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Jeremy Corbyn. O possível próximo líder dos trabalhistas aos olhos de Vitorino

12 set, 2015 - 01:17 • José Pedro Frazão

O homem que Tony Blair denuncia como um líder de uma caminhada do partido trabalhista para um precipício pode mesmo ser o novo homem forte do Labour. António Vitorino diz que a eleição pode ter sido manipulada e representa um retrocesso a propostas de há 50 anos.

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Jeremy Corbyn. O possível próximo líder dos trabalhistas
Jeremy Corbyn. O possível próximo líder dos trabalhistas

Os resultados vão ser anunciados este sábado, mas o favorito parece ter-se transformado no mais que provável vencedor. Todos os dados apontam para que Jeremy Corbyn, 66 anos, defensor da nacionalização dos caminhos de ferro e do fim da energia nuclear, vença as eleições para a liderança do Partido Trabalhista.

António Vitorino, um dos mais mediáticos militantes do PS, diz que a possível eleição de Corbyn reflecte a incapacidade dos mais próximos de Blair para travar um discurso ultrapassado. “O Partido Trabalhista não chegará ao poder no Reino Unido apenas com base numa proposta como a do senhor Jeremy Corbyn. Mas esta dinâmica obriga os outros componentes do Partido Trabalhista - os herdeiros do Blair e da Terceira Via - a pensarem melhor a sua própria proposta porque estão em perda no partido”, assinala o ex-ministro socialista.

Vitorino observa um estranho fascínio dos jovens trabalhistas pelas propostas deste deputado britânico. “Porque é que o senhor Corbyn é tão apoiado? Porque aparentemente o seu discurso tem ressonância junto da juventude. Os jovens são a grande força motora desta proposta do senhor Corbyn. Isso faz-nos perguntar porque é que jovens com a vida pela frente encontram atracção em propostas que já não são dos anos 70, são dos anos 60. Isto deve fazer-nos interrogar não sobre as propostas do senhor Corbyn, mas sobre que espécie de sociedade estamos a criar, onde soluções que fizeram o seu percurso há mais de 50 anos são de novo apresentadas como soluções de modernidade”, defende António Vitorino no programa "Fora da Caixa", onde semanalmente debate temas europeus com Pedro Santana Lopes.

Um líder fabricado de fora?
O antigo comissário europeu desconfia da existência de “sindicatos de voto organizado” de outro partido para uma “liderança mais simpática para uma convergência bastante à esquerda”. Vitorino diz que há uma convergência de ‘entrismo’ com um imaginário dos anos 60 que faz apelo aos jovens.
 
“Cerca de dois terços dos que votam para a liderança dos trabalhistas não coincidem com os votantes tradicionais para o Partido Trabalhista. Por uma razão simples: desta vez o sistema de eleição é diferente. É aberto”, explica Vitorino, que a este propósito vai buscar um exemplo português.

“Lembra-se que quando o Partido Socialista promoveu primárias para a escolha de secretário-geral? Disse-se na imprensa que Marco António Costa podia organizar um conjunto de militantes do PSD para irem votar no Seguro? Era uma ‘blague’ que se contava. Aqui está a passar-se uma situação relativamente semelhante no sentido prático do termo, não apenas na teoria. Quem vota paga 3 libras e tem direito a eleger o líder do Partido Trabalhista mesmo que não seja militante ou simpatizante do partido. Há quem diga que organizaram-se sindicatos de votos”, avança o influente militante socialista no programa “Fora da Caixa”.

Um insólito ‘vintage’
Pedro Santana Lopes diz que este é o líder trabalhista que mais convém aos conservadores britânicos. “Para os conservadores é ‘sopa no mel’. Não podiam pedir melhor. Este senhor Corbyn não é novo, tem 66 anos e desperta este encanto na juventude com este discurso radical. Há muita juventude que está farta das organizações tradicionais. Não quer ouvir falar da Nato, da guerra", observa o antigo líder do PSD que assinala que o favorito à liderança trabalhista não traz nada de novo.

Santana reconhece que “o tempo das nossas vidas não será suficiente para conseguir ver toda a renovação de ideologias postas em causa pelos séculos XX e XXI. Se há algo que vejo com apreço são estes contributos de inovação”. No entanto, o antigo primeiro-ministro social-democrata separa as águas quando se fala em Corbyn. “Sei que o vintage está de alguma maneira na moda, mas há um revivalismo e não uma inovação: nacionalizar, sair da Nato… A União Europeia vive tempos políticos muito insólitos”, remata Santana.

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