Emissão Renascença | Ouvir Online
Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
A+ / A-

​América primeiro?

13 nov, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


O slogan de Trump “a América primeiro” está a transformar-se em América isolada.

Ontem, nas Filipinas, Trump encerrou o seu périplo asiático. Claro que a defesa dos direitos humanos não fez parte das mensagens que o presidente dos EUA foi deixando pelos vários países que visitou. Muito menos nas Filipinas, onde o presidente Rodrigo Duterte ordenou à polícia que atirasse a matar em suspeitos de tráfico de droga. No ano e meio que já leva de mandato Duterte terá promovido cerca de 12 mil execuções extrajudiciais. Mas Trump não se preocupa com esses pormenores e várias vezes elogiou Duterte.

O Estado de direito também não terá sido tema de conversa com Xi Jinping. Sabendo como Trump é susceptível à lisonja, os chineses receberam-no com todas as honras. Resultou: Trump, em público, só teve palavras de elogio a Xi Jinping. As alegadas falhas da China no comércio com os EUA (como, por exemplo, desvalorizar a sua moeda) foram, afinal, culpa dos antecessores de Trump, que não reagiram com suficiente energia.

Provavelmente Trump ignorou em Pequim a sua teoria de que as alterações climáticas não passam de uma invenção chinesa para prejudicar a competitividade dos EUA. Mas deveria ter reparado que a China se mantém no Acordo de Paris sobre o clima e que, tendo a Síria subscrito há dias esse acordo, o único país que está fora são os EUA.

Daí que, como observaram dois colunistas do Washington Post, o slogan de Trump “America first” (a América primeiro) está a transformar-se em América isolada. Os EUA de Trump abandonaram também a parceria comercial com os países do Pacífico, mas o Japão e o Canadá querem levar por diante essa parceria, que não inclui a China.

Trump surpreendeu os diplomatas quando, no Vietname, se ofereceu para mediar o conflito deste e de outros países da região com a China, que pretende alargar o seu controle no mar do Sul. É que a posição de Washington tem sido opor-se às pretensões chinesas.

Já não foi surpresa o tom amistoso com que Trump falou da Coreia do Norte e logo a seguir escreveu no Twitter insultos pesados e algo infantis dirigidos ao líder norte-coreano. É previsível a imprevisibilidade deste presidente.

Mas as palavras mais comentadas desta viagem asiática de Trump foram a propósito de um encontro informal com Putin no Vietname. O “czar” russo repetiu-lhe serem falsas as acusações de interferências da Rússia, via internet, nas eleições presidenciais americanas. Trump disse acreditar na sinceridade de Putin (o que lhe convém, por causa do processo de investigação em curso). Mas como os serviços secretos americanos têm a opinião contrária, Trump apressou-se a esclarecer que tinha confiança nesses serviços...

O que ressalta de tudo isto é que Trump não tem qualquer estratégia coerente para a Ásia. Vai mandando umas “bocas” no Twitter e depois logo se vê. Não espanta, assim, que a influência americana no mundo esteja a baixar perigosamente.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • Pedro Silva
    13 nov, 2017 Lisboa 08:52
    É inacreditável como alguém como Sarsfield Cabral escreve uma crónica sobre política internacional desta maneira. Se, de facto, a viagem que Trump fez à China e ao Vietname tivessem sido como este descreve, o Mundo estaria à beira de uma guerra nuclear. O encontro entre Putin e Trump no Vietname foi um sucesso. O próprio Trump diz ser capaz de resolver, em conjunto com a Rússia, os problemas na Síria, Coreia do Norte e Ucrânia. Os analistas e críticos dizem que Trump mostrou ser um homem de negócios, em vez de um presidente e sentem-se satisfeitos com as visitas que fez à China e a cimeira que participou no Vietname. Quanto a Sarsfield Cabral, seria melhor a Renascença procurar outra pessoa para descrever com mais realismo os assuntos internacionais. O que lemos nesta crónica não só é irrealista como também infantil. Nenhum escritor sério e experiente escreve frases como «Vai mandando umas “bocas” no Twitter...» Uma tristeza e talvez anúncio do fim esperado (e à vista) de Sarsfield no jornalismo.