13 out, 2017
Como hoje quase toda a gente sabe, as desigualdades de rendimentos, dentro dos países, estão a agravar-se desde há algumas décadas. Sobretudo nos EUA, o capitalismo industrial levou a que milhões de “proletários” transitassem para a classe média. Mas essa democratização económica parou e a tendência presente é de sentido contrário.
O mais importante motivo para combater essa tendência perversa é de ordem ética. Uma sociedade decente não pode consentir que uma pequena minoria de bilionários aumente a sua enorme riqueza, enquanto a grande maioria da população estagna.
Mas também há razões políticas. As crescentes desigualdades minam a coesão social e podem dar origem a conflitos violentos.
Há ainda motivos económicos para combater as desigualdades. O próprio FMI o reconhece agora, através de um relatório do departamento chefiado por Vítor Gaspar. Aí se lê que mais desigualdade pode acabar por enfraquecer a economia. Assim, o FMI propõe acentuar a progressividade dos impostos sobre o rendimento (IRS) e aumentar as transferências para a população pobre.
Parece que a proposta de Orçamento para 2018 vai nessa linha. Ainda bem, porque Portugal, embora tenha atenuado as desigualdades pela via orçamental (impostos e apoios sociais), é muito desigual. Convém, no entanto, lembrar que quase metade das famílias portuguesas não paga IRS, por ser pobre; aí valem apenas os apoios sociais.
A principal razão económica para combater as desigualdades é esta: se apenas uma pequena minoria de ricos melhora os seus rendimentos, a procura interna não aumenta, ou aumenta pouco, pois essa minoria quase nada mais irá consumir – já tem tudo. É um travão ao crescimento da economia.