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Da “porteira” à “madame”. Os portugueses em França

12 set, 2015 - 12:31

Autora Joana Carvalho Fernandes assina uma colecção de retratos da emigração portuguesa editada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos. Há “Gaiola Dourada” e “malas de cartão”, mas também há deputados e empresários de topo.

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O livro "A porteira, a madame e outras histórias de portugueses em França", com retratos de emigrantes em terras francesas desde a I Guerra Mundial até hoje, vai ser lançado a 13 de Outubro na Gare de Santa Apolónia, em Lisboa.

A publicação é da autoria da jornalista Joana Carvalho Fernandes e conta as histórias, por exemplo, do milionário que comprou a PT Portugal, da mãe do realizador de "A Gaiola Dourada", do proprietário do restaurante preferido da família Le Pen ou do deputado que é um dos principais conselheiros do primeiro-ministro francês.

A obra nasceu da vontade da repórter de "matar saudades, voltar a falar com algumas pessoas e conhecer outras que não tinha tido oportunidade de conhecer" durante o período em que trabalhou em Paris como correspondente da Renascença e da agência Lusa, entre finais de 2011 e 2013.

"Quando se trabalha numa agência de notícias, nunca se aprofunda tanto as histórias como se gostaria. O espaço é pouco, trabalha-se a uma velocidade muito acelerada e eu senti saudades de Paris um ano depois de voltar a Portugal", contou a jornalista.

Champanhe De Sousa, único no mundo

O livro começa por relatar aventuras de portugueses que chegaram a França na Primeira Guerra Mundial, como Manuel de Sousa Dias, 2.º sargento músico de terceira classe do Corpo Expedicionário Português (CEP) que depois da guerra se instalou em Avize, no nordeste de França, e cujo apelido daria origem ao "único champanhe do mundo com nome português", o Champanhe De Sousa.

Há, ainda, a história de João Manuel da Costa Assunção, sobrevivente da batalha de La Lys, na Flandres - na qual Portugal sofreu uma das maiores derrotas militares de sempre - e cuja neta ainda hoje é o porta-estandarte do CEP nas comemorações anuais desta batalha da Grande Guerra.

Depois, há retratos de portugueses que chegaram a França clandestinamente, "a salto", durante os anos 1960 e 1970, e que conheceram os bairros de lata e as lutas associativas, como Abílio Laceiras, que esta semana recebeu a comenda da Ordem do Mérito, uma distinção da Presidência da República, ou José Batista de Matos que é "a cara dos emigrantes portugueses em França" no Museu da História da Imigração, em Paris.

Joana Carvalho Fernandes conta, ainda, histórias de porteiras nos bairros luxuosos da capital francesa, como a mãe do realizador Ruben Alves que o inspirou para o filme "A Gaiola Dourada", e relata vários casos de sucesso nas artes, na política, no desporto e nos negócios, como Armando Pereira, um dos quatro sócios fundadores da Altice, proprietária francesa da PT Portugal.

Quebrar o preconceito da mala de cartão

"Optei por falar em algumas histórias de sucesso porque acho que em Portugal ainda existe o preconceito da ‘mala de cartão’. Acho que as pessoas não têm a noção da progressão social que muitos portugueses em França tiveram, não são todos, mas muitos ocupam um lugar de destaque e acho que se tem pouca consciência disso em Portugal", acrescentou a jornalista, que actualmente trabalha para a revista Sábado.

A repórter também retratou alguns emigrantes que deixaram recentemente Portugal para fugir à crise e que se deixaram levar pela "ilusão da França", relatando "histórias menos felizes sobre a actualidade para desmistificar a ideia que só emigram pessoas com cursos superiores e com muito sucesso".

"Muitas vezes, os políticos quiseram fazer crer que a emigração agora é uma espécie de férias. Eu decidi contar histórias de coisas que parece que já não acontecem porque as pessoas têm internet e são escolarizadas mas, em muitos casos, as pessoas continuam a ser apanhadas desprevenidas e muitas ainda emigram sem saber falar francês. Muitas acham que vão poder contar com a boa vontade de outros portugueses, que os enganam", descreveu.

O livro "A porteira, a madame e outras histórias de portugueses em França" foi editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e deverá ser lançado em breve em França, estando disponível na Librairie Portugaise et Brésilienne, em Paris, dentro de duas semanas.
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