente da República e houve Presidentes que já confundiram, há houve Presidentes que se transformaram em presidentes da oposição”, analisa, por outro lado o centrista Diogo Feio, que atribui algum “nervosismo” à relação do PSD com Marcelo, classificando a relação com o CDS de normal.

“A proximidade do CDS com o Presidente – uma vez que representa muito o centro político em Portugal – podia ser maior até para fazer algum equilíbrio”, defende Diogo Feio, lembrando que Marcelo tem defendido a estabilidade política, o que inclui a estabilidade nas lideranças da oposição.

Também Hélder Prior, especialista em Comunicação Política, salienta a insistência de Marcelo na estabilidade, mas associa-lhe um distanciamento em relação ao PSD. Este investigador da Fundação para a Ciência e Tecnologia associa esse distanciamento ao “capital simbólico” que Marcelo foi acumulando durante anos de comentário político. “O PSD não desejou a sua candidatura, mas não a conseguiu evitar”, afirma Hélder Prior, que acredita que “da agenda do Presidente faz parte o desejo de um PSD mais ao centro”.

Excesso de visibilidade

Hélder Prior acredita que outra palavra que Marcelo trouxe para o centro do debate político – a descrispação – não será possível com Pedro Passos Coelho na liderança do PSD. “Veremos o que vai acontecer depois das autárquicas”, diz o investigador que considera “Marcelo percebeu muito bem que havia um desencantamento dos portugueses em relação aos políticos e a verdade é que se respira outro ambiente e há uma empatia entre os eleitores e o Presidente”.

O grande risco do Presidente “é o excesso de visibilidade pública e de banalização da imagem e do discurso do Presidente” que, aconselha, terá de encontrar um equilíbrio

Esse é, no fundo, o problema apontado da esquerda à direita. “A excessiva intervenção do Presidente pode, por um lado, coloca-lo em xeque e, por outro banalizá-lo”, afirma Matos Correia, para quem “tão ou mais relevante do que o poder é a influência”, pelo que “a intervenção pública do Presidente deve ser feita com alguma cautela e parcimónia”.

Quase as mesmas palavras são usadas por André Feire. “Talvez devesse ser mais parcimonioso nas suas intervenções até para lhes dar mais gravidade”, afirma o professor que já foi candidato pelo Livre/Tempo de Avançar.

Só Diogo Feio não crítica ao excesso de intervenção de Marcelo, considerando-a “natural”, mas ainda assim admite o risco.

Marcelo, o "entertainer" estratégico. Entre a "descrispação" e a "sobreexposição"
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Lua-de-mel chegará ao fim

Outro risco é terminar o que André Freire chama de “lua-de-mel” com o Governo. “Estamos ainda na fase de lua-de-mel de um e do outro, mas isso não será eterno e quando as coisas não funcionarem tão bem termos problemas”, avisa o politólogo que esta semana apresentou um livro sobre a maioria de esquerda intitulado “Para além da Gerigonça”.

“É inevitável que surjam pela frente diferenças de posicionamento entre o Presidente e a maioria. Não se espera que seja sempre Deus com os anjos, nem é desejável”, acrescenta André Freire.

Hélder Prior pensa quase o mesmo, dizendo que, no primeiro ano, “as coisas correm bem tanto ao Presidente como ao Governo”, mas “quando começarem os problemas, o Presidente vai distanciar-se dos problemas”.

“Veja-se o caso da Caixa Geral de Depósitos”, afirma Hélder Prior, dando o exemplo do caso do convite e da demissão de António Domingues do banco público, em que Marcelo esteve ao lado do Governo durante meses, “mas assim que Marcelo percebeu que estava envolvido indirectamente no caso lançou o comunicado em que diz que o ministro das Finanças só fica no lugar porque está em caso o interesse nacional”.

“Assim que houver alguns problemas para o Governo, as coisas podem também correr mal para Marcelo Rebelo de Sousa, mas parece-me que ele compreenderá muito bem e saberá ler todos os contextos da sua actuação”, acredita o investigador, para quem “o principal risco terá mesmo a ver com o excesso de visibilidade, uma certa banalização quer da imagem e das aparições públicas, quer da actuação discursiva do próprio Presidente”.

Comentários
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  • maria santana
    03 jun, 2017 azeitão 13:05
    Os cinzentos não gostam da naturalidade do professor, obrigada por nos ter dado uma lufada de ar fresco e sem bafio
  • agostinho v couto
    09 mar, 2017 usa 23:53
    Nao marca ,penaltys ,,logo se ve que e benfiquista ,, ,,na politica como no ,futebol ,,,atual em Portugal ,,e so ,,trafulha ,,,,,Marcelo ,Antonio Costa Luis Filipe Vieira Pedro Proenca ,,estes sao os mais ,,visiveis mas o que vem a seguir nao e ,,um comboio mas sim ,,um ,,sem numero de comboios todos ,,,atrelados ,,uns aos outros por este andar qualquer dia nao ha ,linha que resista ,,e la vao ,tudo pela ,ribanceira abaixo e o ,,abismo concerteza e por certo ja nao faltara ,,,muito
  • cg
    09 mar, 2017 portugal 12:43
    Deixem lá o professor Marcelo Caetano em paz! Ai desculpem, queria dizer Marcelo Rebelo.
  • Mafurra
    09 mar, 2017 Lisboa 12:37
    Até agora tem sido uma surpresa muito agradável !
  • Alberto Sousa
    09 mar, 2017 Portugal 12:19
    Um presidente que em vez de ajudar os portugueses (e governantes) com ideias concretas e válidas se limita a camuflar tudo quanto vai de errado em nome de uma falsa estabilidade, varrendo os problemas para debaixo do tapete, não é um presidente digno do cargo pois mais parece um entertainer de reality show.
  • VICTOR MARQUES
    09 mar, 2017 Matosinhos 12:18
    A vaidade é um pecado venial ou mortal?...
  • acacio santos Cruz
    09 mar, 2017 Chaves 12:13
    O Sr Presidente , apita tantas vezes , qualquer dia ninguém o leva asserio , a insistir tantas vezes , e a dar a cara pelo governo , vai ficar chamuscado .
  • rosinda
    09 mar, 2017 palmela 12:03
    Oscar o arbitro nao marca penaltis porque nao quer a bola passa junto a ele !
  • A. Castro
    09 mar, 2017 Porto 11:35
    Apita muitas vezes, e, muito mal; a maior parte das vezes beneficia o infrator.
  • LUIS BOTELHO
    09 mar, 2017 AMADORA 11:16
    O trabalho até agora desenvolvido pelo nosso Presidente tem o apoio da maioria do povo Português, até pelas sondagens disponíveis, que apontam como o Presidente mais popular de sempre! O seu estilo pode não agradar a alguns, principalmente aqueles que queriam que ele não fosse independente dos partidos, mas que ajudasse o PSD a voltar ao Governo! Só desejo que tenha muita saúde e que continue a ser um entre os portugueses, com o seu afecto e carinho e que siga as pisadas do nosso Papa Francisco!

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