Emissão Renascença | Ouvir Online
Luís Cabral
Opinião de Luís Cabral
A+ / A-

​Fome e vontade de comer

20 out, 2017 • Opinião de Luís Cabral


Portugal precisa de famílias no interior; e a Europa precisa de absorver milhões de refugiados (a situação acalmou um pouco relativamente ao ano passado, mas está longe de resolvida).

Não tenho acompanhado a situações dos incêndios florestais em Portugal e na Galiza. Estou certo de que a solução é complicada e demorada, e que múltiplos especialistas se têm debruçado sobre o tema.

Feito este prefácio, aqui vai a opinião não qualificado de um cidadão que vê o problema à distância. Em boa parte, a dificuldade do controle dos incêndios prende-se com a desertificação do interior português. A falta de urbanização — e, de forma mais geral, a falta de pessoas — tornam o controle e a monitorização mais difíceis.

Nos últimos anos, a União Europeia (UE) — e a Alemanha, de uma forma especial — tem-se batido com outra crise: os refugiados do Médio Oriente. Por mais robusta que a economia alemã seja, é difícil absorver o fluxo migratório dos refugiados que, com alguma razão, dão preferência ao país de Merkel.

Parece-me que estamos perante uma situação em que a fome se junta à vontade de comer. Portugal precisa de famílias no interior; e a Europa precisa de absorver milhões de refugiados (a situação acalmou um pouco relativamente ao ano passado, mas está longe de resolvida).

Uma possibilidade concreta seria o Estado português ou a UE (ou a própria Alemanha) comprarem terrenos no interior de Portugal e oferecê-los aos refugiados acolhidos na Europa. Uma condição de transferência do direito de propriedade seria a residência nos ditos terrenos por um período de tempo a determinar. O mecanismo seria acompanhado por um processo educativo que ajustasse os novos imigrantes à vida no interior.

Estou convencido de que isso implicaria o estabelecimento em Portugal de uma série de famílias que, noutras condições, prefeririam a Alemanha. A Europa teria muito a ganhar com um processo deste tipo; tanto assim, que não é impensável que conseguíssemos alguma compensação no processo: juntar a fome à vontade de comer, sendo conta paga por terceiros!

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • 23 out, 2017 22:01
    Deploro, por total desacordo !
  • MASQUEGRACINHA
    20 out, 2017 TERRADOMEIO 18:08
    Quando comecei a lê-lo, pensei "Boa! Vai descobrir a careca à Merkel!", supondo que fosse falar do benefício colateral que a Alemanha obtém da bondosa abertura de portas aos refugiados : um rápido incremento de população num país com gravíssimos problemas demográficos. Mas não, a ideia não era essa. Como suponho que sabe, uma das razões, talvez a principal razão, de os refugiados preferirem a Alemanha, é o facto de que, tal como toda a gente, preferirem viver num sítio onde encontrem pares, pessoas com idênticos hábitos, língua e restante bric-a-brac cultural - religião incluída. Ou seja, integrar-se num grupo de referência, onde seja mais fácil manter ou criar laços familiares e sociais. Por mais acolhedor e tolerante que Portugal seja, mesmo em relação à Alemanha, não existem por cá esse tipo de grupos de referência, pelo menos com dimensão relevante. Quanto às soluções que apresenta, as "condições", o "mecanismo", o "processo educativo", o "juntar a fome com a vontade de comer", são repulsivas - peço desde já desculpa, mas não me ocorre outra palavra. Parecem coisas de péssima memória, usar desgraçados indefesos para repovoar territórios, com "condições" e "mecanismos" e "processos educativos" à mistura, ou senão acontece-lhes o quê? Prefiro pensar que nem se apercebe do que escreveu.
  • João Lopes
    20 out, 2017 Viseu 12:29
    Análise interessante e original!