Podem os crimes de Cohen e Manafort levar à destituição de Donald Trump?

22 ago, 2018 - 16:00 • Rui Barros

A condenação do ex-diretor da campanha eleitoral e a acusação do seu ex-advogado de que Trump sabia do pagamento a duas mulheres para comprar o seu silêncio fizeram pairar de novo a possibilidade de um processo de destituição do cargo nos EUA. Pode Donald Trump tornar-se o primeiro Presidente norte-americano a ser destituído?

A+ / A-

O que aconteceu?

Esta terça-feira, transformou-se num autêntico pesadelo para Donald Trump, depois de um dos seus ex-advogados se ter declarado como culpado em tribunal e de outro ter sido condenado por crimes financeiros.

Michael Cohen, advogado do Presidente dos Estados Unidos durante mais de 10 anos, disse em tribunal que Donald Trump lhe pediu que cometesse um crime, “fazendo pagamentos a duas mulheres com o objetivo principal de influenciar uma eleição”.

No final, o advogado do advogado perguntava: “Se esses pagamentos foram considerados um crime para Michael Cohen, então porque é que não são para Donald Trump?”

Donald Trump está insatisfeito com o trabalho do seu ex-advogado e já recorreu ao Twitter para desaconselhar o recurso aos seus serviços.

Minutos antes, o ex-diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, foi considerado culpado por cinco crimes de fraude fiscal, dois crimes de fraude bancária e um crime por não informar o fisco sobre contas em bancos estrangeiros.

Manafort era acusado de esconder milhões de dólares ao fisco dos EUA, dinheiro obtido pelos serviços de assessoria a políticos apoiados pela Federação Russa, na Ucrânia.

Em setembro, o mesmo Manafort voltará ao banco dos réus num processo que parte da investigação do procurador especial Robert Mueller à alegada ingerência russa nas eleições presidenciais de 2016 e a um eventual conluio da campanha do republicano.

Estes dois casos - em especial o primeiro, já que a acusação de Manafort não implica diretamente Trump nas suas relações com o Kremlin - voltam a adensar a possibilidade de iniciar um processo de destituição do cargo.

Não é a primeira vez que se fala em "impeachment" nos EUA. O que muda agora?

As ações de Donald Trump sempre levaram várias vozes democratas a falar da possibilidade de destituir o atual comandante-chefe dos EUA.

Desde a possibilidade levantada por alguns sobre a capacidade de conduzir os destinos da América às alegações de que terá pedido ao diretor do FBI que encerrasse a investigação sobre as ligações de Michael Flynn com a Rússia, vários têm sido os motivos para que se levante a possibilidade de "impeachment" - ou destituição, em português - do Presidente Trump.

Até agora, ninguém no congresso entendeu que estes possam ser argumentos suficientes para iniciar o processo, mas as declarações de Cohen em tribunal podem mudar o quadro. O ex-advogado e antigo "homem forte" de Trump implicou o Presidente num crime, ao dizer que recorreu aos fundos da campanha presidencial para comprar o silêncio de duas mulheres - ainda que não seja claro se ou quando o Presidente pode ser julgado por tal.

O que significa mesmo começar um processo de “impeachment” nos EUA?

“Impeachment” é o processo consagrado na Constituição dos EUA que permite que acusações formais sejam feitas contra um funcionário do governo - incluindo o Presidente - por crimes supostamente competidos.

A lei diz que “o Presidente, Vice-Presidente e todos os oficiais civis dos Estados Unidos perderão os seus cargos” caso sejam condenados por “Traição, Suborno ou outros grandes crimes e contravenções”.

Quem tem o poder de começar um processo de "impeachment"?

A Câmara dos Representantes tem o poder exclusivo de abrir um processo de destituição de um Presidente nos Estados Unidos, ao passo que o Senado tem o poder exclusivo de julgar os processos e as figuras envolvidas.

Significa isto que, para que se comece um processo de destituição de Donald Trump, o proponente terá de conseguir uma maioria Câmara dos Representante - 218 de 435 membros.

Mas isso não chega para retirar o cargo a Donald Trump. Depois disso, dois terços do Senado têm que votar favoravelmente para condenar e destituir efectivamente o Presidente do cargo.

Que Presidentes já foram alvo deste processo?

Na história dos EUA, apenas dois processos de "impeachment" foram iniciados pela Câmara dos Representantes e nenhum resultou na destituição de facto do Presidente.

Andrew Johnson foi o primeiro líder a passar pelo processo, em 1868, depois de ter sido acusado de violar a lei ao tentar substituir o secretário da Guerra, Edwin Stanton, sem o “sim” do Congresso (no rescaldo da Guerra Civil, o Presidente era obrigado a consultar o congresso sobre essas decisões). Johnson escapou por um voto no Senado e, por isso, nunca foi destituído.

O segundo Presidente a passar pelo processo foi Bill Clinton, na sequência do escândalo sexual com Monica Lewinsky. Clinton foi acusado de mentir sob juramento, de abuso de poder e de obstrução da justiça, mas, tal como aconteceu com Johnson, o Senado não aprovou a destituição.

