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Livro desperta memória adormecida da tuberculose no Portugal de Salazar

22 fev, 2018 - 18:47 • Maria João Costa

Isabel Rio Novo foi por duas vezes finalista do Prémio Leya, mas nunca ganhou. “A Febre das Almas Sensíveis” é o seu novo livro e retrata a época da tuberculose em Portugal. Suspeitou-se que Salazar estivesse doente.

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Por duas vezes ficou a uma unha negra de vencer o Prémio Leya. Isabel Rio Novo foi finalista com o livro “Rio do Esquecimento”, em 2015, e de novo finalista em 2017 com “A Febre das Almas Sensíveis”. O livro que retrata a época da tuberculose em Portugal foi agora publicado pela D. Quixote.

A autora do Porto, que é professora de escrita criativa, falou com a Renascença sobre a obra, no âmbito do Festival Literário Correntes d'Escritas que decorre até sábado na Póvoa de Varzim.

A Febre das Almas Sensíveis” é um livro que leva o leitor para um retrato de Portugal de outros tempos, doente de tuberculose.

Acaba por trazer um retrato de um Portugal não muito distante de nós onde se faz referência a uma doença que, entretanto, deixou de matar e da qual se perdeu um pouco a memória e a noção de que antes de haver os medicamentos para a sua cura, dizimou milhares de portugueses. O livro saiu há pouco tempo e os contactos com os leitores levam-me a pensar que essa memória que estava adormecida ainda existe. São muitos os leitores que referem um avô, um tio ou um familiar distante que esteve internado no Caramulo ou em outro sanatório. E essa memória acaba por ser recuperada, de uma época em que eramos um país retrogrado, sujeito a todo o tipo de isolamentos e que acabava por sentir ainda mais do que outros a doença da tuberculose.

Neste livro acaba também por homenagear a literatura portuguesa e os escritores que morreram tuberculosos.

Conhecemos os casos mais celebres, o Júlio Dinis, o Cesário Verde, mas aquilo que me fui apercebendo à medida que fui recolhendo informação foi que houve famílias ao longo do século XIX, inicio do século XX dizimadas com a tuberculose. Irmãos que morriam todos, famílias inteiras que ficavam sem filhos e foi também uma forma de resgatar a memória dessa doença que associamos à tal “Febre das Almas Sensíveis”. Era uma ideia muito romântica ligada ao instinto poético. Terá sido isso também, foi a memória que ficou perpetuada até nós, mas foi sobretudo uma doença que matava pessoas em idade muito jovem e acabava com sonhos.

Hoje os sanatórios são espaços alguns deles abandonados. Como fez o trabalho de investigação?

Acabaram por vir ter ás minhas mãos memórias familiares de um jovem que esteve internado num dos sanatórios do Caramulo e que morreu. Dessa forma acabei por ter um contacto com essa história que ficcionei e fui resgatar ao esquecimento. A partir daí, comecei a ler a literatura existente. Em Portugal há alguns livros não muito conhecidos sobre o Caramulo e a vivência nessas décadas de vinte, trinta e quarente até ao surgimento dos antibióticos e depois visitei o local que hoje está praticamente em ruínas. Alguns sanatórios foram reconvertidos em casas de repouso, hotéis ou habitações, mas a maioria está em ruínas. É uma beleza um pouco soturna.

Como pano de fundo o livro tem o contexto da ditadura. Salazar visitava a região.

Sendo uma história que se passa nos anos quarenta teria de haver todo esse pano de fundo. É um facto que Salazar era amigo da família dos fundadores e era presença regular no Caramulo. Houve até uma altura em que se suspeitou que o Presidente do Conselho estivesse doente de tuberculose, mas ele até por ter as suas origens não muito longe do Caramulo, visitava regularmente o Caramulo.

Com este livro foi de novo finalista do Prémio Leya, acreditava que fosse publicar?

Os prémios são uma coisa muito boa. Já perdi alguns, já ganhei outros mas o principal é escrever, trabalhar, escrever, escrever por um impulso genuíno e de autenticidade. O que vier é bom.

Comentários
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  • irónico
    25 fev, 2018 lisboa 15:39
    Sobre D. Afonso Henriques nada?

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