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20 anos da Expo 98

Sarmento de Matos, o padrinho da Expo

24 abr, 2018 - 08:00 • Dina Soares , Joana Bourgard

O Parque das Nações tem 199 ruas e quase todas têm nomes ligados ao mar. Só que em vez das escolhas tradicionais, tiradas das listas de gente famosa que inspiram a Câmara de Lisboa, os nomes das ruas na antiga Expo homenageiam heróis da banda desenhada ou livros dedicados às aventuras náuticas. O autor foi o olissipógrafo José Sarmento de Matos, o Marquês de Pombal do Parque das Nações. A Renascença recorda a Expo com 20 histórias da maior intervenção na cidade de Lisboa desde o terramoto de 1755.

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Corto Maltese, o marinheiro das mil aventuras, Sandokan, o pirata conhecido como Tigre da Malásia, ou Sindbad, o herói das sete viagens e das mil e uma noites, são alguns dos vizinhos do náufrago Robinson Crusoé. Estes aventureiros dos mares e da imaginação juntaram-se há 20 anos, nas ruas do Parque das Nações, por escolha de José Sarmento de Matos, o olissipógrafo que batizou as 199 ruas nascidas no bairro herdeiro da Expo 98. A missão ficou concluída numa semana. Já a polémica gerada pela ousadia dos nomes escolhidos prolongou-se.

“Na altura houve quem dissesse que eu me tinha passado da cabeça", recorda o olissipógrafo. "É verdade que brinquei um pouco, despertei algumas gargalhadas, mas também me preocupei em dar uma certa lógica aos nomes das ruas e, sobretudo, em criar empatia entre os moradores e os nomes das ruas onde moravam.”

Em vez de viverem em ruas com nomes de gente famosa que ninguém conhece, Sarmento de Matos quis dar aos moradores da Expo ruas que homenageiam heróis da banda desenhada que todos lemos em criança, como o Popeye ou o Gulliver. Mas não só. Aos heróis da imaginação, juntam-se os grandes rios, todos os mares e oceanos, as especiarias que despovoaram o reino no século XVI e os escritores que se inspiraram no mar.

A guerra entre a Parque Expo e a Câmara de Lisboa

As escolhas de Sarmento de Matos não agradaram à Câmara de Lisboa, habituada a ter o monopólio do batismo das ruas. Neste caso não tinha poderes, já que a Sociedade Parque Expo gozava de autonomia total, e por isso o olissipógrafo conseguiu levar a sua avante em quase tudo. Tal como o Marquês de Pombal, que inaugurou a tradição de dar nomes às ruas, Sarmento de Matos inaugurou uma nova lógica para a toponímia da cidade.

Mesmo assim, teve que respeitar alguns constrangimentos. Por exemplo, no caso dos escritores ainda vivos, teve que seguir um caminho alternativo já que a tradição impede que alguém ainda vivo possa ter o seu nome numa rua.

Ora, Sophia de Mello Breyner, David Mourão Ferreira e José Saramago, por exemplo estavam, nessa altura, vivos e de boa saúde. Daí que, nas placas, os seus nomes tenham sido substituídos por títulos de obras suas como “A Menina do Mar”, ou a “Jangada de Pedra”.

Outro constrangimento teve a ver com os nomes dos navegadores portugueses. A maioria já tinha rua própria, sobretudo no bairro do Restelo. Daí que poucos navegadores tenham ficado na Expo. A regra determina que, na mesma cidade, não podem haver duas ruas com o mesmo nome e Sarmento de Matos respeitou o princípio, com uma exceção. Fernando Pessoa já tinha uma pequena rua na Ameixoeira. O olissipógrafo decidiu, mesmo assim, que o poeta merecia uma grande avenida e deu-lhe uma.

Outras personagens, reais ou imaginadas, que tiveram um papel fundamental na história de Lisboa, ganharam também o direito a uma rua. Ulisses, o fundador da cidade, a deusa romana Cibele, e até o Palhaço Luciano, chefe dos Faz-Tudo do Coliseu dos Recreios de Lisboa durante mais de três décadas.

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