Richard Nixon teria, certamente, enfrentado um processo de "impeachment" em 1974, na sequência do escândalo do Watergate, mas o Presidente resignou antes da Câmara dos Representantes começar o processo.

Em conclusão, oficialmente, nenhum Presidente dos Estados Unidos foi retirado do cargo.

Mas pode o processo de "impeachment" realmente acontecer?

Os Republicanos controlam a Câmara dos Representantes, pelo que, enquanto o partido que elegeu Trump controlar esta câmara, não é muito provável que o processo arranque.

“Obviamente que isto não é bom para Trump”, admite, no entanto, Sol Wisenberg, que conduziu o interrogatório ao Presidente Bill Clinton. “Assumo que nada vá acontecer enquanto ele for presidente, mas estes colocam-no mais próximo do processo, em especial se os democratas recuperarem a Câmara”, explica, citado pelo "The Telegraph".

Este é também um receio de alguns homens ao lado de Trump, que temem que os Democratas passem a controlar a Câmara dos Representantes depois das eleições intercalares, em Novembro.

“É a única desculpa de que precisam”, disse um advogado próximo da Casa Branca ao “Politico”, a propósito da acusação de Cohen de que Trump esteve envolvidos nos pagamentos. “Acreditem, eles não precisam de uma grande desculpa”, rematou.

Caso Trump seja o primeiro Presidente de ser destituído, quem será o próximo Presidente?

Caso seja destituído, é o vice-Presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, que assume o cargo até às próximas eleições para presidente.

Qual é a probabilidade de isto tudo acontecer?

Se for dos que gosta de fazer apostas, o site de apostas online Betfair estima que é improvável que Donald Trump seja destituído do cargo no seu primeiro mandato.

Mas a América de Trump já nos habituou ao imprevisível, pelo que o melhor é mesmo guardar o seu dinheiro e esperar pelas eleições de novembro.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Anónimo
    29 ago, 2018 01:52
    Ó "EUA", mas tu conheces algum americano que seja? Eu conheço e posso assegurar-te que a maioria não quer ver o Trump nem pintado! Se não andasses de rabinho voltado para o Trump fazias melhor serviço!
  • Fernando Machado
    24 ago, 2018 Porto 19:59
    Pó de ser destituído; pó de ser que ela seja uma santa, mas também pó de ser que não seja. Há pó para tudo e mais alguma coisa...
  • EUA
    24 ago, 2018 lisboa 09:56
    A unica democracia aberta a todos partidos do Mundo tem os seus mecanismos de funcionamento e é um pais FORTE e SOBERANO.Esta telenovela d imprensa nacional e internacinal nao sao mais q faidyvers.Faz disparar vend jornais , e aumenta share televisao?Todos sabem q destituçao presidente é praticamente impossivel mas continuam a bater nas mesmas teclas reforçando eleitorado de TRUMP. Vamos ver em Novembro resultado eleitoral e depois tirem as ilaçoes inerentes.Quem vota sâo os AMERICANOS.
  • Anónimo
    23 ago, 2018 16:54
    À excepção do comentador JMC que, como sempre, fez uma observação bastante acertada, o resto dos comentadores aqui são escumalha pró-Trump? Quem são estes seres? De onde vêm eles? Quem lhes paga? É que na vida real não há um único português que defenda Trump, o que sugere que são trolls pagos sabe-se lá por quem. Pelo Vlad talvez? A escumalha pró-Trump tem é que ser internada e urgentemente!
  • Atento
    23 ago, 2018 Leça da Palmeira, Matosinhos 09:19
    ... o relambório deste pseudo-jornalista do 'politicamente correcto' ... são autênticas anedotas ...
  • Qqq
    23 ago, 2018 Lisboa 07:52
    A destituição de Trump é o sonho de todos os partidários de guerras por esse Mundo fora. As acções de Manafort nem sequer têm a ver com a campanha, simplesmente ridículo. A investigação de Mueller, que por acaso foi um dos grandes instigadores da Guerra do Iraque, é uma farsa. A verdade é simples: se os democratas tivessem ganho em 2016, os cristãos sírios já teriam sido todos exterminados.
  • JMC
    22 ago, 2018 USA 23:22
    Respondendo à pergunta no título––“não!” Nada vai acontecer. Aliás, desde que o partido republicano assumiu o controle absoluto do nosso congresso, os EUA tornaram-se uma federação fascista. Portanto, os lambe-botas do partido republicano irão defender Trump com um fanatismo populista a todo o custo. Como Trump proclamou no dia 23 de Janeiro 2016, antes de ser eleito (com assistência tecnológica dos russos), "Eu podia estar no meio da 5ª Avenida {em Nova Iorque} e disparar contra alguém sem perder quaisquer votos.” Como se diz em inglês, “The beat goes on.” Noutras palavras, a telenovela mexicana, dobrada em brasileiro, prossegue.
  • 22 ago, 2018 Guia 20:58
    A destruição deTrump? Esse é o sonho de qualquer jornalista!
  • Lucas
    22 ago, 2018 Faro 16:44
    Isto mais parece uma novela mexicana dobrada em brasileiro......

Destaques V+