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Francisco Sarsfield Cabral
Opinião de Francisco Sarsfield Cabral
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​O FMI e as desigualdades

13 out, 2017 • Opinião de Francisco Sarsfield Cabral


Além das razões morais e políticas para combater as desigualdades, há motivos económicos.

Como hoje quase toda a gente sabe, as desigualdades de rendimentos, dentro dos países, estão a agravar-se desde há algumas décadas. Sobretudo nos EUA, o capitalismo industrial levou a que milhões de “proletários” transitassem para a classe média. Mas essa democratização económica parou e a tendência presente é de sentido contrário.

O mais importante motivo para combater essa tendência perversa é de ordem ética. Uma sociedade decente não pode consentir que uma pequena minoria de bilionários aumente a sua enorme riqueza, enquanto a grande maioria da população estagna.

Mas também há razões políticas. As crescentes desigualdades minam a coesão social e podem dar origem a conflitos violentos.

Há ainda motivos económicos para combater as desigualdades. O próprio FMI o reconhece agora, através de um relatório do departamento chefiado por Vítor Gaspar. Aí se lê que mais desigualdade pode acabar por enfraquecer a economia. Assim, o FMI propõe acentuar a progressividade dos impostos sobre o rendimento (IRS) e aumentar as transferências para a população pobre.

Parece que a proposta de Orçamento para 2018 vai nessa linha. Ainda bem, porque Portugal, embora tenha atenuado as desigualdades pela via orçamental (impostos e apoios sociais), é muito desigual. Convém, no entanto, lembrar que quase metade das famílias portuguesas não paga IRS, por ser pobre; aí valem apenas os apoios sociais.

A principal razão económica para combater as desigualdades é esta: se apenas uma pequena minoria de ricos melhora os seus rendimentos, a procura interna não aumenta, ou aumenta pouco, pois essa minoria quase nada mais irá consumir – já tem tudo. É um travão ao crescimento da economia.

Comentários
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  • Alexandre
    13 out, 2017 Lisboa 22:28
    Há ainda motivos económicos para combater as desigualdades, tal como ter aumentado o preço dos transportes para valores anormais (no tempo do ministro da economia, Álvaro Santos Pereira); ou aumentar as rendas (como fez Assunção Cristas, hoje convertida a heroína das autárquicas). De facto, existem bons motivos económicos para o Dr. Sarsfield Cabral estar calado.
  • Ricardo Martins
    13 out, 2017 Lisboa 14:58
    Quase comovente não fosse este escriba ter sido um fanático defensor da política da troíka , que reduziu salários, pensões e apoios sociais sempre com o apoio do Dr. Cabral , que a semelhança do seu ídolo apoiava e aplaudia de pé a política dos pafiosos.
  • gtlbgffrwsq
    13 out, 2017 vdfgyhytr 14:06
    Caro Dr. Francisco Sarsfield Cabral, a este propósito, hoje fiquei surpreendido com a afirmação numa entrevista ao jornal Publico o Dr. Daniel Bessa tentou convencer os empresários portugueses a distribuir parte do aumento dos lucros das empresas pelos trabalhadores e obteve um não como resposta, ficando desanimado. Diz o Dr. Daniel Bessa - e muito bem - que não pode haver crescimento da riqueza nas empresas e depois não haver distribuição parcial dos lucros pelos trabalhadores. Tudo isto é triste e dá que pensar!