13 nov, 2017
Ontem, nas Filipinas, Trump encerrou o seu périplo asiático. Claro que a defesa dos direitos humanos não fez parte das mensagens que o presidente dos EUA foi deixando pelos vários países que visitou. Muito menos nas Filipinas, onde o presidente Rodrigo Duterte ordenou à polícia que atirasse a matar em suspeitos de tráfico de droga. No ano e meio que já leva de mandato Duterte terá promovido cerca de 12 mil execuções extrajudiciais. Mas Trump não se preocupa com esses pormenores e várias vezes elogiou Duterte.
O Estado de direito também não terá sido tema de conversa com Xi Jinping. Sabendo como Trump é susceptível à lisonja, os chineses receberam-no com todas as honras. Resultou: Trump, em público, só teve palavras de elogio a Xi Jinping. As alegadas falhas da China no comércio com os EUA (como, por exemplo, desvalorizar a sua moeda) foram, afinal, culpa dos antecessores de Trump, que não reagiram com suficiente energia.
Provavelmente Trump ignorou em Pequim a sua teoria de que as alterações climáticas não passam de uma invenção chinesa para prejudicar a competitividade dos EUA. Mas deveria ter reparado que a China se mantém no Acordo de Paris sobre o clima e que, tendo a Síria subscrito há dias esse acordo, o único país que está fora são os EUA.
Daí que, como observaram dois colunistas do Washington Post, o slogan de Trump “America first” (a América primeiro) está a transformar-se em América isolada. Os EUA de Trump abandonaram também a parceria comercial com os países do Pacífico, mas o Japão e o Canadá querem levar por diante essa parceria, que não inclui a China.
Trump surpreendeu os diplomatas quando, no Vietname, se ofereceu para mediar o conflito deste e de outros países da região com a China, que pretende alargar o seu controle no mar do Sul. É que a posição de Washington tem sido opor-se às pretensões chinesas.
Já não foi surpresa o tom amistoso com que Trump falou da Coreia do Norte e logo a seguir escreveu no Twitter insultos pesados e algo infantis dirigidos ao líder norte-coreano. É previsível a imprevisibilidade deste presidente.
Mas as palavras mais comentadas desta viagem asiática de Trump foram a propósito de um encontro informal com Putin no Vietname. O “czar” russo repetiu-lhe serem falsas as acusações de interferências da Rússia, via internet, nas eleições presidenciais americanas. Trump disse acreditar na sinceridade de Putin (o que lhe convém, por causa do processo de investigação em curso). Mas como os serviços secretos americanos têm a opinião contrária, Trump apressou-se a esclarecer que tinha confiança nesses serviços...
O que ressalta de tudo isto é que Trump não tem qualquer estratégia coerente para a Ásia. Vai mandando umas “bocas” no Twitter e depois logo se vê. Não espanta, assim, que a influência americana no mundo esteja a baixar perigosamente.