Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​Turbulências africanas

17 nov, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O “não golpe de Estado” no Zimbabué pode dar ideias aos militares angolanos. Esperemos que a paz prevaleça.

Desde o seu discurso de posse, em 26 de Setembro passado, o novo Presidente de Angola, João Lourenço (JL) dava sinais de querer demarcar-se de José Eduardo dos Santos (JES). Nesse discurso inaugural JL formulou críticas veladas a Isabel dos Santos, filha de JES e a mulher mais rica de África. Depois, foi substituindo alguns altos dirigentes nomeados pelo seu antecessor. Esta semana, ao exonerar Isabel dos Santos de CEO da Sonangol, o confronto de JL com JES tornou-se inegável.

Mas mantém-se muitas dúvidas sobre a situação na cúpula política, económica e militar de Angola. Há, mesmo, quem levante a possibilidade de estas medidas de JL terem sido concertadas com JES. É uma hipótese altamente improvável.

Também improvável é a ideia de que o novo presidente angolano querer genuinamente lutar contra o alto grau de corrupção que envolve as autoridades de Angola. As pessoas que JL nomeou para governador do banco central e para dirigir a Sonangol, por exemplo, não são propriamente conhecidas como militantes contra a corrupção. Naturalmente que investidores estrangeiros, de que Angola precisa, e organizações internacionais, como o FMI, de que Luanda também necessita, pressionam o combate à corrupção. Mas tais pressões não bastam para explicar o presente conflito aberto entre JL e o império político-económico da família dos Santos.

JES ainda é o presidente do MPLA. Então, adiantam alguns, JL visaria desfazer a confusão entre Estado e partido dominante, uma herança dos tempos comunistas de Angola. Talvez. E JL sabe que Isabel dos Santos é altamente impopular em Angola. Mas o essencial parece-me ser a relação de forças, nomeadamente militares, entre os próximos de JES e os adeptos de JL. Por isso só nos próximos tempos saberemos quem será o vencedor desta luta de facções.

Entretanto, no lado oriental de África, no Zimbabué, os militares intervieram para pôr fim ao longo “reinado” de Robert Mugabe, de 93 anos, e sobretudo para liquidar a possibilidade de ele vir a ser sucedido pela sua mulher Grace, 40 anos mais nova. Mugabe, que desgraçou a economia do seu país, esteve no poder 37 anos. Menos um do que JES em Angola.

Curiosamente, os militares golpistas negam ter realizado um golpe de Estado no Zimbabué. Talvez em Angola haja militares a ponderar algo semelhante. Esperemos que a paz se mantenha no território angolano. Já esperar democracia a sério parece demasiado ilusório.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • pedro miguel
    17 nov, 2017 19:17
    gostei das duas hipoteses improvaveis que adiantou. Mais porque o meu raciocinio é justamente, em situaçoes tais, de que nao pode ser de outra maneira, só pode ser combinado, mas tambem significara que o Eduardo esta nas maos do presidente. Ou ao contrario ? E, para alem dos novos nomeados nao terem curriculo contra a corrupçao, porque raio é que um presidente investido iria atirar-se assim de peito feito á corrupçao ? Presidente eleito pelo partido do Eduardo. Tem mais, a corrupçao, no mundo, é natural naturalissima, é mesmo a roda do liberalismo. A corrupçao nao tem cura, nao tem fim. Tal como a droga, e a mafia. E o liberalismo. Pareço excessivo ? Mas o petroleo, desde a pesquisa até ao transporte mundial nao é o negocio dos mercados ?! Completamente independente do regime politico do pais onde o petroleo é extraido. Clarinho como a agua : se o pais produtor quer entrar no jogo, só pode sujeitar.-se ás regras do mercado.