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20 anos da Expo 98

O bandeirante da Expo

26 abr, 2018 - 06:54 • Dina Soares , Joana Bourgard

José Moreno foi viver para Moscavide quando tinha 11 anos. Foi de lá que assistiu ao nascimento da Expo 98, um projeto que o fascinou desde o início. Foi o primeiro a comprar um apartamento e a mudar-se para o que é, hoje, o Parque das Nações. Entrou ainda antes do início da exposição, viveu os dias de euforia da Expo e os dias escuros que se seguiram. Ao longo de um mês, a Renascença recorda a Expo com 20 histórias da maior intervenção na cidade de Lisboa desde o terramoto de 1755.

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José Moreno chegou à Rua Ilha dos Amores no dia 30 de abril de 1998. Durante os cinco meses seguintes, ele, a mulher e os dois filhos foram os únicos moradores do que viria a ser o Parque das Nações. O seu prédio era o único em que morava uma família que não fazia parte das delegações estrangeiras que, por esses dias, povoavam a atual zona norte da Expo.

Durante duas ou três semanas, José e a família estiveram sozinhos. As delegações que representavam os 146 países e as 14 organizações internacionais presentes na Expo 98 foram chegando nos dias que antecederam a abertura da exposição. Com elas chegaram as apertadas medidas de segurança que passaram a rodear o condomínio.

A partir de então, a família Moreno era obrigada a entrar e a sair de casa com uma credencial pendurada ao pescoço, o 'passaporte' essencial para ultrapassar as barreiras de segurança. Um incómodo compensado pela animação que os rodeava, reconhece José Moreno. “Cruzávamo-nos, todos os dias, com pessoas de todos os continentes, muitas vestidas com os trajes dos seus países, falando línguas completamente desconhecidas para nós. Era um ambiente muito exótico.”

“Quando acabou, foi o silêncio”

Só que o exotismo e a festa tinham data marcada para acabar. A 30 de setembro de 1998, a exposição fechou as portas e a realidade do Parque das Nações mudou radicalmente. “Quando acabou foi o silêncio”, recorda José Moreno. “Por exemplo, quando chegava a noite, a única luz acesa em todo o bairro era a da minha casa. Não tínhamos os serviços mais básicos, desde a entrega do correio à recolha do lixo.” Todos os dias, José metia o lixo no carro e, a caminho do emprego, deixava-o num contentor em Moscavide, junto à sua antiga casa.

José passou a viver num bairro fantasma. “Eu até costumava dizer aos meus colegas, por piada, que vivia numa moradia com sete andares porque nós éramos os únicos habitantes do prédio. Era tudo nosso.” Uma situação pouco simpática. Sem vizinhos, nem lojas, nem cafés, José e a família tinham a sensação de viver dentro de um estaleiro de obras. A normalidade demorou a instalar-se, mas José Moreno olha para trás e não se arrepende. Foi o preço a pagar para hoje poder exibir, com orgulho, o título de primeiro habitante do Parque das Nações.

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