17 nov, 2017
Desde o seu discurso de posse, em 26 de Setembro passado, o novo Presidente de Angola, João Lourenço (JL) dava sinais de querer demarcar-se de José Eduardo dos Santos (JES). Nesse discurso inaugural JL formulou críticas veladas a Isabel dos Santos, filha de JES e a mulher mais rica de África. Depois, foi substituindo alguns altos dirigentes nomeados pelo seu antecessor. Esta semana, ao exonerar Isabel dos Santos de CEO da Sonangol, o confronto de JL com JES tornou-se inegável.
Mas mantém-se muitas dúvidas sobre a situação na cúpula política, económica e militar de Angola. Há, mesmo, quem levante a possibilidade de estas medidas de JL terem sido concertadas com JES. É uma hipótese altamente improvável.
Também improvável é a ideia de que o novo presidente angolano querer genuinamente lutar contra o alto grau de corrupção que envolve as autoridades de Angola. As pessoas que JL nomeou para governador do banco central e para dirigir a Sonangol, por exemplo, não são propriamente conhecidas como militantes contra a corrupção. Naturalmente que investidores estrangeiros, de que Angola precisa, e organizações internacionais, como o FMI, de que Luanda também necessita, pressionam o combate à corrupção. Mas tais pressões não bastam para explicar o presente conflito aberto entre JL e o império político-económico da família dos Santos.
JES ainda é o presidente do MPLA. Então, adiantam alguns, JL visaria desfazer a confusão entre Estado e partido dominante, uma herança dos tempos comunistas de Angola. Talvez. E JL sabe que Isabel dos Santos é altamente impopular em Angola. Mas o essencial parece-me ser a relação de forças, nomeadamente militares, entre os próximos de JES e os adeptos de JL. Por isso só nos próximos tempos saberemos quem será o vencedor desta luta de facções.
Entretanto, no lado oriental de África, no Zimbabué, os militares intervieram para pôr fim ao longo “reinado” de Robert Mugabe, de 93 anos, e sobretudo para liquidar a possibilidade de ele vir a ser sucedido pela sua mulher Grace, 40 anos mais nova. Mugabe, que desgraçou a economia do seu país, esteve no poder 37 anos. Menos um do que JES em Angola.
Curiosamente, os militares golpistas negam ter realizado um golpe de Estado no Zimbabué. Talvez em Angola haja militares a ponderar algo semelhante. Esperemos que a paz se mantenha no território angolano. Já esperar democracia a sério parece demasiado ilusório.