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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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O futuro das “low cost”

14 out, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


As “low cost” não vão desaparecer. Mas algumas não aguentarão a feroz concorrência no sector.

Nos últimos meses sugiram notícias negativas sobre companhias aéreas “low cost”. A maior companhia do mundo em número de passageiros transportados, a Ryanair, cancelou milhares de voos em Setembro. E anunciou que até Março irá suprimir vinte mil voos, dos 800 mil previstos. Convém lembrar que a Ryanair tem como um dos seus trunfos, além do preço baixo dos bilhetes, a pontualidade nas partidas e chegadas.

Depois, faliu a britânica Monarch, empresa quase cinquentenária, mas que só recentemente se tinha virado para o sector “low cost”. Duas outras empresas de aviação, fora desse sector, faliram também no último semestre – a Air Berlin e a Alitalia.

Que se passa na aviação comercial e em particular nas “low cost”? É um assunto importante para Portugal. As “low cost” tiveram e têm grande influência no crescimento mundial do turismo. Foram e são decisivas para o “boom” turístico em Portugal, principalmente no Porto – onde há uma ou duas décadas se viam poucos turistas e hoje a cidade está cheia deles.

O mercado europeu

Curiosamente, as “low cost” nasceram há 30 anos nos Estados Unidos, com várias companhias a fazerem promoções – por exemplo, voos a metade do preço. Digo curiosamente porque, hoje, é na Europa que existem mais “low cost”.

Nos EUA há agora cerca de cem empresas “low cost”; na Europa são 217. Nos EUA as seis maiores companhias fazem 90% dos voos domésticos; na Europa são apenas 43% - as “low cost” fazem o resto. Acontece, ainda, que várias companhias europeias de bandeira têm “low cost” associadas; além disso, elas próprias começam a adoptar práticas das “low cost”, como fazer pagar pela bagagem de porão, independentemente do peso.

As “low cost” conquistaram passageiros que antes viajavam de autocarro ou de comboio, apostando nas distâncias curtas, entre cidades utilizando aeroportos secundários. Mas cada vez mais vão alargando o seu raio de acção, incluindo voos intercontinentais. O seu alvo já não são apenas turistas, mas também e de forma crescente, homens de negócios.

As “low cost vieram para ficar

O mercado da aviação comercial na Europa é o maior e o mais fragmentado do mundo. A competição é fortíssima – por isso algumas empresas não aguentam financeiramente, num sector onde o segredo é cortar custos.

A Ryanair sofreu um abalo, mas tem condições para se manter operacional, eliminando algumas linhas menos rendíveis. Um dos seus problemas, ainda não solucionado, é o conflito com os pilotos. Entre 140 e 180 pilotos saíram da Ryanair para uma jovem e muito competitiva empresa norueguesa “low cost”, a Norwegian. Esta empresa entrou nos voos de longa distância e nos voos sem escala – as escalas custam dinheiro.

A concorrência por tripulantes e em particular por pilotos é, assim, feroz. Há alguma escassez mundial de tripulantes qualificados. As grandes companhias do Dubai, dos Emiratos e de outros países daquela zona pagam bem aos tripulantes e nem sempre as “low cost” conseguem competir.

Naturalmente que o petróleo barato ajudou as “low cost” a praticarem preços muito baixos e assim a alargarem a sua clientela. O que, por sua vez, as levou a comprarem mais aviões. Um pequeno acto ou uma decisão de optimismo exagerado pode pagar-se caro – por exemplo, se acontecer uma súbita subida do preço do petróleo (improvável a médio prazo). Mas em 2016 os voos “low cost” aumentaram 16% na Europa. Nada indica que não continuem a crescer, ainda que a ritmo mais baixo.

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